6. Nathalia

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As ruas estão um pouco movimentadas, parece que as pessoas decidiram sair para caminhar ou fazer qualquer outra coisa. É bom ver pessoas sorrindo cheias de saúde, sem precisar estar trancadas dentro de um hospital, presas às camas. Sou médico, dependo disso para exercer minha função, mas gostaria que não houvessem doentes precisando de mim, gostaria que não houvessem pessoas passando por dores agudas, chegando a beira da morte ou partindo para o outro lado. É triste saber que pessoas que tem tudo para viver, ter uma vida boa ao lado de sua família, estão precisando de ajuda médica para poder ter pelo menos um prazo curtamente prolongado de vida através de tratamentos medicinais e fitoterápicos, entre outros. Estaciono meu carro no estacionamento do hospital, hoje é um dia bem frio, está nublado e ventuoso, mas é um bom dia. Gosto dos dias frios, tenho mais liberdade para usar mais roupas, o suor não é uma opção e ar parece ser mais leve, mais puro. Caminho em direção à recepção, as mulheres da recepção já me cumprimentam como sempre, parecem mais felizes. O ar e o hambiente são capazes de mudar o humor de pessoas.

— Bom dia, meninas.— as cumprimento.

— Bom dia!— respondem.

Hoje meu dia está parecendo mais leve, espero ter boas notícias, quero muito falar com minha menina, ou pelo menos olhar para aquele rostinho angelical. Deve ser tão renovador, tão bom olhar para aquele rostinho lindo, com aqueles olhos abertos e me encarando. Há algum tempo eu vi seus olhos pela primeira vez, ela os abriu na primeira vez em que esteve consciente e foi tão renovador, Maíra precisa resistir com mais força. Mamãe adoraria conhecer a minha futura esposa, ela ficaria muito feliz em saber que me apaixonei novamente. Na verdade, acho que já sabe que eu tô diferente nestes últimos tempos, mas não deve saber o motivo, já que ficamos alguns anos sem nos ver. Acho melhor nunca mais ficar longe da minha mãe e da família por muito tempo, é horrível sentir saudades por tanto tempo, principalmente quando se é muito apegado à família. Meu pai me mataria se me afastasse novamente deles, mas a questão é que me reaproximar de minha família é ter que lidar com o passado. Eles ainda moram no mesmo lugar, para mim, voltar para aquela pequena cidade e reencontrar com meus antigos amigos de escola e a mãe de Nathalia é muito difícil. É uma missão quase impossível. As portas do elevador se abrem, ainda tenho meia hora antes de começar a trabalhar, vou aproveitar esses minutos para ver minha Maíra, estou com tanta saudade, mesmo tendo tão pouco tempo que a vi. Dona Maria não está mais querendo deixar que eu passe algumas noites com a minha lua por causa da correria que está sendo no hospital, ela diz que da sua loja tem sua irmã que pode cuidar por ela, enquanto não puder. Diz que eu tenho que estar descansado para dias de trabalho puxado, ainda mais nestes últimos tempos em que as pessoas decidiram que era a hora de sofrer acidentes. O hospital está quase em estado de superlotação.  Caminho em direção à porta de seu quarto, não é muito distante do elevador, apenas mais alguns passos e paro bem na frente da porta branca, assim como a maioria do hospital. Noventa e nove por cento da cor do hospital é branca.

— Luccas?

Uma voz feminina me chama bem atrás de mim. Essa voz... Eu reconheceria facilmente, até se estivéssemos na China, em lugares movimentados e barulhentos. É Lície, mãe de Nathalia. Me viro para ela, que me olha com os olhos cheios de lágrimas e arregalados, ela está visivelmente impressionada e surpresa em me ver aqui. Na verdade este papel deveria ser meu, eu quem deveria estar surpreso em ver essa mulher que me deu tanto ódio, por ter acobertados as atrocidades que seu marido fazia com Nathalia. Ela está muito magra, franzina. Seu corpo parece ter emagrecido por conta de drogas, Lície também tem algumas tatuagens pelo corpo, uma em seu pescoço é até parecia da com a que eu tenho em meu braço. Os cabelos naturalmente loiros agora estão tampados por uma tinta preta que não combina nada com ela. Seus olhos tem olheiras gigantes, o rosto está simplesmente envelhecido pelo tempo e algum vício. Lembro-me que ela fumava cigarro como uma louca, seus pulmões já devem estar em uma situação crítica, pois quando Nathalia e eu namorávamos, essa mulher chegava a usar dois maços por dia. Lície é mais baixa que eu, o que a deixa ainda mais envelhecida. Suas unhas gigantes, está com um esmalte descascado. Se antes tinha raiva e ódio, só o que sinto agora é pena, pena pelo que ela fez, isso implicou consequências grandes a esta mulher. Suas maldades tiveram consequências e fico feliz por isso, ninguém que faz mal a alguém que é sangue de seu próprio sangue pode ficar impune, ela deve pagar pelo que fez a sua filha, pois acobertando o marido consequentemente teve participação em cada maldade que Nathalia sofreu. Ela teve muita sorte de não ter sido presa como cúmplice.

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⏰ Última atualização: Feb 15, 2019 ⏰

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