Prólogo

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Daegu, 1807

As algemas apertadas em torno das mãos e pés da pobre moça machucavam seus pulsos e tornozelos á medida que homens brutos e ignorantes puxavam as correntes, a forçando a sair do barco que a havia trazido de Busan, sua terra natal.

Choi Min Ah, assim como tantos outros agora escravos, foi tirada de sua casa e trazida para ser vendida na feira como mercadoria. Porém, diferente da maioria, ela não havia nascido escrava, estava ali por pura falta de sorte e por culpa de alguém que supostamente a amava.

Sua mãe havia falecido vítima da peste e o pai, com a dor, se afogou na bebida para esquecer de tudo e obteve êxito, tanto que se esqueceu da própria filha, a quem ele culpava indiretamente pela morte da esposa, já que havia sido ela a cuidar da mãe até seu último suspiro.

Não, eles não eram ricos, mas tinham uma vida estável, o dinheiro era suficiente para sustentar a família e foi suficiente para pagar um médico quando a senhora Choi adoeceu.

Apesar do luto, Min Ah e o pai viveram relativamente bem os primeiros meses após a perda, até o senhor Choi começar a beber e gastar tudo o que tinha e não tinha para sustentar o vício.

Quando chegou ao ponto de não ter mais dinheiro vivo para pagar as bebidas(importadas, que fique claro), ele começou a vender alguns objetos da casa, coisa que só foi piorando com o passar do tempo , até restarem apenas alguns móveis, que a jovem sabia que mais cedo ou mais tarde ele também venderia.

Se ela tentou impedí-lo? Min Ah estava de mãos atadas, a única vez que tentou falar alguma coisa, apanhou tão feio que acabou por desistir de tentar fazê-lo ouvir a voz da razão.

Ela só não fazia ideia que o pai havia feito uma dívida com o fornecedor das bebidas, fornecedor esse que foi até a residência dos Choi para cobrar e Min Ah teve a infelicidade de atender a porta, porque assim que a viu , o homem resolveu levá-la como pagamento e o pai, aquele que deveria amar e zelar por ela, sequer se importou, deixou que a levassem, assistindo em silêncio a filha chorar e se debater pedindo ajuda enquanto era levada a força até a carruagem que a transportaria até o porto, de onde partiria o navio que levaria todos os escravos para Daegu, maior ponto de compra e venda de escravos da Coreia do Sul.

Min Ah chorou o caminho inteiro, não conseguia acreditar que o próprio pai havia deixado que a levassem e sequer tentou impedir. A viagem até Daegu foi mais rápida do que ela esperava e ao chegar em terra firme, os brutamontes do porto puxaram todos os escravos pelas correntes, sem se importar se os estavam machucando ou não.

A jovem estava assustada, não conhecia aquelas pessoas, não sabia onde estava e nem pra onde iria, recebia olhares um tanto curiosos de quem passava por ela porque suas roupas não eram como as das outras escravas, o que evidenciava que ela não pertencia áquele lugar, que havia acontecido alguma coisa para que estivesse ali.

Ela queria fugir, queria sair correndo, mas não tinha escolha senão se deixar levar para onde quer que a arrastassem. Durante o trajeto, um homem os parou, vestia um conjunto de casaco e calças na cor pastel, colete marrom e camisa branca, visível pelo colarinho aparente e uma gravata vermelha com um nó muito bem feito e nos pés, calçava sapatos marrons muito bem polidos.

- Quanto quer por essa jovem? – pergunta, a analisando curioso. A moça tinha longos cabelos negros que batiam quase em sua cintura, possuía o corpo magro e com curvas bem delineadas, porém pouco visíveis por conta do vestido. Mas o que se destacava eram seus olhos, que detinham uma cor pouco comum, castanho claro puxado para o mel. Era realmente linda. O homem, vendo que não havia conseguido sua resposta, olha feio para o capataz que a segurava.– Eu lhe fiz uma pergunta, Jae Wong.

O capataz, que atendia por Jae Wong, engoliu em seco claramente intimidado. E não era pra menos , Kim Sun Woo era conhecido por sua rigidez e severidade, ninguém em Daegu enfrentava o dono de uma das maiores fazendas da cidade, consequentemente , um dos que detinha o poder sobre a região.

- Ela não é minha senhor Kim. – responde, olhando de soslaio para a mocinha que não havia aberto a boca desde que saíra do barco, mantendo a cabeça baixa. – O homem que a trouxe é Cha Yon Woo, acredito que ele possa te dar um preço. – aponta para um homem baixo e carrancudo que conversava com outros dois capatazes perto do barco. Yon Woo, ao ver seu pagamento tão próximo do Kim, veio a passos firmes até os três, visivelmente incomodado.

- O que está havendo aqui? – pergunta, fulminando Jae Wong que se encolhe diante do olhar de seu superior. – Eu falei que não era para essa escrava ir junto com os outros, ela é minha propriedade. – Min Ah sente os dedos sujos do homem em sua bochecha, o que embrulhou-lhe o estômago. – E eu sei exatamente o que vou fazer com ela. Leve-a para minha carruagem.

- O senhor Kim está interessado nela. – Jae Wong indica o homem a sua frente com um gesto de cabeça. Yoon Woo ficou vermelho de raiva, súbitamente retirando os dedos da bochecha da mais nova.

- Não ouviu o que eu acabei de dizer? Ela é minha, meu pagamento. Não está a venda, principalmente para você. – responde, dando um empurrão em Sun Woo. O Kim, já sem paciência, pega o homem pelo colarinho e o levanta com facilidade, para que fique da sua altura.

- Escuta aqui seu meliante, não me interessa de qual dos seus modos sujos você se utilizou para conseguí-la. – responde entredentes, o outro tentou argumentar mas desistiu diante do olhar fulminante que recebeu. – Eu pedi um preço e é melhor me dar um porque eu posso acabar perdendo a paciência de vez e você não vai querer isso.

Yoon Woo engoliu em seco e , juntando o restante de coragem que tinha e todas as suas forças , se soltou do Kim com um único puxão.

- Não pense que só porque tem grandes influências aqui que pode fazer o que quiser e bem entender. – responde, desamassando suas roupas, logo olhando novamente para o mais alto. – Se está tão interessado nela, saiba que veio de uma casa de classe média, ela nunca foi uma escrava, não vai saber agir como uma.

- Acha que vou desistir só por causa disso? Ela será bem treinada em minha fazenda. – o Kim estava no seu limite, mais uma gracinha e esse insolente comeria capim pela raiz. – Fale de uma vez o que perguntei.

Meio a contragosto, o homem deu seu preço e o mais alto pagou dando-lhes as costas em seguida. Jae Wong a puxou até a carruagem do senhor Kim, onde foi brutalmente jogada na carroça embutida na parte de trás. Suas mãos foram amarradas na mesma para que não tentasse fugir e depois de se despedir do capataz com um aceno de cabeça, Kim Sun Woo prosseguiu viagem até a fazenda Kim, que ficava a duas horas do porto.

Min Ah, encolhida na carroça, soluçava baixinho enquanto olhava para o céu. Porque isso estava acontecendo com ela? Porque seu próprio pai a tinha condenado a um destino tão cruel? Mas principalmente, o que mais a preocupava era o que aconteceria com ela quando chegassem ao seu destino.

Daquele dia em diante, Choi Min Ah, de apenas 17 anos, se tornou escrava da família Kim, mas a verdadeira tormenta da vida dela ainda estava por vir. Ah, ela não fazia ideia do que a aguardava, porque se soubesse, teria tentado fugir na primeira oportunidade.



Mais uma fic para a alegria de vocês. Hahaha
Espero que gostem dela.
Beijinhos 💜






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