{Dias atuais}
— Lalaaaaaaa!! — Ouço então, assim que passo pela porta da sala, uma voz fina gritando meu apelido como uma louca seguida de passos apressados descendo a escada. — Você veioooo!
— Sim, princesinha, eu prometi que viria logo, huh? — Digo rindo de sua afobação e a abraço apertado. — Mas como você cresceu, Cecília! Aonde está a minha criancinha? — Pergunto e a desço do meu colo, porém a mesma seguiu amarrando seus braços em minha cintura.
— Você, viu, Lala? Agora eu sou uma mocinha grande e uma excelente aluna também. — Ela diz isso e coloca a mão na cintura se exibindo, o que me faz rir instantaneamente. — MAMÃE, CONTA PARA ELA QUE EU TIREI UM 10 NA AULA DA TIA REGINA.
— Ei, não grite, mocinha. Eu estou bem aqui! — Diz tia Mary aparecendo logo atrás de Cecília, fazendo a amável criança dar um pulo. — Ayla, meu amor, você chegou!
O abraço que se seguiu depois dessa frase esquentou o meu coração de forma indescritível, era o mesmo que abraçar Pietra, minha mãe, e eu sabia que precisaria daquele abraço muitas vezes quando não pudesse estar ao lado da Sra. Campbell.
Deixar os membros do meu núcleo familiar para trás não foi nada fácil, mas deixar a minha mãe especificamente, foi uma das decisões mais difíceis que eu tomei em toda a minha vida, porque no final de cada tempestade, ela é quem está lá por mim, é o abraço dela que me acolhe sempre, os conselhos da mesma foram os que me deram ânimo para continuar vivendo depois de toda a decepção de dez anos atrás e pensar que posso acabar me quebrando de novo, mas que dessa vez ela está distante demais para estar aqui por mim, me mata e me traz medo.
Ela está tão longe, e eu a amo tanto, nunca vou poder pagar tudo o que aquela mulher fez por mim, mesmo antes do meu nascimento. Agora, sendo abraçada por tia Mary, me sinto em casa o suficiente para chorar por saudade de Pietra e felicidade por ter Mary ao meu lado de novo.
— Cheguei, titia! — Disse chorando pelo turbilhão de emoções que estão me acompanhando desde que entrei naquele avião, e a aperto em meu abraço. — Eu senti tanto a sua falta!
— Você não faz ideia da falta que faz aqui, Aylinha! — Se afasta para depositar um beijo em minha testa, e por um lapso a percebo chorar também. — Agora chega, não vamos borrar nossas maquiagens, mocinha.
— Ai, mamãe, que vaidade é essa? Ayla esteve anos sem entrar nessa casa. Vamos chorar de felicidade agora porque daqui poucos dias estaremos chorando de tristeza por sermos obrigadas a conviver com essa bagunceira. — Laura se pronunciou, sendo inconveniente, como sempre.
— Laura, você tem dois segundos para correr! — Disse com um olhar mortal e levantei meus dedos, começando a contagem. Laura correu como se sua vida dependesse disso, e eu subi as escadas correndo atrás dela como se fosse matá-la, deixando então Tia Mary e a Pequena Cecília rindo até perder o ar pela imensa sala de estar.
A tarde se resumiu em uma imensa briga de travesseiros contra Laura, um banho quente e vários abraços de boas vindas dados a mim de cada pessoa que entrou na casa. Todos estavam ali, me atualizaram de cada um dos assuntos pendentes, como por exemplo, a maneira que os negócios na empresa de meu pai estavam dando muito certo, empresa essa que ficou sob a supervisão de Michael Albuquerque Campbell, marido de Tia Mary, e pai de seus três filhos: Laura, Johan e Cecília.
— Me fala, Johan. Há quanto tempo você está com o seu misterioso namorado? — Pergunto intrometida, porém tendo intimidade suficiente para perguntas, digamos, invasivas. — Já o trouxe aqui?
Essa foi uma das novidades. Assim que sentamos na mesa de jantar, me explicaram sobre Johan ter contado sobre sua sexualidade para a família há meses atrás, e apesar de nossa família nunca ter me discriminado ou algo assim, era bom não me sentir mais tão sozinha nesse barco. Ele me contou que está perdidamente apaixonado por seu namorado e que, na hora certa, eu vou saber tudo sobre ele, ainda não entendi exatamente o porquê de todo esse mistério feito pela minha família sobre o namorado de Johan, mas vou descobrir.
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Tempo Perdido
Romance"Nem todo tempo perdido é tempo a ser recuperado, mas o nosso é, e nada mais importa."