Tempo Perdido

Capítulo 3

{Dias atuais...}

— Tem certeza que está tudo bem eu dormir aqui no seu quarto por hoje? — Digo quebrando o silêncio que se instalou desde que subimos, após o jantar turbulento que tivemos.

— Óbvio, quero que fique, prometi te dizer tudo o que quiser saber, certo? — Concordei de imediato. — Todavia, se preferir ficar no seu quarto desde hoje para descansar, você quem sabe.

— Não, algo me diz que vou precisar do seu abraço essa noite, Lau! — Ela sorri pra mim e sacode a cabeça, me olhando compreensiva, em seguida se joga na cama e eu faço o mesmo, ambas se sentam com as pernas em “borboletinha”, sabendo assim que agora é o momento de começar a falar.  — E então? Ela realmente morreu?

— Lala, infelizmente foi pior que isso, ela foi assassinada. E sim, isso é terrível demais, mas ninguém sabe quem é o assassino dela e muito menos o porquê de tudo isso. Ela era uma pessoa boa, cuidava da família dela e amava a profissão que tinha, você se lembra bem como ela era, e de repente... tudo se foi por água abaixo. — Outra surpresa no dia e enquanto Laura falava eu concluí que na próxima, eu acabaria sofrendo um infarto.

  Minhas mãos tremeram e eu senti lágrimas quentes escorrerem dos meus olhos, existia um nó na minha garganta, Alexia Turner estava morta, a mãe de Katherine estava morta, e eu só conseguia pensar em ir cuidar dela, dizer que ela não está sozinha e que nem nunca esteve. Pela primeira vez em muito tempo, me senti culpada de novo por não estar ao lado dela, mesmo depois de dez anos, Katherine ainda era uma chama inegável dentro de mim.

— Há quanto tempo, Lau? — Questionei e deitei minha cabeça nas coxas de Laura, ela sabia como me deixar calma, e assim fez, acariciando meus fios de cabelo mais uma vez. — Como ela se sentiu? O que aconteceu depois?

— Aconteceu há dois anos, Lala. — Disse com uma voz falhada. Apesar de qualquer empecilho que Alexia tenha sido em meu relacionamento com Katherine, toda a família Campbell a adorava e está aí o motivo pelo qual todos ficaram baqueados, Alexia foi assassinada e essas palavras ainda não faziam sentido algum pra mim.

  — Katherine se sentiu muito mal, é óbvio. Alexia morreu praticamente três anos após Katherine se graduar na faculdade de medicina, ela tinha escolhido seguir os passos da mãe, queria se especializar em cardiologia, todas aquelas coisas loucas com corações e quase cadáveres abertos na mesa de cirurgia que Alexia mexia e sentia que era a profissão dos sonhos. — Laura continuou e eu só sabia chorar e chorar.

  Era fascinante a paixão que a Alexia tinha em viver e continuar viva sempre, para seguir sua vocação, salvar outras vidas.
  É inadmissível que pessoas boas e competentes como Alexia tenham um fim tão trágico. Mal posso imaginar a dor que sua única filha sentiu ao saber de sua morte, só sei que mesmo que pudesse, não desejaria tal dor a ninguém, muito menos à Katherine.

— O sonho de Alexia era ter Katherine trabalhando ao lado dela, elas seriam uma dupla e tanto e isso empolgava Katherine... — Laura disse dando continuidade à história, que naquela altura do campeonato já tinha se tornado triste o suficiente a ponto de me colocar em questionamento sobre ouvir até o final ou não, por fim, preferi que continuasse.

— Foi quando tudo aconteceu, no final da tarde, Katherine tinha acabado de chegar de um turno, estava sendo residente no hospital central, e mesmo que estivesse cansada, decidiu colocar Corbin em sua coleira e fazer a caminhada deles. — Acabei por sorrir triste ao lembrar de Corbin, um sentimento de saudade repentino bateu como um louco.

— Quer dizer que ela nunca perdeu esse hábito? Ela caminha com ele a tarde desde que tínhamos quatorze anos... — Perguntei retoricamente, mas ainda assim Laura sibilou um “sim” com os lábios. Parei de falar e deixei, mais uma vez, que ela continuasse.