2. Pequena Lua

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Checo se seus batimentos cardíacos estão de acordo com o aparelho, pois alguns aparelhos deste hospital estão velhos e com defeito, logo após vou fazendo examinadora em alguns lugares onde haviam machucados e hematomas, até os pontos que Maíra levou estão curados, havendo apenas uma cicatriz no local, o que não entendo é porque não acordou ainda. Neste último mês ela vem dando sinais de que quer acordar, mas tudo o que consegue fazer é abrir os olhos por um pouco tempo e mexer a mão esquerda. Tento imaginar como seria se a tivesse conhecido antes de se casar com o homem que causou este acidente na vida dela e depois a abandonou em uma cama de hospital para apodrecer vegetando. Maíra não vem demonstrando muito progresso desde a última vez que vim como médico para checar se está tudo bem. Dois anos. Maíra está aqui há dois anos e desde que chegou está com o mesmo inchaço interno na região do crânio, o que fez seu corpo se alarmar e se defender contra isso, ela está em um coma que alterna, as vezes ele se aprofunda e algumas vezes ela fica consciente, mesmo não podendo se mexer e nem fazer nada. Ela nos escuta e sente tudo ao seu redor. Deposito um beijo em sua testa, acariciando seus cabelos em seguida e me lembrando de quando a vi sangrando naquela estrada. Estava voltando para minha casa, após ter feito uma cirurgia de emergência durante a noite e me assustei quando vi um caminhão cruzando a estrada e interditando-a. Jéssica pediu uma carona neste dia e estava junto comigo quando vimos o caminhão, ambos ficamos assustados e com medo de alguém ter saído morto naquele acidente. Saí do carro para ver o que havia acontecido, o motorista do caminhão estava bem, apenas com alguns ferimentos e no local do acidente havia uma roda de curiosos. Assim que consegui cruzar aquela linha de pessoas ao redor dela, a vi deitada e sangrando. Minha primeira reação foi prestar os socorros necessários para sua sobrevivência, mesmo tendo me apaixonado, bem ali, no meio da estrada. Olho para Maria que dorme tranquilamente na poltrona do acompanhante, ela sabe de minha paixão por sua filha adotiva. Nunca escondi, sempre deixei claro o que senti no momento em que olhei para Maíra deitada naquele chão, com sangue ao seu redor. Ela não é a mais linda das mulheres, também não é a mais feio, mas para mim, Maíra é a mais encantadora e atraente delas. Digo isso, não de uma forma carnal, vai além disso é sinto que quando estou perto dela, meu corpo todo reage. Sei que um dia ela vai acordar, ela já está fora de perigo, só o que resta é esperar que seu corpo se dê conta disso. Essa mulher me entorpece apenas por respirar e me deixa louco de vontade de tê-la em meus braços para fazê-la minha e de mais ninguém, quero mostrar a Maira que aquele homem não a merece e que mesmo eu não sendo o melhor dos homens, posso lhe mostrar o que é o verdadeiro amor. Aquilo que ela acha que sente por seu ex marido não é amor, apenas uma afeto, talvez se sente protegida ou algo assim, mas ele não a merece. Talvez eu também não a mereça e talvez eu seja mais errado que este homem que a deixou por querer a fazer sentir por mim o que sinto por ela, mas sei também que posso fazê-la se sentir amada de verdade.

Saio de seu quarto com a autoestima muito melhor, vê-la todos os dias me deixa assim. Caminho em direção ao meu próximo paciente e quando já não tenho mais a quem atender, me direciono até a sala de descanso para esperar ser chamado para a próxima emergência. Eu sou um médico que trabalha com casos especiais, internatos e emergências, este cargo requer muita atenção e tenho de estar descansado para issoz portanto sempre que posso, venho para esta sala e descanso para poder cuidar do próximo paciente. Me sento no sofá assim que entro, há alguns outros médicos que conversam entre si aleatoriamente. Logo a porta da sala é novamente aberta e Jéssica sorridente e praticamente saltitante adentra a sala, olhando e vindo em minha direção. Tento buscar em mim, um pouco de paciência, pois não é fácil lidar com ela, mas também não é impossível, com um pouco de paciência e educação tudo se resolve. Ela se sentia ao meu lado no sofá, ainda com o sorriso estampado em seu rosto.

— Bom dia, Luccas.

— Bom dia, Jéssica.— Retribui brevemente seu sorriso.— Está toda feliz hoje? A que devemos a honra?

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