10 de janeiro, a bordo do USS Freeport
Em algum lugar do Golfo de Aden
Há dez dias, tudo pelo que ansiavam era uma boa noite de sono.
Agora, tudo o que querem é estar de volta à ação.
Acostumaram-se à mobilização rápida; a serem transportados para todas as partes, de qualquer jeito, participando de missões em andamento a serviço do Brasil, da ONU, e da OTAN. Forneciam apoio operacional e tático junto às forças-tarefas internacionais, nas mais diferentes zonas de conflito: Síria, Nigéria, Somália, Paquistão, Afeganistão, Iêmen e agora, estavam de volta ao Chifre da África.
Romano não podia negar que os confortos da civilização, mesmo que a bordo de um contratorpedeiro, vieram em boa hora. Ainda estavam se recuperando do inferno que foi a última missão, no Quênia - infiltração e resgate de um grupo de missionários brasileiros, seguidos de uma fuga desesperada pela selva, com os soldados de Amin Q-Dad, o grande Kikuyu, em seus calcanhares. Eles literalmente caíram de pára-quedas no conflito entre os principais grupos étnicos do país (os Luos e os Kikuyus). Tiveram de atravessar as matas fechadas desde Nairobi a fim de alcançarem o ponto de extração, em Mombaça, no litoral. Sim, foi alucinante, mas valeu à pena. Vinte e cinco almas foram salvas por causa de uma missão muito bem planejada e coordenada com um pequeno contingente operacional alocado na belanave US. Kicker.
Depois disso, os operadores brasileiros tiveram cinco dias de descanso até que os celulares começassem a vibrar; e mais cinco dias de prontidão a bordo do contratorpedeiro USS Freeport - o navio de guerra americano. Dias, durante os quais, eles passaram se apropriando das informações que chegavam sobre a força-tarefa que se formou para atuar naquele caso, em específico. Dias, durante os quais, eles estudaram mapas, imagens de drones e trocaram informações com as outras equipes, embora nada de certo ainda houvesse. Nenhum alvo ou objetivo estavam definidos pela cúpula da Marinha. Os experientes militares mobilizados apenas deduziam o que estava por acontecer, tendo em vista o carnaval que se publicava na mídia. "Navio turístico é sequestrado por piratas somalis - o destino dos passageiros e da tripulação é incerto". Ou: "Piratas Somalis pedem elevada soma de resgate por cada turista capturado a bordo do DeWitt".
As famílias estavam desesperadas e os governos de seus países estudavam as possibilidades em jogo, considerando os contornos políticos que o caso rapidamente tomava, devido à opinião pública. Tudo o que Romano e seus homens queriam, no momento, era receber a missão definida e entrar em ação.
Durante os cinco dias a bordo do contratorpedeiro, eles acompanharam os AAR com avidez. Os AAR são relatórios e resumos postados na comunidade militar envolvida direta ou indiretamente nas ações. São utilizados para informar, mobilizar e também estudar o desempenho dos militares - analisando os resultados obtidos após a ação.
No caso presente, os AAR serviam para que os militares ficassem alertas para as missões em andamento e/ou possíveis novas missões. Durante o período de prontidão, homens como Romano planejavam manobras para os incidentes que lhes chegavam das zonas de conflito. Contudo, no final das contas, era a Inteligência - e em última instância, a cúpula - que determinava as missões que valiam o investimento.
Então, finalmente, ele recebeu o chamado da Marinha do Brasil. O contra-almirante Carvalho Pinto iria atuar como coordenador local da força-tarefa. (Ou líder de companhia, como alguns o chamavam). Romano, o líder de equipe, deveria estar pronto para receber as instruções e executá-las.
Por tudo o que assistiu na internet e na televisão, Romano estava certo de que a missão que estavam prestes a receber valia muitos investimentos e interesses para demandar a mobilização de tantos especialistas. Havia mais coisas que a imprensa não tinha conseguido cavar e que não estava disponível nos AAR. Ele podia apostar nisso. Caso contrário, não seria necessária uma força-tarefa com três das melhores equipes militares do mundo. Apenas uma equipe bastaria...
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