Em uma manhã de quinta-feira ensolarada, Parker Duvall caminhavapelos corredores lotados de Beacon Heights High, uma escola que distribuíaMacBooks como se eles fossem, bem, maçãs, e vangloriava-se pelas maiores pontuações no SAT
{1} de todo o estado de Washington. Acima, uma faixamarrom e branca dizia PARABÉNS, BEACON HIGH! ELEITA A MELHORESCOLA SECUNDÁRIA DO NOROESTE DO PACÍFICO PELO QUINTO
ANO CONSECUTIVO PELA REVISTA U.S. NEWS & WORLD REPORT!
VAI PEIXE-ESPADA!
Superem isso, Parker queria gritar — embora ela não o tenha feito, porque
isso parecia loucura, até mesmo para ela. Ela olhou ao redor do corredor. Umbando de meninas em suas saias de tênis estava reunido em torno de umespelho no armário, aplicando diligentemente gloss para lábios em seusrostos já impecavelmente maquiados. A poucos metros de distância, umrapaz em uma camisa de botão distribuía folhetos para as eleições para o governo estudantil, seu sorriso deslumbrantemente branco. Duas meninas saíram do auditório e passaram por Parker, uma delas dizendo, — Eu realmente espero que você ganhe esse papel se eu não ganhar. Você é tão talentosa! Parker revirou os olhos. Você não percebe que nada disso importa? Todo
mundo estava lutando por algo ou traçando seu caminho para o topo... e
para quê? Uma melhor chance de ganhar uma bolsa de estudos perfeita? Amelhor oportunidade para conseguir aquele estágio perfeito? Perfeito,perfeito, perfeito, vangloriação, vangloriação, vangloriação. É claro, Parker
costumava ser assim. Não muito tempo atrás, Parker tinha sido popular, inteligente e orientada. Ela tinha um zilhão de amigos no Facebook e Instagram. Ela inventava eleições complicadas que todos participavam, e se ela aparecesse em uma festa, ela fazia o evento. Ela era convidada para tudo, pedia para ser parte de cada clube. Caras a acompanhavam para a
aula e pediam-lhe para ser sua acompanhante. Mas, então, aquilo aconteceu, e a Parker que surgiu das cinzas um ano atrás usava o mesmo moletom com capuz todos os dias para esconder as cicatrizes que marcavam seu rosto que um dia já foi belo. Ela nunca ia para as festas. Ela não olhava o Facebook há meses, não podia se imaginar namorando, não tinha interesse em clubes. Nem uma única alma olhava para ela quando ela caminhava no corredor. Se ela recebia uma olhada, era de apreensão e cautela. Não fale com ela. Ela está danificada. Ela é o que pode
acontecer se você não for perfeito.
Ela estava prestes a ir para a sala de aula de estudos de cinema quando
alguém pegou o braço dela. — Parker. Você esqueceu?
Sua melhor — e única — amiga, Julie Redding, estava atrás dela. Elaparecia perfeitamente refinada em uma blusa branca, seu cabelo castanho-
avermelhado brilhando e seus olhos redondos com preocupação.
— Esqueci o que? — Parker resmungou, puxando mais apertado o capuzsobre seu rosto.
— A reunião de hoje. É obrigatória.
Parker olhou para a amiga. Como se ela se importasse com algo
obrigatório.
— Vamos. — Julie a conduziu ao fundo do corredor, e Parker a seguiu
relutantemente. — Então, onde você esteve, afinal? — Julie sussurrou. —
Eu mandei mensagens de texto por dois dias. Você estava doente?
Parker zombou. — Doente da vida. — Ela faltou a maioria das aulas desta
semana. Ela simplesmente não tinha vontade de ir. O que ela tinha feito comseu tempo, ela não conseguia se lembrar — sua memória de curto prazo erauma coisa complicada nestes dias. — É contagioso, por isso, você podequerer manter distância.
Julie franziu o nariz. — E você estava fumando de novo? Você está com
um cheiro repugnante.
Parker revirou os olhos. Sua amiga estava no modo que Parker sempre
chamava de Mamãe Urso, feroz e protetora. Parker tinha que se manter selembrando que isso era cativante, especialmente porque ninguém mais seimportava se ela vivia ou morria. Julie era o único vestígio remanescente da antiga vida de Parker, e agora que Parker estava envolta em sombras, Julie
era a nova Garota Popular de Beacon. Não que Parker invejasse seu título.
Julie tinha seus próprios demônios para lutar; ela apenas exibia suas
cicatrizes no interior.Elas caminharam pelo corredor, passando por Randy, o zelador hippie,
que estava trabalhando muito duro para manter a escola limpa em todos os momentos. O auditório estava à frente, e Julie abriu a pesada porta de madeira. O grande salão estava cheio de alunos, mas ela se sentiu
estranhamente calma. Um monte de pessoas estava fungando. Algumas
balançavam a cabeça. Algumas meninas se abraçavam. Assim que Parker viu a grande foto de Nolan no palco, sua pressão arterial caiu. As letras DEP estavam escritas em flores debaixo de sua foto. Ela olhou para Julie, se sentindo enganada. Ela esperava que o memorial de Nolan já houvesse acontecido em um dos dias que ela faltou. — Eu vou
dar o fora daqui — ela sussurrou, recuando.
Julie agarrou seu braço. — Por favor — ela insistiu. — Se você não ficar...
bem, você sabe. Pode parecer estranho. Parker mordeu o lábio. Era verdade. Depois do que aconteceu na festa de Nolan, elas não podiam se dar ao luxo de chamar a atenção para si mesmas. Ela olhou para os assentos. Mackenzie Wright e Caitlin Martell-Lewisestavam sentadas algumas fileiras à frente. Ava Jalali estava do outro lado do corredor, sentada rigidamente ao lado de seu namorado. Elas olharam
para cima e trocaram olhares com Julie e Parker. Embora todas elas
estivessem tentando manter-se juntas, todas pareciam assustadas. Era
estranho. Parker ainda mal as conhecia, mas sentia-se ligada a elas por todaa vida. Como vocês fariam isso? Se vocês fossem matá-lo, eu quero dizer? Parker se encolheu. As palavras de Ava daquele dia na aula de filmografia flutuaram tão naturalmente em sua mente que era como se Ava estivesse bem ao seu lado, sussurrando em seu ouvido. Ela olhou para o palco novamente. O Sr. Obata, o diretor, estava folheando alguns slides para a apresentação que estava prestes a dar. Alguns eram fotos de Nolan ao
longo dos anos — vencendo o campeonato estadual de lacrosse, sendo coroado rei do baile, conversando com seus amigos no refeitório. Até mesmo Parker estava em algumas delas, de quando ela e Nolan tinham sido amigos. Outros slides mostravam imagens genéricas de prescrição de comprimidos.
Então isso também ia ter uma mensagem antidrogas, já que todos os rumores diziam que ele tinha tido acidentalmente uma overdose de OxyContin, a sua droga de escolha.
E então veio a surpresa: a foto de Nolan que Mackenzie tinha postado
on-line logo após a festa, aquela com a escrita em seu rosto. A foto estava
borrada em sua maioria, mas os comentários abaixo — um longo parágrafo dizendo ao mundo o quão horrível Nolan era — não estavam. Por isso, ia ser
uma montagem de assédio moral, também. A ironia das ironias, considerando que Nolan tinha sido o maior valentão de todos. A memória de Parker começou a girar com pensamentos sobre Nolan.
Subindo no carro com ele. Rindo de suas piadas sujas. Dirigindo rápido ao
longo da estrada costeira para afugentar o medo. O sentimento brilhante deles bebendo quase uma garrafa inteira de vodca. E então, na noite que ele colocou OxyContin em sua bebida sem lhe dizer. Depois ele disse, Isso não é incrível? Sem nenhum custo. É meu presente para você. Eles tinham sido amigos por anos, mas depois daquela noite, ele nunca mais falou com ela novamente. Ele fingiu que ela não existia. E entretanto, era tudo culpa dele. Se ele não tivesse dado a ela aquelas pílulas, as coisas seriam diferentes agora. Ela seria seu antigo eu. Sem danos. Linda, cheia de vida. Presente. Perfeita.
Ele merece isso, ela se lembrou de dizer meros dias atrás. Todo mundo odeia ele. Eles apenas têm muito medo de admitir isso. Nós seríamos heroínas. De repente, o mundo rodou sem firmeza. Um pico quente de dor
disparou através da testa de Parker, passando como um relâmpago através
de sua visão. Quando ela tentou se mover, seus músculos contraíram. Seusolhos se fecharam.
Julie cutucou-a para frente. — Vamos — ela sussurrou. — Nós temos que
sentar. Temos de agir normalmente.
Outra onda de dor bateu na cabeça de Parker. Seus joelhos se dobraram.
Ela teve tantas enxaquecas após o acidente que ela sabia que isso era o início de outra. Mas ela não podia tê-la aqui. Não no auditório na frente de todas essas pessoas. Um gemido fraco saiu de seus lábios. Através da visão turva, ela pôde apenas distinguir a súbita preocupação no rosto de Julie. — Oh meu Deus —
disse Julie, imediatamente parecendo reconhecer o que estava
acontecendo. — Eu não percebi. Venha. Julie puxou-a e levou-a para fora do auditório e para o canto da bilheteria acima. O ar cheirava a desinfetante de limão, e partículas de poeira rodava no ar. Cartazes para eventos forravam a janela da bilheteria — um panfleto
para Guys and Dolls, outro do próximo concerto da Orquestra de Honras no Outono. Havia até mesmo um cartaz antigo com Parker nele, de quando ela atuou no segundo ano como Julieta. Julie fez Parker se sentar. — Respire — disse ela em voz baixa. — É uma
das ruins, não é?
— Eu estou bem — Parker conseguiu dizer, os punhos cerrados em seu
cabelo loiro. Ela piscou algumas vezes, sua visão ficando clara. A dor
diminuiu para uma dor incômoda, mas sua mente estava dispersa.
— Tem certeza? — perguntou Julie, ajoelhando-se ao lado dela. — Você
quer que eu chame a enfermeira?
— Não — Parker resmungou. Ela deu um suspiro trêmulo. — Eu estou
bem. É só uma dor de cabeça.
Julie apertou a mandíbula, enfiou a mão na bolsa e tirou o frasco de
aspirina que carregava apenas para esta ocasião. Ela entregou dois
comprimidos para Parker, e Parker engoliu seco, sentindo os comprimidos ásperos ralarem contra os lados da garganta. Julie esperou até que Parker houvesse tomado os comprimidos, então
respirou. — Você já pensou mais sobre... falar com um terapeuta?
Parker recuou. — Isso de novo não.
— Estou falando sério. — Os olhos de Julie estavam implorando. —
Parker, suas dores de cabeça estão piorando, e o estresse não ajuda. E com essa coisa de Nolan... bem, eu só estou preocupada com você.
— Terapeuta não. — Parker cruzou os braços sobre o peito. Ela se
imaginou desnudando sua alma para um completo estranho enquanto ele
olhava para ela e perguntava: “Bem, como você se sente sobre isso?” Como
se ele realmente se importasse.
— Eu falei com alguém recentemente... sobre a minha mãe. — Juliebaixou os olhos.
Parker virou sua cabeça para cima. — O quê? Quando?
— Semana passada. Eu ia mencionar isso, mas depois de tudo que
aconteceu e... — ela parou.
Parker segurou o olhar de sua melhor amiga. Julie parecia tão
esperançosa. Parker sabia que isso era difícil para sua melhor amiga, que ela
estava diferente agora do que tinha sido antes. E Julie era tudo que lhe
tinha sobrado. Ela não queria desapontá-la.
— Tudo bem — ela resmungou. — Mas não fique chateada se eu fugir
depois de 10 minutos.
— Feito. — Os ombros de Julie relaxaram visivelmente. Ela deu a Parker um sorriso de gratidão sincero. — Mas você não vai. Eu acho que ele
realmente poderia ajudá-la.
Parker levantou-se, acenou um adeus para Julie, e se dirigiu para a porta
de saída. Ela, de repente, desesperadamente, precisava de um cigarro. Ela caminhou em frente para o estacionamento para um lugar que ela chamava de Alameda, um bosque de árvores que ela e Nolan descobriram no segundo ano e fizeram o seu ponto de encontro de fumar. Ela sempre cheirava a chuva fresca e seiva. Aqui, Parker poderia ser ela mesma sob a capa de folhas — a Parker brava, a Parker louca, ou a Parker atormentada e danificada. Não importava. Ninguém nunca vinha aqui. Ela pegou um cigarro e acendeu-o ansiosamente. Quando a nicotina atingiu sua corrente sanguínea, uma outra memória de Nolan a atingiu. Justo quando ele estava ficando tonto naquela noite em sua festa, ele olhou para ela, realmente olhou para ela, pela primeira vez desde o acidente. E
tudo o que ele disse foi: Eu sempre soube que você era uma vadia louca.
Parker forçou seus olhos a se abrirem. Não, ela disse a si mesma. Ela não
iria cair nesse buraco. Ela não iria reviver a semana passada. Ela iria seguir em frente e esquecer tudo.
— Olá.
Ela olhou para cima. Seu professor de filmografia, o Sr. Granger, estava à
beira das árvores. Granger era um desses professores jovens, legais e de boa aparência que sempre sabia sobre as músicas atuais, olhavam para o outro lado quando os alunos mandavam mensagens na sala de aula, e falava sobre seu semestre em Paris, quando ele tinha bebido absinto e ficado com uma
dançarina burlesca. Ele começou um clube de fotografia, onde os alunos
desenvolveram fotos em preto e branco à moda antiga, e quase toda a
população de estudantes do sexo feminino tinha se inscrito.
Raiva atravessou a pele de Parker. Ele não deveria saber sobre esse lugar.
E ela estava com raiva dele por outras razões também. Ele tinha sido o único
que os fez assistirem aquele filme maldito. Ele tinha sido o único a separá-losem grupos depois. Ele tinha sido o único a perguntar, O assassinato é justificado, desde que a pessoa realmente, realmente mereça isso? Agora, Granger chegou mais perto, puxando um cigarro do seu próprio bolso, o que a surpreendeu. — Eu nunca imaginei que você fosse uma fumante — ele disse em voz baixa, acendendo-o. Parker deu uma tragada. Ela não sabia se ele estava brincando — ela
parecia exatamente com uma fumante. — Eu tenho que ir — disse ela bruscamente, jogando o cigarro na grama e apagando-o com seu sapato.
Até mesmo a Alameda estava arruinada hoje. E quando ela voltou para a escola, ela sentiu mais uma enxaqueca penetrante chegando.
Talvez, ela pensou de repente, ir a um terapeuta fosse útil afinal. Talvez
ele a ajudasse a bloquear todas essas memórias. Talvez ele fizesse algum tipo de hipnose até que ela não tivesse mais nenhum sentimento. Talvez ele
pudesse corrigi-la.
Ou talvez, uma pequena voz na parte de trás de sua cabeça disse, o que
ela fez com Nolan provasse que ela realmente estava arruinada além do
reparo.*****************
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As Perfectionistas
Teen FictionEm meio à vida, estamos envolvidos pela morte. - AGATHA CHRISTIE, O Caso dos Dez Negrinhos (irei rescrever o livro )