Com a mão trêmula e o coração no ritmo do carnaval, paro a maçaneta a meio giro entre a dúvida e o anseio. Num ímpeto de coragem abro a porta de uma só vez, raios de sol veem de encontro a mim, vejo grama e muitas arvores. Olho uma última vez para casa, onde ainda é madrugada e dou o primeiro passo, sentindo a grama macia sob meus pés, e depois outro passando de vez pela porta e entrando na floresta.
Pequenos raios de sol atravessam espremidos pelas copas das arvores cintilando alguns pontos no gramado, enquanto do outro lado da porta ainda é madrugada. Rodando no mesmo lugar, olho em volta maravilhada sem me atentar a porta que já não está mais ali.
Enquanto caminho maravilhada, me perco na mais perfeita melodia já entoada. O vento balançando as arvores, os pássaros a cantar sincrônicos, com exceção de alguns um pouco aquém a canção. Parece até que estou num conto de fadas.
Alguns animaizinhos me olham curiosos enquanto outros parecem nem notar uma estranha na floresta. Não temem minha presença assim como não temo a deles.
Tudo aqui reflete beleza, harmonia e paz. Se utopia existe, acabei de encontrá-la...
Caminho já a algum tempo, não encontrei uma pessoa se quer, talvez não haja, o que explicaria tanta paz e arvores.
Sempre pensei no impossível como aquilo que ainda não foi descoberto. E apesar da enorme chance de tudo isso ser apenas um sonho, agora enquanto corro, sentindo meu cabelo voar e o vento banhar minha face, prefiro pensar que acabo de o descobrir.
Instintivamente levo as mãos para frente protegendo meu rosto, enquanto meu corpo despenca, assim, sem aviso prévio. Num instante estou correndo e no outro com a cara a centímetros do chão. Levanto-me olhando para a raiz na qual tropecei, graças a calça jeans não ralei o joelho, infelizmente não posso dizer o mesmo de meus cotovelos e mãos.
— Sem dúvidas não estou mesmo sonhando! — Concluo enquanto sinto as palmas das mãos arderem.
Bato a terra e grama de minha roupa quando finalmente vejo alguém, uma jovem sorridente de cabelos escuros encaracolados, com uma cesta de piquenique no braço. Observo as ondas que sua capa vermelha faz ao vento enquanto caminha saltitante. Quando do nada surge uma figura de roupas sujas e esfarrapadas que passa por ela tomando sua cesta.
— E lá se foi a utopia. — Digo a mim mesma enquanto o homem corre em minha direção.
— Hey, devolva isto. Ladrão! — Grita a moça começando a correr.
Está tão preocupado com a moça atrás dele que só percebe minha presença tarde demais e não consegue parar antes de tropeçar no pé que coloquei em sua frente.
O homem capota e a cesta voa de sua mão. Ele me olha de baixo para cima numa mistura de susto e raiva, a moça nos alcança e o encara séria. Ele se levanta rapidamente e sai correndo aos tropeços enquanto começamos a rir.
— Obrigada. Eu não teria o alcançado — Diz enquanto recolhe sua cesta do chão.
— Conhece ele?
— É só um ladrãozinho. — Ela diz num sorriso contagiante. — Meu nome é Ruby, e o seu?
— Amélia. Que lugar é este? — Pergunto sorrindo também.
— A floresta negra — encaro-a esperando mais — próximo a vila das flores — completa como se isso explicasse tudo.
— E onde exatamente fica isto?
— Está brincando né? — encaro-a confusa. — No reino de Springsun! — diz pausadamente como quem diz o óbvio.
— Era para isso fazer algum sentido?
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As Aventuras de Uma Forasteira (DEGUSTAÇÃO)
FantasyApós atravessar uma porta mágica, Amélia se vê perdida em outro mundo - A Floresta Encantada - mágica, misteriosa e cheias de aventuras. Com a ajuda de excêntricos personagens de contos de fada, ela enfrentará grandes perigos em um caminho repleto d...