No início da noite de quinta-feira, Mackenzie Wright, vestida com uma
saia de retalhos com seu longo cabelo loiro indisciplinado preso por uma
presilha para longe de seu rosto, estava sentada no banco do pssageiro do carro de sua melhor amiga, Claire Coldwell, cantarolando a Sinfonia do
Novo Mundo de Dvořák. A Sra. Rabinowitz, a maestra da Orquestra de Honras, insistiu que elas vivessem, respirassem e dormissem a sinfonia até o próximo concerto. Mackenzie distraidamente movia os dedos junto com a melodia, como se seu violoncelo estivesse bem ali na frente dela, em vez de enfiado no porta-malas do Ford Escape azul de Claire.
— Alôô? Terra para Mackenzie. — Claire acenou com a mão na frente
dos óculos de Mackenzie.
Mackenzie se sacudiu para se concentrar, percebendo que Claire estava conversando com ela. — Oh, desculpe. Eu estou meio distraída hoje. Claire olhou para Mac com simpatia, seus lábios perfeitamente rosas pressionados juntos. — Eu também — ela confidenciou. — A reunião sobre
Nolan foi tão terrível. Eu não consigo esquecer que ele apenas... se foi.
Mackenzie olhou para fora da janela, olhando para os gramados muito
verdes das casas passando. Nolan pode ter ido embora, mas havia
lembranças dele em todos os lugares — fotos dele nas paredes, programas de notícias sobre “overdose acidental”, anúncios da manhã dizendo que seu funeral era no domingo, daqui a três dias. E essa reunião, eca. O diretor tinha mostrado as fotos do rosto riscado de Nolan que a própria Mac havia postado anonimamente em um cibercafé. Beacon High era ótima em tornar uma situação difícil ainda mais difícil, em fazer até mesmo uma reunião memorial ser intensa.
Mas o mais intenso eram as próprias memórias de Mackenzie daquela
noite. — Podemos mudar de assunto? — ela murmurou.
— Claro. Você já soube do seu dia de audição? — Claire disse.
A palavra audição enviou outra pontada de medo através do coração de Mackenzie como um caco de gelo. Claire estava falando sobre a audição de Juilliard. — Hum, sim. É na próxima sexta-feira. Às cinco horas da tarde.
— É mesmo? — Claire endireitou-se, sacudindo o cabelo encaracolado e
curto até os ombros. Era um estilo que ficaria horrível em Mac, mas era
adorável em Claire e a fazia parecer uma fada. Um pequeno sorriso
apareceu no rosto de Claire. — Eu também. Só que eu sou às quatro. Logoantes de você, eu acho.
Gotas de suor apareceram na parte de trás do pescoço de Mackenzie.
Mac e Claire tinham se conhecido há cinco anos em um acampamento de
música para pré-escolares precoces e tinham sido inseparáveis desde então.Claire era super competitiva com Mackenzie, sempre competindo pela primeira cadeira ou impondo o que elas fariam toda sexta à noite, mas ela também era a única pessoa que Mackenzie ainda tinha em comum — com toda a pressão de ser perfeita em Beacon Heights High, muitas pessoas não
podiam entender os sacrifícios que elas tinham que fazer pela música. Elas compartilhavam tudo: os meninos que elas tinham paixões secretas, que
professores de música elas odiavam — e que, às vezes, elas não sentiam nem um pouco de vontade de tocar.
Agora ambas estavam competindo para conseguir uma vaga na Juilliard,
embora a escola de artes nunca tivesse aceitado dois violoncelistas da
mesma escola antes. O que provavelmente significava que não haveria espaço para as duas. E depois de tudo o que tinha acontecido com elas no ano passado, Mackenzie não tinha certeza se queria que houvesse.
— Chegamos. — Claire estacionou do lado de fora do Cupcake Kingdom,
um local popular em Beacon Heights, à direita da praça da cidade. A chuva
da tarde tinha diminuído, mas o asfalto ainda estava molhado e
escorregadio, e as árvores e os postes gotejavam água para baixo da calçada.
— Divirta-se no ensaio da banda.
— Obrigada pela carona — Mackenzie disse, abrindo a porta do banco de
trás e cuidadosamente tirando a case do seu violoncelo. Seus pais haviam
prometido comprar para ela um instrumento profissional de alta qualidade da Alemanha se ela entrasse em Juilliard — ela precisaria de um se ela fosse tocar com os profissionais, mas ela amava seu violoncelo atual. Ela conhecia
cada pequeno arranhão e imperfeição da madeira de ácer brilhante, cada
peculiaridade que ele tinha. Ela até deu-lhe um nome: Moomintroll.
— Sempre que precisar! — Claire gritou pela janela. — Diga a Blake que
eu amo ele!
— Certo, eu digo — Mackenzie murmurou enquanto Claire acelerou.
Então, ela olhou para a janela do Cupcake Kingdom. E lá estava ele,
limpando o balcão, parecendo sexy mesmo com um avental rosa e branco
listrado. Blake Strustek, o motivo de Claire e Mac serem amigas-rivais.
Mac havia se tornado amiga de Blake no colegial e se juntado a banda
dele, Black Lodge. Eles praticavam semanalmente, mas foi só no segundo
ano que Mac percebeu que gostava dele mais do que só um amigo... embora ela não ter tido ideia do que fazer sobre isso. Ela ficava até tarde no ensaio da banda, deixava de fazer outras coisas para estar nos grupos de festivais de música de câmara dele e no acampamento de música ela permanecia perto dele em todas as oportunidades que tinha. A única pessoa que ela confessou sua paixão foi para Claire. Foi por isso que foi um choque quando Claire chegou no ano passado durante a viagem de orquestra da Disneylândia. — Blake me beijou — ela anunciou sem fôlego. — Eu não quis beijá-lo de volta, porque eu sei que você também gosta dele.
— Também? — Mackenzie tinha ecoado, pensando em Blake com seuslábios grandes e curvados, seu cabelo grosso e desgrenhado. Seus olhos azuis e intensos e seus cílios longos. Mackenzie tinha gostado dele desde sempre, mas Claire nunca tinha mencionado que gostava dele também. Nunca.
— Eu vou apenas dizer a ele que não, certo? Que você gosta dele, e que
mesmo que eu realmente, realmente também goste dele, seria estranho nós
sairmos — Claire falou.
— Não! — Mackenzie tinha engasgado, mortificada. A única coisa pior do que Claire gostar de Blake era Blake saber que Mac gostava dele. — Está tudo bem... — ela disse pausadamente. — Você pode ficar com ele. É melhor assim, e você sabe disso, Mackenzie disse a si mesma. Meninos eram uma distração do que realmente importava. Mas isso não significava que ela tinha perdoado Claire totalmente. Claire deveria ser sua melhor amiga, sua confidente. Claire deveria ter se dado conta do que estava fazendo.
Blake notou Mac e abriu a porta. — Oi. Você vem?
Ela apontou para o cupcake em seu torso. — Avental legal — ela brincou.
Blake zombou. — Ei. É preciso um homem seguro de si para usar um
cupcake cor de rosa em seu peito. — Ele esticou os braços para trás do
pescoço e começou a desamarrar. — Entre. Eu já estou fechando, e depois
podemos começar. Ela o seguiu para dentro da loja, que se assemelhava a um jogo de tabuleiro de Candy Land. As paredes eram pintadas com a cor rosa glitter. Havia quadros de cores brilhantes pendurados em todos os lugares com frases como DEIXE ELES COMEREM CUPCAKES! e A VIDA É DOCE! em fontes simples. Duas mesas bistrô vintage estavam sob castiçais de vidro fosco e um aroma amanteigado fez a boca dela salivar. No balcão de vidro, um punhado de belos cupcakes gelados estavam em longas filas. Todos os “sabores” tinham nomes como “The Fat Elvis” ou “The Cherry Bomb”. Os cupcakes eram pegos meticulosamente — parecia que eles tinham quase
esgotado ao longo do dia, mas os que sobraram ainda pareciam esplêndidos.
— Cadê a sua irmã? — Mac perguntou quando Blake virou a placa de
ABERTO para FECHADO. A irmã dele, Marion, tinha aberto essa loja no ano
passado. Blake revirou os olhos. — Tirou o dia de folga. Ela provavelmente está
fazendo manicure e pedicure.
— Deixe-me adivinhar? Pintando de cor de rosa chiclete?
— Com certeza. — Marion era obcecada pela cor rosa — ela até tinha
mechas rosas em seu cabelo.
Blake enrolou seu avental, atirou-o debaixo do balcão e sorriu
ironicamente. — Lembra quando desafiamos ela a se vestir toda de preto? Mac começou a rir. — Eu achei que ela ia ter um ataque.— Bons tempos, Macks — Blake disse, usando o velho apelido que ele tinha dado para ela, mantendo seu olhar em Mac por um segundo. Ela empurrou os óculos de armação preta para cima de seu nariz e olhou para o chão, sentindo-se subitamente culpada. Essas lembranças com Blake foram
antes de ele estar namorando Claire. Quando Blake ainda era todo dela.
Ele abriu a porta do fundo da loja. Mackenzie o seguiu através de uma
cozinha industrial apertade preenchida com batedeiras e tigelas, e depois através de outro conjunto de portas duplas, uma sala de armazenamento de porte médio. Sacos enormes de farinha e açúcar, sacos de guardanapos, suporte de cupcake e pilhas de papel de recibo estavam empilhados nas prateleiras. No centro da sala havia espaço suficiente para uma bateria,
duas cadeiras e um amplificador. O violino de Blake estava em cima de um armário de arquivos pequeno com a case aberta.
— Onde está o resto da banda? — ela perguntou, olhando em volta,
como se os outros membros da banda pudessem estar se escondendo por trás das prateleiras. Blake fez uma careta, contando nos dedos. — Javier está estudando em
cima da hora para o SAT, Dave está reescrevendo a redação para Yale pela
quinta vez e Warren tem, como ele mencionou “uma coisa com uma dama”, embora eu aposto que eles só estão estudando para um teste de química avançada juntos. — Ele revirou os olhos. — Então, somos só você e eu hoje à
noite. Mackenzie engoliu em seco. Ela e Blake... sozinhos? Isso não tinha
acontecido desde que ele começou a namorar Claire. Obrigando-se a agir normal, Mac sentou-se, e eles começaram a ver canção por canção da lista de músicas do próximo show. Havia alguns covers de Coldplay, Mumford & Sons, até mesmo um arranjo de Beyoncé, mas muitas das canções foram escritas pelo próprio Blake. Blake tinha saído
da orquestra no início do primeiro ano, mas ele era mais talentoso
musicalmente do que quase qualquer pessoa que ela conhecia.
Mac tocou, tentando trazer o zumbido inebriante que a atingia quando
ela estava tocando. Era para isso que ela vivia: fazer música, sentir a música. Ela toca violoncelo desde que ela tinha quatro anos, quando seus pais tinham sentado para ouvir Um Pequeno Guia Pessoal de Orquestra e disse a ela para escolher o instrumento que ela queria aprender. Eles tinham um grande interesse, é claro: A mãe dela tocava flauta na Sinfonia de Seattle, e o pai dela era um pianista acompanhador profissional que havia trabalhado
com Yo-Yo Ma, James Galway e Itzhak Perlman. Mackenzie tinha escolhido o violoncelo, ela adorou os sons ricos e
aconchegantes e o enorme alcance que o instrumento produzia. Quando ela estava focada, ela sentia como se ela fosse uma parte da música, seu
instrumento uma extensão dela. Quando ela tocava, ela quase podia
esquecer a prova importante de espanhol que ela ainda não tinha começadoa estudar, ou a Audição com A maiúsculo, ou Nolan.
Quase. Depois da primeira vez que ela viu Claire e Blake de mãos dadas no
concerto da primavera, Mackenzie começou deliberadamente a evitar
ambos — não que eles tenham notado. Ela havia se escondido na sala
arejada de prática de sua família, tocando cada música de seu repertório. Seus pais ficaram animados com isso. Ninguém parecia notar o quão solitária
ela estava. E então, após uma semana de coração partido, Nolan Hotchkiss se aproximou dela no corredor. Mackenzie, certo? Ele havia dito.
Isso mesmo, ela respondeu timidamente. Seu sorriso ficou mais amplo. Você está bonita hoje, ele disse. E então ele girou sobre seus calcanhares e se afastou.
Nolan Hotchkiss. O capitão do time de lacrosse, a primeira escolha para
orador da turma. O bonito e confiante Nolan, com sua mandíbula forte e seu
sorriso inebriante. Ele achou Mac bonita. De repente, Blake não parecia mais tão incrível. Aquele único comentário levou a uma conversa na hora do almoço... e, em seguida, mensagens... e, em seguida, um verdadeiro telefonema. Mac podia ter perdido Blake, mas talvez estivesse tudo bem. Talvez ela devesse ter visado algo maior o tempo todo?
Então, quando Nolan convidou-a para um encontro no Le Poisson, o
restaurante mais extravagante de toda a Beacon Heights, e disse-lhe para “usar um vestido”, ela o fez.
Nolan foi tão encantador da primeira vez... e da segunda, também. E
então, quando ele pediu as fotos, ela mal hesitou. Ela... posou... e, em
seguida, ela enviou para o celular dele antes que ela pudesse pensar duas
vezes. Não foi até que ele apareceu em sua porta no dia seguinte que ela
percebeu que tinha sido enganada.
— Obrigado — ele disse, acenando para algo na frente de seu rosto. Eram
as fotos, impressas em papel brilhante. A maior parte de seu corpo estava escondido atrás de seu violoncelo, mas era óbvio que ela estava nua. Mac olhou dele para seu carro; os amigos dele estavam pendurados para fora das
janelas, rindo dela. Seu coração tinha parado.
— Eu só queria que você soubesse que você me fez ganhar uma aposta
importante. — Nolan riu, em seguida, jogou algo para Mac — um maço de
cédulas. Antes que ela pudesse se recuperar do choque, antes que ela
pudesse jogar o dinheiro de volta para ele, ele riu novamente e caminhou
de volta para seu carro com as fotos enfiadas em seu bolso de trás. Quando
Mac voltou a si, ela queimou o dinheiro no quintal. E então ela chorou pelo que pareceram dias.
Não é à toa que ela queria vingança.Quando ela terminou a peça e abriu os olhos de novo, Blake estava
olhando para ela. — Isso foi... Uau.
Mac passou as mãos para baixo do comprimento de seu rosto, tentando
mudar o foco. Ela estava tão perdida na música que ela tinha esquecido que Blake estava lá. Ela desviou o olhar, o olhar dele estava muito intenso, muito potente.
— Por que você sempre faz isso? — ele perguntou.
Ela olhou para ele novamente. — O quê?
— Olha para longe. Se esconde. — Ele estava olhando para ela de perto
agora, seus olhos tinha uma cor azul penetrante. — É tão estranho. Quando
você toca, você parece... tão confiante. Como se nada pudesse te intimidar.
Mas depois que você para, você fica quieta e escondida. É como se você
guardasse o melhor de si mesma para a sua música. A cor rosa encheu suas bochechas, seu coração batia forte em seu peito.
— Eu não estou escondendo nada.
— Não? — Ele estendeu a mão para ela e cuidadosamente tirou seus
óculos, dobrando suas pernas e colocando-os em cima do amplificador. Ela piscou os olhos, o mundo turvo sem suas lentes — mas Blake estava tão perto que ela podia vê-lo perfeitamente. Seus olhos se moviam lentamente em suas feições, como se estivesse guardando em sua memória.
— Você sabe o quão bonita você é quando você toca? — Então, para sua
surpresa, seus lábios estavam nos dela, suaves, mas insistentes.
Por um momento, ela ficou sentada imóvel, confusa demais para reagir.
Blake tinha um pouco de gosto de chocolate e manteiga de amendoim, seu queixo barbado levemente arranhando contra seu queixo. Mac sabia que ela tinha que fazer alguma coisa, acabar com isso, mas logo tudo desapareceu: seu nervosismo, suas preocupações, o que aconteceu com Nolan. Isso apenas pareceu... certo.
Foi quando uma música da Feist irrompeu do celular dele. Mac sabia o
motivo do toque: Era a música favorita de Claire. Ela afastou-se
rapidamente com as bochechas vermelhas.
Blake se afastou, também, uma expressão de culpa cruzando seu rosto. — Droga.
Ele atravessou inquieto a porta da cozinha, mas não antes que ela
pudesse ouvi-lo dizer: — Ei, baby, o que foi? Mackenzie ficou sentada congelada, seus lábios ainda com o gosto de manteiga de amendoim. Ela se contorceu, como se Claire pudesse vê-la através do celular. Como se Claire soubesse. Ela se levantou, pegou suas coisas, e saiu da loja de cupcake antes que Blake pudesse impedi-la. Ela bateu a porta da frente e os sinos tilintaram. Assim que ela estava do lado de fora, a chuva cobriu seu rosto e elapercebeu a enormidade do que ela tinha feito. Ela beijou o namorado de sua melhor amiga. E ela gostou...................
E aí gente o que estão achando??
Desculpa ter demorado tanto mais vou ver se amanhã posto 3 ep
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As Perfectionistas
Teen FictionEm meio à vida, estamos envolvidos pela morte. - AGATHA CHRISTIE, O Caso dos Dez Negrinhos (irei rescrever o livro )