Capítulo 1

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Ah o primeiro dia de volta em Seattle. Esse a gente nunca esquece. Ainda mais quando se passa tanto tempo fora do seu ambiente natural, que, no meu caso, é o hospital onde trabalho. Passei exatos 11 meses longe, em uma espécie de férias premium pós término (que foi um dos motivos por ter me afastado tanto do meu trabalho como cirurgiã em um dos complexos hospitalares mais renomados da cidade), e resolvi voltar. Agora com um novo pensamento e uma nova atitude, algo bem diferente de quando me ausentei.

Primeiro: voltar a ter um círculo de amizade como tinha antes do meu relacionamento. Isso foi severamente afetado quando deixei Nova York, onde Mary e Jasper meus melhores amigos, moram. Tudo por causa de um amor cego e fictício, que me tirou a razão, me fez agir com uma emoção doentia, e colocou minha alto-independência em último plano.

Segundo: adotar uma rotina minha. Nada de me forçar a comparecer nos lugares, por causa disso e daquilo, ou dos "n" motivos que os outros inventavam para me tirar de casa. Eu quero pensar mais no meu bem estar, como antes de Tom aparecer. A terapia com certeza vai entrar nessa lista.

E terceiro, porém não menos importante: não deixar o pessoal influenciar o profissional, do mesmo jeitinho que eu era no início do meu namoro. Mesmo estando tão perto de Tom.

Ele e eu trabalhamos no mesmo hospital a cerca de 3 anos, e isso dificilmente vai mudar. Além disso me apaixonei por essa cidade e hospital. Desistir por causa dele seria idiota da minha parte. Então aceitar a existência e necessidade da nossa relação profissional vai tornar tudo mais fácil. É o que eu espero.

O que me leva ao aqui e agora.

Estou nesse banheiro a quanto tempo mesmo? Olho o relógio no pulso esquerdo, e...

— Puta merda! Estou atrasada — grunhi. E em disparada começo a correr pelos corredores do hospital.

Não acredito que me atrasei para a minha cirurgia de retorno. E bem na que ele estaria.

Não tenho notícias dele desde que o peguei com a enfermeira, no sofá do nosso apartamento. No dia ele até tentou se justificar, porém eu tinha acabado de sair de um plantão, e estava exausta demais para discutir. Simplesmente fechei a porta na cara dele e fui dormir. E no dia seguinte após uma geral de desintoxicação emocional (o que incluiu jogar o sofá fora), peguei uma licença de dois meses. Quando ela expirou, meu querido chefinho me ofereceu uma vaga para representar o hospital em várias convenções pelo mundo. Fui de um polo ao outro também emocionalmente enquanto absorvia. No final de tudo, fiquei feliz por ter rompido com Tom. A relação era desgastante e eu só a empurrava com a barriga porque era mais fácil agir assim. O ruim é o fato dele ter me "traído", ao invés de dizer o que queria de verdade. E pior ainda é que a tal enfermeira trabalha no hospital também.

Entro na sala preparatória, e lavo os braços cuidadosamente, enquanto observo os instrumentalistas arrumarem toda a sala.

Tom já está aqui, e pude notar que ele já tinha me visto assim que cheguei ao hospital hoje mais cedo. Pude notar ele me acompanhando com os cantos dos olhos. É surpreendente o fato de até agora ter se mantido em silêncio. Durante os meses fora, não houve sequer um dia em que não lotou a minha caixa postal com mensagens do tipo: "Eu errei, me perdoa, me aceite de volta Elle" e "Por favor me liga, eu sinto sua falta" ou (a mais clichê de todas e minha preferida) "Eu sei que errei, mas se você me der uma chance, eu jamais farei isso de novo". Em certo momento parei de escutar, e no final deletava tudo.

— Boa tarde pessoal! — Grito ao entrar na sala. Vários rostos mostram simpatia ao me ver novamente. Alguns perguntam como foram os meses fora e tiram dúvidas de como era cada lugar. Respondo simpaticamente enquanto alguns detalhes do procedimento são acertados, até que a cirurgia começa.

Despicable and Lovely #1  Benjamin ParkerOnde histórias criam vida. Descubra agora