Capítulo um

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Valentina Mello

Já sei que será uma loucura hoje, daqui há dois dias teremos um festival na cidade. Sempre na época do festival a doceria fica uma doideira, muitas pessoas encomendam bolos e os mais diversos doces.

Monte Belo do Sul fica muito movimentada, pelo menos minha irmã ajuda e muito! Herdamos a doceria Mello's dos nossos pais, meu pai construiu esse lugar para presentear minha mãe. Quando ele nos deixou, foi muito difícil seguir em frente, minha mãe ficou muito mal e acabou que seu coração não aguentou e ela nos deixou um ano depois.

— Nem comece com esse discurso, Sophia! — Não estou com saco para ficar ouvido os conselhos da minha irmã.

Ela, as vezes, esquece que eu sou a mais velha, inventou de ficar me dando conselhos sobre homens. Já disse milhares de vezes, que não preciso de um homem, quando estou afim de um orgasmo, recorro ao meu grande e grosso vibrador. No quesito sexo casual, ainda sou muito antiquada, os caras só querem uma foda e pronto, na manhã seguinte nem olham na nossa cara e eu não sou desse estilo.

Gosto de conquista, uns amassos e troca de carinho. Por isso que, desde que meu marido morreu há cinco anos, não me envolvo com ninguém. Ainda não encontrei um homem que me despertasse interesse.

— Maninha, já te falei que esse seu estresse é necessidade de um bom e quente sexo — fala na maior naturalidade. — Quando você encontrar um cara para te virar do avesso, tenho certeza de que vai ficar calminha.

Farta desse assunto, pego um punhado de farinha e jogo em sua direção. Essa peste não me deixa trabalhar em paz, a doceria cheia de encomendas e ela preocupada se eu transo ou não.

— Bah, enlouqueceu, Valentina? — Dirige um olhar enfurecido. — Como vou atender os clientes suja de farinha?

— Para de cena, Sophia, é só passar um pano que sair! — Jogo um pano de prato em sua direção. — Isso é para você parar de me encher o saco, da próxima vez não será farinha, vai ser ovos.

Ela sai da minha cozinha resmungando. Minha irmã é boa em administrar, então ela ficou responsável por essa parte na doceria e eu com a cozinha, amo cozinhar, principalmente doces. Ainda temos a ajuda de dois funcionários, a Catarina e o Murilo. Bernardo, meu cunhado, também nos ajuda quando pode, mas ele trabalha mesmo é na vinícola dos Bianchi.

Quando meu marido Jonas morreu, entrei de cabeça na doceria, os bolos e doces foram minha terapia. Eu vivia uma das melhores fases do meu casamento, mas de uma hora para outra ele começou a beber, até que em uma noite ele combinou álcool e direção. Seu carro ficou irreconhecível e eu fui obrigada a conviver com o luto e a perda do meu amor. Foram cinco anos casados, vivia o meu conto de fadas, mas como dizem, nada é perfeito e eu tinha que o perder para o álcool.

Tenho trinta e três anos, diferença de três anos para minha irmã Sophia, que foi peça chave na minha vida. Ela passou muitas noites me consolando em minha casa deixando seu marido sozinho. Tinha momentos que eu deixava o luto tomar conta, não queria saber de nada, nem da cama queria sair. Quando minha irmã percebeu os sintomas de uma possível depressão, começou a pegar mais ainda no meu pé, sempre levava os meus sobrinhos para uma visita, segundo ela, eu precisava de um pouco de felicidade. Sou muito grata por tudo que ela fez, dou minha vida por ela, não sei o que seria de mim sem minha irmã.

— Sonhando com o príncipe encantado, cunhada? — Sou tirada de meus pensamentos com a chegada de Bernardo, minha irmã soube escolher bem seu companheiro. Meu cunhado é um homem alto, de cabelos curtos e dono de um par de olhos verdes, além de ser um ótimo amigo.

Depois da minha pequena discussão com Sophia, o tempo voou que só percebi quando meu cunhado chegou.

— Não me diga que se contaminou com a chatice da minha irmã? — Reviro os olhos para ele.

— Talvez um pouquinho. — Sorri de canto. — Precisa de alguma ajuda?

— Não. Consegui dar conta de tudo, todas as encomendas já estão prontas. — Suspiro aliviada, hoje o dia foi bem cansativo. — Sobrou esses docinhos aqui. — Estendo um prato com brigadeiro de leite ninho e vinho tinto a ele.

— Valentina, você merecia um prêmio por essa oitava maravilha — fala apreciando o brigadeiro de vinho, esse é um dos que mais saem aqui na doceria. — Posso levar todos?

— Pode sim. — Sorrio enquanto Bernardo devora os doces. — Esses são todos seus, pode aproveitar.

— Cunhada, é por isso que te amo. — Beija minha bochecha e sai da cozinha.

Vejo que já são 17h, está na hora de fechar e descansar um pouco. Hoje não verei mais minha irmã, ela foi até a escola do Alexandre. Meu sobrinho, apesar de ter apenas dez anos, apronta que é uma beleza. Despeço-me dos funcionários e sigo para casa, tenho a comodidade de morar no andar de cima da doceria. É uma casa aconchegante, as paredes verdes foram escolhidas para combinar com os poucos móveis claros que tenho, que se resume a um sofá e uma estante com os meus livros. Não preciso de muita coisa na sala, mas em compensação, minha cozinha é equipada com os mais modernos utensílios.

Já fiz diversos cursos de culinária, então, era necessária uma cozinha a altura dos pratos maravilhosos que aprendi a fazer. Eu sei cozinhar de tudo, desde a culinária rica do nosso Brasil à pratos refinados da Europa, porém, minha grande paixão sempre serão os doces.

A conversa na cidade era que eu tinha conquistado meu marido pela boca. Jonas era um homem alto, musculoso, seus cabelos eram longos e criava um contraste maravilhoso com seus belos olhos azuis. Não vou mentir, sempre fui insegura quanto a isso, para mim Jonas era muita areia para o meu caminhão. Sempre gostei de cozinhar para ele, então, se as pessoas achavam que eu tinha o conquistado pelo estomago, que assim seja.

Entro no meu quarto e jogo o celular na cama, vou até a varanda e abro a porta de vidro. Tenho numa visão privilegiada da vinícola onde Bernardo trabalha. Gosto de sentar aqui com uma taça de vinho, assistir uma boa série ou ler um livro. O cheiro de terra molhada e o aroma de uva fresca me transmite uma paz absurda.

Sento-me na poltrona e admiro o horizonte, às vezes bate aquele desanimo. Droga, tenho trinta e três anos e ainda não tive o prazer de ser mãe. Jonas nunca quis ser pai, esse era um assunto meio que proibido na nossa casa, toda vez que era iniciado, brigávamos feio. Tinha esperança de que fosse conseguir mudar seu pensamento, não ia conseguir abrir mão do sonho de ser mãe. Continuo com esperanças, só tenho medo de que seja tarde demais para isso.



Lorenzo - Série Primos Bianchi ( Degustação )Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora