Eu não merecia isso.

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O detetive espalhou todas as fotos na minha mesa e voltou a sentar na cadeira.

Encarei cada foto em silêncio, sentindo a raiva e a decepção se misturarem e crescerem dentro de mim.

Em uma das fotos, Caroline saía do trabalho e ia em direção a um carro vermelho que eu já havia visto parado na rua da nossa casa, era nítido que havia alguém dentro dele e pelo porte físico com certeza era um homem.
Na foto ao lado, o carro entrava em um motel de quinta, afastado do centro da cidade.
Em outra foto, minha mulher (ou ex-mulher) abraçava um moreno que eu não conhecia.

Eu poderia pensar que eles eram amigos, afinal eu sempre confiei nela, mas a mão dele apertando a sua bunda denunciava que não era apenas amizade que rolava entre eles.

— Sinto muito. — a voz do detetive me tirou do meu transe.

Só percebi que tinha fechado as mãos com força quando elas começaram a doer. Abri as mãos e passei uma delas pelo cabelo.

— Fez um ótimo trabalho. — admiti ainda encarando as fotos da minha esposa me traindo.

— Algumas fontes seguras disseram que faz alguns meses que eles se conhecem. — ele falou e eu fechei os olhos, inspirando e expirando devagar.

Abri os olhos e peguei o envelope com a outra parte do seu pagamento e o entreguei.

Nunca imaginei que precisaria contratar um detetive, mas faz algumas semanas que eu tenho sentido Caroline distante e as provas da minha desconfiança estão espalhadas na minha mesa, esfregando na minha cara que eu fui traído.

— Pode ir. — fui firme e espalmei minhas mãos na mesa, gravando cada detalhe das malditas fotos.

— Se voc... — ele começou a falar, mas eu o interrompi.

— Pode ir. — repeti minha frase, com mais raiva na voz, ouvindo ele se levantar e sair da minha sala.

Cinco anos de casamento jogados fora por causa de uma traição.

Trinquei o maxilar e passei um dos braços pela mesa, jogando todas as fotos no chão. Meu computador e alguns documentos tiveram o mesmo destino.
Passei as duas mãos pelo cabelo, sentindo meus olhos marejarem e olhei na direção do porta retrato que ficava ao lado do meu computador.

Uma foto do dia do nosso casamento, um dos dias mais felizes da minha vida.

Sem pensar muito, o arremessei contra a parede perto da porta, fazendo o vidro se partir em vários pedaços e a foto cair no chão.

Ouvi alguém bater na porta e ela ser aberta logo em seguida. Afrouxei minha gravata encarando Lígia, minha secretária, me olhando boquiaberta e visivelmente assustada.

— O que você quer?! — vociferei e ela arregalou ainda mais os olhos.

Peguei algumas das fotos que estavam espalhadas no chão.

— Vim ver se estava tudo bem. — ela sussurrou e eu neguei com a cabeça, pegando minha carteira e minhas chaves.

— Cancele todas as minhas reuniões, eu provavelmente não volto mais hoje. — fui curto e grosso, e ela assentiu, saindo do meu caminho.

Desci pelas escadas até o estacionamento, porque a última coisa que eu queria fazer agora era esperar o elevador.

Eu só precisava chegar em casa e confrontar minha futura ex-mulher.

Enquanto eu dirigia até a minha casa, um filme passou pela minha cabeça.
Cenas do dia em que eu conheci Caroline há sete anos atrás, o dia em que eu a pedi em casamento, da nossa linda lua de mel na Grécia, dos planos de ter filhos e comprarmos uma casa maior.

Pisei no acelerador com mais força e apertei o volante, vendo os nós dos meus dedos ficarem brancos.

Eu nunca havia experimentado a sensação de ser traído, era bem mais que desumano.

Como uma pessoa que você confia e ama pode te trair desse jeito?

Alguns minutos, que pareceram horas, depois, estacionei o carro em frente a nossa casa e desci, não me preocupando em tirar as chaves ou colocar o carro na garagem.

Abri a porta da sala e dobrei as mangas da minha camisa, até os cotovelos.

— Caroline! — gritei entrando na cozinha.

Ela mexia no seu celular e não escondeu sua surpresa ao me ver.

— O que faz em casa tão cedo? — ela perguntou guardando o celular no bolso e eu semicerrei os olhos na sua direção.

Há alguns dias eu provavelmente ignoraria o fato, pensando que ela pudesse estar falando com sua mãe ou alguma amiga da faculdade, mas agora a única coisa que eu conseguia pensar é que ela provavelmente estava falando com o seu amante.

— Eu precisava te mostrar algumas fotos. — falei e ela franziu as sobrancelhas.

Of songsOnde histórias criam vida. Descubra agora