Capítulo dois

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Lorenzo Bianchi

— Não me conformo que você vai embora, Lorenzo! — Antonella fala pela milésima vez.

Sei que ela vai sentir saudades, também irei, mas minha decisão já está tomada, não aguento mais Isabela no meu pé, já se passou um ano desde que, assinamos os papéis do divórcio. Já não aguentava mais viver na mesma casa que ela. Não sei como, mas passei a enxergar todos os defeitos de Isabela, uma mulher fútil e muito mesquinha, chegou ao ponto de não aguentar ouvir sua voz.

— Você sabe que isso é necessário, minha amiga. — Tento consolar Antonella, mas sem sucesso. — O Brasil nem é tão longe, quando a saudade apertar, pega um avião e vai me ver.

— Seu bobo — bate em meu ombro —, é só umas 14 horas de distância, nada demais.

— Vamos fazer assim, sempre que sentir saudades, me liga, não importa o horário. — Puxo-a para um abraço.

— Se eu não te conhecesse — escuto a voz do Enrico, meu primo e marido da Antonella — quebraria sua cara nesse exato momento, não é nada agradável ver minha mulher chorando nos braços de outro homem.

— Meu amigo, lembre-se que, se não fosse por mim — abro meu melhor sorriso — vocês não teriam se conhecido.

— Eu tenho é que te matar, não sei onde estava com a cabeça quando me apresentou a essa maluca. — Começa a rir, esse realmente não tem medo de morrer. — Caralho, Antonella. — Leva a mão ao braço, onde ela lhe acertou com um peso de papel.

— Era para ter acertado na sua cabeça. — Cruza os braços com a cara emburrada. — Como pode falar isso de mim?

Enrico abraça Antonella, ela sempre teve um gênio forte, por isso fiz questão de juntar os dois. Sempre tive certeza de que meu primo conseguiria domar a fera, me enganei, ela continua azeda.

Os dois me deixam a sós e eu preparo os últimos ajustes para minha viagem. Amanhã à noite embarco para o Brasil, espero que Isabela não descubra o meu destino, estou rezando para que isso não aconteça. Fiz todo mundo prometer que em hipótese alguma falariam o meu paradeiro, mesmo sobre forte ameaça.

Finalmente em solo brasileiro, gosto do clima desse país. A última vez que estive aqui foi em 2010, há exatos 8 anos. Foi difícil encontrar um voo direto para o Rio Grande do Sul, então precisei fazer conexão em São Paulo, daqui há duas horas pegarei o voo para meu destino. Do aeroporto Salgado Filho até Monte Belo do Sul são cerca de 2 horas de carro. Não vejo a hora de tomar um bom banho quente e me jogar na cama.

Os minutos foram passando até que escutei a chamada do meu voo. Agora falta pouco para encontrar minha cama quentinha. Pedi para que Bernardo me buscasse no aeroporto, além de amigos, ele também administra toda vinícola, posso confiar de olhos fechados.

No aniversário de 26 anos de casados, meu pai presenteou minha mãe com a vinícola. Minha mãe era brasileira, então a cada dois anos estávamos aqui no Brasil. Por isso tenho dupla cidadania e sei falar os dois idiomas, às vezes o português sai um pouco misturado com o italiano.

Depois de duas horas finalmente cheguei em Porto Alegre, agora é só esperar Bernardo e aguentar mais algumas horas de estradas. Monte Belo do Sul tem uma particularidade que gosto muito, o cheiro de uva é muito forte, isso se dá pelo fato da cidade ser repleta de plantações de uvas.

Pego minha mala e vou para o saguão, espero que Bernardo não demore. Pego meu celular e envio uma mensagem para os meus amigos avisando que cheguei bem. Começo a olhar as pessoas ao meu redor, algumas caminham calmamente, outras com passos mais largos. É difícil de acreditar no rumo que minha vida tomou, porém, é mais fácil do que aturar Isabela. Ela é brasileira, mas já mora na Itália há dez anos, lembro-me que logo que a conheci me encantei, todo mundo sabe que as brasileiras são as melhores, lindas e com corpos exuberantes.

No começo foi tudo maravilhoso, tinha certeza de que ela era a mulher perfeita, só que não, ela começou a se mostrar aquela pessoa que eu mais odiava, fútil, mesquinha e totalmente sem humildade. Ela tinha uma mania horrível de humilhar os funcionários, a gota que faltava para minha paciência se esgotar foi quando ela chamou Antonella de empregadinha. No momento que escutei suas palavras, tive vontade de fazer uma loucura, mas Antonella não permitiu.

— Arrependido de estar aqui, patrãozinho? — Sou tirado dos meus pensamentos com a chegada silenciosa de Bernardo.

— Não me arrependo fácil das coisas, meu amigo. — Cumprimento com um abraço caloroso. — Você demorou um pouco, já estava cansado de ficar nesse aeroporto.

— Foi mal, Lorenzo, além de você ter escolhido chegar há dois dias da Festa da Vindima. Valentina me pediu um favor com urgência — fala um pouco sem graça.

Uma vez participei dessa Festa da Vindima, que nada mais é que um período festivo que celebra a colheita da uva e uma espécie de valorização da cultura e tradições trazidas pelos italianos. Mais um motivo para eu amar essa cidade, me sinto praticamente em casa.

— Valentina? — Olho para ele com cara de interrogação. — Que eu me lembre o nome da sua ragazza era Sophia — falo um pouco confuso.

— E ainda é, Valentina é minha cunhada, irmã da Sophia.

— Ah, sim, pensei que tinha trocado de mulher. Lembro da beleza dela — falo para provocar meu amigo.

— Realmente lindíssima, mas é toda minha. — Bate em meu ombro. — Não troco minha Sophia por nada nesse mundo. Pronto para ir?

— Bernardo, estava contando os minutos, nesse momento só quero uma cama quente.

Bernardo me ajudou com as malas e entramos no seu carro. Ele veio me explicando o caminho, sabe que não confio nesses GPS. Conversamos sobre a vinícola e ele me contou um pouco sobre sua família, digamos que ele me deixou a par de tudo. Em pouco mais de uma hora e meia já estávamos em casa. A fachada que me lembrava era totalmente diferente, o que antes era um branco e pálido, se transformou numa bela paisagem, as paredes vermelhas contrastam perfeitamente com o verde do campo, as portas e janelas também foram substituídas, agora são de vidro.

— No ano passado fizemos uma reforma, a casa precisava de um trato. Com a ajuda da Valentina — estranho, toda vez que escuto esse nome uma sensação esquisita me atinge — arrumamos tudo aqui, um toque feminino faz toda diferença.

— Realmente amigo, já quero conhecer essa ragazza e agradecer o belo trabalho, ficou maravilhoso.

— Será um prazer te apresentar minha cunhada, tenho certeza de que vocês se darão bem. — Sorri de uma forma um pouco maliciosa.

Não sei o motivo, mas estou louco para conhecer essa Valentina, seu nome está se tornando uma espécie de música para meus ouvidos. Algo me diz que gostarei muito dessa ragazza.



Lorenzo - Série Primos Bianchi ( Degustação )Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora