Estou a horas acordada, escutando movimentos que podem ser de minha mãe, sei que é ela quem está comigo dentro deste hospital a dois longos e torturantes anos. É a primeira vez que fico consciente por tanto tempo, parece que meu corpo está, finalmente entendendo que eu não preciso mais estar em coma. Sinto-a pegar minha mão e meu coração bate um pouco mais forte, indicando no aparelho que media meus batimentos cardíacos. Ouço seu riso nasalado, ela parece feliz em saber que estou consciente, Maria sabe disso. Aperta um pouco mais minha mão e sinto quando uma fora vai em minha mão, fazendo-a limpar na mesma hora. Ela está chorando? Não, mamãe! Não quero que chore, isso me deixa extremamente sensível e descontrolada, descontrole é uma coisa que não posso ter ou meu corpo vai apagar novamente. Me esforço ao máximo, preciso mostrar a ela que estou aqui e que enquanto puder estarei aqui para a consolar, mesmo que não consiga olhar em seus olhos e dizer o quanto a amo, o quanto sou agradecida por ela ter me amado quando meus verdade pais me abandonaram. Maria viu em mim o que nem eu mesma via e me mostrou que ainda havia solução para mim, ela foi a pessoa que mais me amou, quando eu mesma rejeitava a órfã fracassada que eu era e desejava morrer por não ter uma mãe biológica ao meu lado. Isso aconteceu em minha adolescência, quando passei por um período difícil, onde os alunos nada bons de minha escola me subestimaram por ser adotada e por ter perdido meu pai adotivo aos sete anos. Ela me amou e suportou meu mal humor e rejeição pacientemente, Maria não me rejeitou quando tentei me afastar dela, de tudo o que tinha próximo a uma verdadeira família. Sempre foi tudo o que tive, meu bem mais precioso. Esforço-me mais um pouco a fim de pelo menos mexer sequer um dedinho e quando estou quase desistindo, minha mão se fecha em volta da sua.
- Minha filha!
Ela disse com a voz embargada pelo choro, ainda assim feliz por ter sentido meu toque em sua mão. Sinto-a deitar sua cabeça sobre a minha e chorar, ela parecia exausta, parecia que não aguentava mais e talvez, este meu esforço tenha sido o estopim para que ela possa aguentar mais um pouco. Tenho que ligar pela minha vida, não posso ficar parada enquanto as pessoas a minha volta se estão se desfazendo em exaustão por não ver progresso em mim.
Ontem o senti perto de mim. O médico. Ele exala algo que não sei explicar. Me chamou de sua pequena lua. Não entendi inicialmente, mas acho que a partir daquele momento este era meu apelido em sua boca, saindo unicamente de sua boca. Eu me arrepiava com seu toque e senti quando ele depositou um beijo em minha testa, me fazendo relaxar e me entregar a escuridão novamente. Com Luccas eu me sentia segura até mesmo para voar e tinha certeza de que se eu caísse ele estaria lá para me segurar. É algo diferente que transborda de dentro, não como Armando. Se dissesse que não o amo mais, estaria enganando a mim mesma, amo esse homem como no primeiro dia em que o vi e diria que até mais forte, mas Luccas está mexendo muito comigo e me fazendo repentinamente ter perspectivas diferentes sobre a vida. Ouço a porta se abrir e minha mãe levantar a cabeça rapidamente, como se tivesse tomado um susto. Pode ser ele. Pode ser Luccas que veio me ver, ou talvez seja a enfermeira que esteja vindo para me dar um remédio. Meu coração aquece só com a ideia de que Luccas pode estar sentindo por mim o mesmo que sinto por ele.
- Você?
A indignação e surpresa era evidente na voz de minha mãezinha, me fazendo saber que não era ele quem estava ali. Um arrepio passou por minha espinha e sinto um vazio quando ela solta minha mão sobre a cama. Não sentir o toque de ninguém ao meu redor quando estou consciente me faz ficar completamente descontrolada e apreensiva. Meu corpo se enrijece e sinto a cabeça pesar. Não posso dormir, não agora. Ouço passos vindo até onde estou e em seguida uma mão pega a minha, a pessoa dá um beijo na mesma. Conheceria esse toque em qualquer lugar, fico extremamente feliz em saber que finalmente Armando está aqui para me ver. Isso pode ser um vestígio de que ele ainda me ama. Sinto vontade de sorrir, mas meu corpo não me obedece, sorrio por dentro sentindo um calor avassalador. Seu que estou sendo boba por ainda sentir coisas por um homem que me agrediu e que pediu o divórcio para ficar som a amante, mas não consigo mandar em meus sentimentos. O que sentia por Armando era algo completamente diferente de qualquer outro sentimento, assim como o que sentia por Luccas era igualmente diferente, ambos não eram iguais um ao outro.
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Medicina Traiçoeira
Romance"Você não entenderia, doutor" "Então me faça entender" "Eu o amei" "Mas agora, você me ama!" Essa história não tem revisão por enquanto, mas em breve tudo irá melhorar. Inicialmente vou avisando que não é um livro curto, esse livro precisamente vai...