Capítulo 1

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{Há dez anos...}

  — Então nós vamos levá-lo? – Pergunto me referindo ao minúsculo cachorro vira-lata que encontramos.

   A abraço por trás e deixo selares na extensão de seu pescoço enquanto a vejo analisar os pequenos ferimentos do nosso novo amiguinho. Quer dizer, do cachorro que Katherine insiste em chamar de amiguinho por não conseguir decidir um nome quando está sob pressão.

— Sim, senhorita Turner, nós vamos levar o Corbin. – Me responde tirando meus braços de seu rodeio, e aparentemente decidindo o nome do cachorro, dou um passo para o lado me afastando e coloco minhas mãos no bolso do meu moletom com um rosto totalmente frustrado pela sua atitude em me afastar.

  Eu odeio isso, odeio ter que me esconder do mundo, fingir não sentir, fingir não amar, não poder demonstrar afeto, ser impedida de panfletar o amor que sinto por ela por cada uma dessas ruas, proibida de toca-la, beija-la, abraçá-la com o devido sentimento. Eu nunca fui alguém que consegue esconder as coisas por muito tempo, nunca guardei o que sinto, e sinceramente não sei até quando serei capaz de suportar isso, porque numa boa, não é lá a coisa mais fácil do mundo.

— Senhorita Turner? – Respondo-a ainda olhando para baixo. Realmente não consigo esconder minhas reações. — Eu não sou uma Turner. – Completo em um tom mais cortante do que deveria.

— Mas vai ser uma logo. – Me retorna em tom confuso como se estivesse tentando me analisar e saber exatamente o que me fez ficar assim. — Não é? – Diz segurando minhas duas mãos enquanto me olha fixamente.

— Talvez não, Katherine. –Respondo ríspida desentrelaçando nossos dedos, me abaixo para voltar minha atenção ao cachorro e não acabar desencadeando uma briga.

— Talvez não? – Ela me olha triste. — O que está acontecendo com você, Ayla? Se não planeja um futuro com quem está, por que continua aqui? – Começa a ficar irritada.

— Não me diga coisas em tons cortantes como se eu tivesse começado tudo isso. Você tem me passado nada em confiança há tempos e sabe disso. — Me levanto e volto a olhá-la, percebendo que a minha ideia de evitar uma briga não daria lá muito certo.

— Que porra, Ayla Campbell! Do que você está falando? — Ela dá um passo para frente e tenta segurar a minha mão e me fazer olhar em seus olhos. A recuso. — Ei, você é a minha Ayla, desde sempre, eu te amo com tudo de mim, o que te faz desacreditar disso, meu amor?

— E-eu... Não me chama assim agora, você não tem agido como se me amasse. — Retiro suas mãos de mim e me sento no chão, tentando esconder meus olhos que já lacrimejavam.

— Eu não estou entendendo você, merda. Me fala logo o que te incomoda. Como pretende resolver tudo isso se não disser? — Comenta em um fio de voz, quase podendo se considerar triste, e se senta também.

— Toda vez que quero tento te beijar, você me afasta; sempre que preciso do seu abraço, ele é dado às escondidas; e eu nem ao menos lembro qual foi a última vez que a gente se tocou sexualmente, Katherine. Você tem fugido de mim como uma louca, está tão fodidamente distante e isso está doendo tanto. — Sinto uma lágrima quente escorrer e me apresso em tirá-la do meu rosto. — Acho que estou te perdendo e... tenho tanto medo disso, mas tanto medo! Perder você é perder tudo aquilo que chamo de estabilidade. Por que raios nós nos tornamos isso?

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