Sombras do Cerrado: A Jornada de Angel de la Cruz

Sobradinho, Minhas Sombras

Capítulo 1: Sobradinho, Minhas Sombras

A vida tem um jeito engraçado de te fazer pensar que nada vai mudar. Eu estava sentado no mesmo café de sempre, ouvindo uma música da Legião Urbana nos fones de ouvido, como se aquele dia fosse qualquer outro. Mas, de alguma forma, sabia que não era. Talvez você também já tenha sentido isso — aquela inquietação no ar, como se algo estivesse prestes a acontecer.

Eu olhava para fora, para as ruas tranquilas de Sobradinho, tentando ignorar a sensação estranha de que estava sendo observado. Como sempre, minha cabeça estava em outro lugar. Eu me sentia deslocado, não só na cidade, mas na minha própria vida. As pessoas ao meu redor pareciam saber exatamente o que estavam fazendo, enquanto eu... eu só tentava passar despercebido, me misturar.

Foi nesse dia que tudo começou a mudar.

Voltando para casa naquela tarde, aquele incômodo estranho começou a crescer dentro de mim. Eu tinha certeza que alguém estava me observando, mas sempre que eu me virava, não via nada além de sombras alongadas pelas ruas. As sombras... estavam sussurrando mais forte. Isso vinha acontecendo há algum tempo, mas naquela noite, os sussurros eram quase audíveis, como se uma voz antiga tentasse romper um véu entre o mundo real e algo muito mais sombrio.

Sacudi a cabeça, tentando afastar a sensação. Eu precisava me distrair, então entrei em uma loja de discos que ficava no caminho para casa. A loja era pequena, mal iluminada, e o cheiro de vinil antigo e madeira mofada enchia o ar. Uma mulher estava atrás do balcão, organizando alguns discos. Assim que entrei, ela levantou o olhar e me encarou com uma intensidade estranha.

"Você não vai conseguir se esconder para sempre," disse ela, com uma voz baixa, quase sibilante.

Eu parei de andar, surpreso. "O quê?" perguntei, confuso.

Antes que pudesse reagir, ela estendeu a mão e, de repente, uma espada de luz se formou em seus dedos. A lâmina brilhava, pulsando com uma energia viva. Meu coração disparou, e o tempo pareceu desacelerar. Sem pensar, me afastei rapidamente, esbarrando em uma prateleira de discos, derrubando-os ao chão. A atendente avançou, a espada erguida, os olhos fixos em mim como uma predadora prestes a atacar.

Eu estava sem saída. As sombras ao redor pareciam se contorcer e, pela primeira vez, ouvi claramente os sussurros:

"Ele está aqui... Ele está aqui..."

O terror me paralisou. O que estava acontecendo? Quem era essa mulher?

Antes que a lâmina pudesse me atingir, uma figura sombria surgiu do nada, rápida e silenciosa como uma sombra em movimento. Ele bloqueou o golpe da mulher, me puxando para trás de si, e em questão de segundos a luz da espada se dissipou. A mulher, que agora parecia muito menos ameaçadora, desapareceu em meio a um clarão, como se fosse apenas uma ilusão.

— Você está bem? — ele perguntou, enquanto me ajudava a levantar.

Eu ainda estava processando o que acabara de acontecer. Minha respiração estava ofegante e meu corpo tremia. Quando finalmente olhei para o cara que tinha acabado de me salvar, vi que ele era alto e tinha uma expressão séria, como se aquilo fosse uma rotina para ele.

— Quem... quem é você? — gaguejei.

Ele deu uma olhada rápida ao redor, como se estivesse esperando que alguém pudesse nos atacar a qualquer momento.

— Meu nome é Rafael. A gente precisa sair daqui agora. Ela te encontrou porque o seu poder está se manifestando, e vai ficar pior. As sombras vão continuar sussurrando até que você entenda o que elas querem te mostrar.

Eu não sabia se podia confiar nele, mas algo em seus olhos transmitia urgência. As sombras continuavam a sussurrar, mais alto do que nunca, e agora começavam a tomar formas estranhas ao redor da loja.

Sem tempo para pensar, apenas segui Rafael para fora da loja, deixando para trás a sensação de que o mundo normal que eu conhecia havia acabado de mudar para sempre.