Os raios solares que batem nas janelas do pequeno escritório situado em um dos prédios mais visitados da Avenida Paulista logo são absorvidos pela pele do grupo de amigos que ali se encontra. Lastimável: era essa a situação dos fracassados seres humanos ali situados. O estado de ociosidade logo é interrompido pelo barulho dos sapatos de salto que se aproximam.
— Corre, ela tá vindo! – a voz de Anderson soa baixa, mas precisa.
Com alguns pulos de gazela e reclamações, o mesmo se dirige à porta para abri-la e liberar a passagem de Fabiana, a administradora do local que é de seu pai.
— Que foi, gente? Por que tá todo mundo me olhando com cara de assombração? – pergunta, irritada por ter acabado de se depilar. Estava linda e eles precisavam ver isso.
— Estavam todos mortos, coloquei todo mundo pra trabalhar! – berra Anderson, deixando todos com raiva pelo seu hábito de fofocar.
—Que bom. O castigo de hoje vai ser comer macarrão com queijo no almoço. Muito queijo.
— Você deu muito leite hoje? – murmura Mel, que tem a boca tapada por Marina em seguida.
— Cala a boca! – sussurra para Mel.
Como um estrondo, o choro irritante de um bebê recém-nascido toma conta da sala, deixando todos loucos.
— De onde é isso? Marília tá aqui? Veio parir aqui, porra?! – Fabiana se irrita, tacando um salto na gestante, que desmaia.
— Não é ela, é a Fran. – Lala revira os olhos, apontando para Fran.
— Vo-vo-vocês vã-ão pe-pegar o leite da va-vaquinha! – choraminga. — Seus carnívoros horríveis! – grita, antes de bater a porta.
— Ah, vai te foder, Francieli. – Laura berra, irritada. — Sua mãe te deu de mamar quando você era bebê e você não reclamava dessa merda.
— Monstros, é isso que vocês são! – Fran sai do banheiro, agarrando a planta. — Vamos, Júlia. Essa gente não te merece.
— NADA DISSO! – berra Fabiana, arrancando o vaso da mão de Fran. — Minha maconha fica, sua falsa ativista!
— Então eu também fico e vocês não vão me impedir. – diz de forma decidida.
— Mas é você que quer ir embora, retardada. – Laura dispara, cansada dos exageros de Fran. — Tá gente, vamos, preciso gravar meu vídeo de teste pro papel de eu mesma na minha série série.
Os amigos estão produzindo uma série secretamente, Pussy Cry. Esta fala sobre suas vidas íntimas e cada um tinha um personagem baseado em si mesmo. No roteiro, eles ficavam famosos e ricos, fazendo uma tour global e pisando no tapete chamado ex-participantes invejosos. A diferença é que ninguém era jogado do palco pois os escritores eram pessoas de caráter.
— Ô ANDERSOOON! – Fabiana chama a menos de 2 metros de distância.
— Que é? – pergunta, limpando a bochecha das marcas de batom nojentas deixadas por Marina. Ele preferia o Caio.
— Cadê o envelope que eu deixei aqui com o roteiro da série? – indaga Fabiana, ficando vermelha como se fosse fazer cocô.
— Ué, mas você não deixou nada aqui não. – diz ele, confuso. — Só tinha uma pasta escrito Creche 46, mas o carteiro já levou.
— Fomos assaltados, puta merda. – Marina reclama, lembrando-se de sua fama entre os assaltantes de São Paulo. — Chama a polícia, vai! Se isso cair nas mãos erradas...
— Vira essa boca pra lá! – Anderson ordena.
— Não é hora de me rejeitar não, tá ok?! – responde, ofendida. — O pai da Fran é militar, ele talvez possa ajudar.
— Meu pai é carnívoro, não vou falar com ele coisa nenhuma.
— Ah, vai tomar no cu. – Laura vocifera. — Vai Fabiana, liga logo, você é a manda-chuva daqui.
— Tá, tá, espera que eu vou ligar pro meu amigo Éverton. – diz a burguesa, sacando seu telemóvel da calcinha e apertando o botão de rediscar. — Alô, Betinho? Sim, é a Fafazinha, hihi. Não, safadinha não, Fafazinha. Cera? Hm, não, não tenho. Acho que você vai ter que vir aqui pra descobrir. – sorri maliciosamente. — Te espero, beijo.
Quando ela desliga, todos os amigos estão encarando seus lindos e enormes olhos com a boca aberta.
— Qual foi gente???
— Você não tava com a...
— CALA A BOCA! – Fabiana interrompe Mel. — Foi só um carinho na mão virtual e nada mais. Entendido?
— Sim. – Mel revira os olhos.
Os amigos estão prestes a entrar no estúdio quando a campainha toca, mas não é a porta e sim a televisão anunciando ao vivo a nova série de Lavinia Ublyudok, Pussy Cry: o choro da princesa, a poucos andares dali.
Todos olham para Laura esperando uma reação, mas ela não está ali.
Aonde foi Laura?
No pescoço de Lavínia.
Na televisão.
Ao vivo.
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Whomonizers
HumorAté onde se pode chegar pelo sucesso? Para esses 7 amigos, o limite é apenas uma forma dos safados capitalistas de fazer a sociedade acreditar que ficar estagnado no mesmo lugar é o destino de todos. Com muita luta, talento e matanças feitas sem...