Prólogo

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De muitas maneiras, Beacon Heights, Washington, parece com qualquer
subúrbio rico: Com balanços rangendo suavemente com a brisa da noite, os gramados verdes e bem conservados, e todos os vizinhos se conhecem. Mas este satélite de Seattle não é nada comum. Em Beacon, não é suficiente ser bom; você tem que ser o melhor. Com a perfeição vem a pressão. Alguns alunos daqui são os melhores do país e, às vezes, eles têm que deixar sair um pouco de vapor. O que cinco meninas não sabem, porém, é que o vapor pode escaldar tanto como uma chama aberta.
E alguém está prestes a se queimar.
* * *
Na sexta-feira à noite, quando o sol estava se pondo, os carros começaram a se dirigir até a enorme vila falsa-italiana de Nolan Hotchkiss em uma península com vista para o Lago Washington. A casa tinha portões de ferro forjado, uma calçada circular com uma fonte de mármore, várias varandas e um lustre de cristal de três camadas visível através da janela da frente de dois andares. Todas as luzes estavam acesas, um baixo estava sendo tocado alto lá dentro, e se ouvia uma animação do quintal. Jovens com licor ardente dos armários ou garrafas de vinho dos seus pais dentro de suas bolsas caminhavam até os degraus da frente e entravam. Não havia necessidade de tocar a campainha, o Sr. e a Sra. Hotchkiss não estavam em casa. Que pena. Eles estavam perdendo a maior festa do ano. Caitlin Martell-Lewis, vestida em seu melhor par de jeans de perna reta,
uma polo verde que acentuavamancha âmbar em seus olhos, e tênis TOMS com forro xadrez, saiu de um Escalade com seu
namorado, Josh Friday, e os seus amigos de futebol Asher Collins Timothy Burgess. Josh, cujo hálito já cheirava a levedura de cerveja que ele tinha bebido na festa pré-jogo, protegeu os olhos castanhos e ficou boquiaberto com a mansão. - Este lugar é demais. Ursula Winters, que queria desesperadamente ser namorada de Timothy
- ela também era a maior rival do futebol de Caitlin - saiu do banco de trás e ajustou sua blusa de manga dólmã enorme. - O garoto tem tudo isso.
- Exceto uma alma - Caitlin murmurou, mancando até o gramado em
seu tornozelo ainda-dolorido-de-uma-lesão-do-futebol. O silêncio caiu sobre
o grupo quando eles entraram no grande hall de entrada, com seu piso
quadriculado e uma escadaria dupla. Josh lançou-lhe um olhar de soslaio. -
O quê? Eu estava brincando - disse Caitlin com uma risada.
Porque se você falar contra Nolan - ou se você sequer boicotar sua festa
- você estará fora da lista dos populares de Beacon Heights High. Mas Nolan tinha tantos inimigos quanto amigos, e Caitlin o odiava mais do que
tudo. Seu coração batia forte, pensando na coisa secreta que ela estava prestes a fazer. Ela se perguntava se as outras já estavam lá.
* * *
A sala de lazer estava cheia de velas e almofadas vermelhas gordas. Julie
Redding estava sendo bajulada pelos seus admiradores no meio da sala. Seu cabelo ruivo estava caído em linha reta e brilhante pelas suas costas. Ela usava um vestido sem alças Kate Spade e sapatos de salto alto cor de osso que mostrava suas pernas longas e ágeis. Um após o outro, seus colegas caminharam até ela e elogiaram sua roupa, seus dentes brancos, suas incríveis joias, uma coisa engraçada que ela tinha dito na aula de inglês no outro dia. Isso já era esperado, naturalmente - todo mundo sempre amava Julie. Ela era a garota mais popular da escola. Em seguida, Ashley Ferguson, uma terceiranista que tinha acabado de
tingir o cabelo no mesmo tom castanho avermelhado do de Julie, parou e deu um sorriso reverente. - Você está maravilhosa - ela falou, assim como os outros.
- Obrigada - disse Julie modestamente.
- Onde você conseguiu esse vestido? - perguntou Ashley.
A amiga de Julie, Nissa Frankel, inseriu-se entre as duas. - Porque,
Ashley? - ela retrucou. - Você vai comprar exatamente o mesmo?
Julie riu quando Nissa e Natalie Houma, outra das amigas de Julie,
bateram as mãos uma na da outra. Ashley apertou a mandíbula e afastou-se. Julie mordeu o lábio, se perguntando se ela tinha sido muito má. Só havia uma pessoa com quem ela queria ser má deliberadamente esta noite.
E essa pessoa era Nolan.
* * *
Enquanto isso, Ava Jalali estava com o namorado, Alex Cohen, na
cozinha reformada de carvalho e mármore dos Hotchkiss, mordiscando uma tira de cenoura. Ela olhou para a torre de cupcakes junto à bandeja
vegetariana com saudade. - Me lembre por que eu decidi fazer uma
purificação de novo?
- Porque você é louca? - Alex ergueu as sobrancelhas maliciosamente.
Ava deu-lhe um olhar hum-dã e empurrou seu cabelo escuro, liso, reto e perfeito para fora de seus olhos. Ela era o tipo de garota que odiava até
mesmo olhar para as seções transversais do corpo humano na aula de biologia; ela não podia suportar a ideia de que ela era tão feia e confusa por dentro.Alex bateu o dedo no açúcar cristalizado e levou a mão em direção ao rosto de Ava. - Gostoso...
Ava recuou. - Tira isso de perto de mim! - Mas então ela deu uma
risadinha. Alex havia se mudado para aqui na nona série. Ele não era tão
popular ou tão rico como alguns dos outros caras, mas ele sempre a fazia rir. Mas, então, a visão de alguém na porta tirou o sorriso do seu rosto. Nolan Hotchkiss, o anfitrião da festa, olhou para ela com um sorriso quase
territorial. Ele merece o que vai acontecer com ele, ela pensou sombriamente.
* * *
No quintal - que tinha grandes arcadas que ligavam um pátio ao outro; grandes vasos de plantas; e uma passarela de ardósia que praticamente terminava na água - Mackenzie Wright arregaçou as calças jeans, tirou os anéis dos dedos do pé, e arremessou seus pés na piscina de borda infinita. Um monte de pessoas estava nadando, incluindo sua melhor amiga, Claire Coldwell, e o namorado de Claire, Blake Strustek.
Blake girou em torno de Claire entrelaçou os dedos com os dela. - Ei,
cuidado com meus dedos - alertou Claire. - Eles são o meu ingresso para
Juilliard. Blake olhou para Mac e revirou os olhos. Mac olhou para o lado, quase como se ela não gostasse de Blake de jeito nenhum.
Ou, talvez, porque ela gostasse muito dele. Então a porta do pátio abriu, e Nolan Hotchkiss, o cara do momento,
passeou no gramado com um olhar presunçoso deu-sou-o-dono-desta-festa
em seu rosto. Ele passou por dois garotos e bateu em seus punhos. Depois de um momento, eles olharam em direção à Mac e começaram a sussurrar. Mac sugou seu estômago, sentindo seus olhares apurarem seu nariz arrebitado, seus óculos com sua armação escura moderna, e seu largo e volumoso cachecol de tricô. Ela sabia o que eles estavam falando. Seu ódio por Nolan deflagrou novamente.
Bip. O telefone dela, que estava pousado ao lado dela no chão de azulejos, se iluminou. Mac olhou para a mensagem de sua nova amiga, Caitlin Martell-Lewis. Está na hora.
Julie e Ava receberam as mesmas mensagens. Como robôs, todas elas se
levantaram, pediram licença e caminharam até o ponto de encontro. Copos vazios estavam no chão no corredor. Havia um cupcake esmagado na parede da cozinha, e a sala de lazer cheirava distintamente a maconha. As meninas subiram as escadas e trocaram olhares nervosos e longos. Caitlin limpou a garganta. - Então. Ava apertou seus lábios cheios e olhou para seu reflexo no espelho
enorme. Caitlin revirou os ombros para trás e sentiu algo em sua bolsa. Ele sacudiu um pouco. Mac olhou para a própria bolsa para garantir que a câmera que ela roubou da mesa de sua mãe ainda estava lá dentro.
Então o olhar de Julie fixou em uma figura que pairava na porta. Era
Parker Duvall, sua melhor amiga. Ela veio, assim como Julie esperava que ela faria. Como de costume, Parker usava uma saia jeans curta, meias de renda preta e um suéter preto enorme. Quando ela viu Julie, ela tirou o capuz do rosto, com um largo sorriso se espalhando por todo o rosto e iluminando suas cicatrizes. Julie tentou não suspirar, mas era tão raro que Parker permitisse que alguém visse seu rosto. Parker correu para as meninas, puxando o capuz ao redor do rosto mais uma vez. Todas as cinco olharam em volta para ver se alguém estava olhando. - Eu não posso acreditar que estamos fazendo isso - admitiu Mackenzie. As sobrancelhas de Caitlin fizeram um V. - Você não está dando para
trás, não é? Mac balançou a cabeça rapidamente. - Claro que não.
- Ótimo. - Caitlin olhou para as outras. - Todas ainda estão dentro?
Parker assentiu. Depois de um momento, Julie disse que sim, também. E Ava, que estava retocando seu gloss, deu um único aceno, decisivo. Seus olhares se voltaram para Nolan enquanto ele caminhava através da sala de estar. Ele cumprimentou as pessoas entusiasticamente. Deu tapinhas
nas costas dos amigos. Lançou um sorriso vencedor para uma menina que se parecia com uma caloura, e os olhos da menina se arregalaram com o choque. Sussurrou algo para uma garota diferente, e seu rosto murchou
rapidamente. Esse era o tipo de poder que Nolan Hotchkiss tinha sobre as pessoas. Ele era o cara mais popular da escola, bonito, atlético, charmoso, o chefe de
todos os comitês e clubes que ele se juntava. Sua família era a mais rica,
também - você não poderia caminhar um quilômetro sem ver o nome Hotchkiss em uma das novas construções aparecer, ou virar uma página no jornal sem ver a mãe senadora estadual de Nolan cortar uma fita em uma nova padaria, creche, parque público ou biblioteca. Mais do que isso, havia algo nele que, basicamente... hipnotizava você. Um olhar, uma sugestão, um comando, um comentário sarcástico, um sopro, um constrangimento público, e você estava sob seu poder para sempre. Nolan controlava Beacon, quer você goste ou não. Mas como é aquele ditado? "O poder absoluto corrompe absolutamente." E assim como havia pessoas que adoravam Nolan, havia aquelas que não podiam suportá-lo, também. Que queriam que ele... sumisse, de fato.As meninas se entreolharam e sorriram. - Tudo bem, então - disse Ava, saindo no meio da multidão em direção a Nolan. - Vamos fazer isso.
* * *
Como qualquer boa festa, a festa na casa Hotchkiss permaneceu até as
primeiras horas da manhã. Claramente Nolan tinha um acordo com os policiais, porque ninguém invadiu o lugar por causa das bebidas ou até mesmo lhes disse para cortar o barulho. Pouco depois da meia-noite,
algumas fotos da festa foram publicadas on-line: duas meninas se beijando no banheiro; a maior puritana da escola tirando uma foto de corpo inteiro em uma pose meio de lado; um dos maconheiros sorrindo de forma descuidada, segurando vários cupcakes no alto; e o anfitrião da festa desmaiado em um pufe Lovesac no andar de cima com algo escrito em seu rosto. Noitadas eram a especialidade de Nolan, afinal de contas. Foliões desmaiaram no sofá ao ar livre, na rede que estava pendurada entre duas grandes árvores de vidoeiro na parte de trás do imóvel, e em formas de ziguezague no chão. Durante várias horas, a casa ficou quieta, o glacê do cupcake lentamente endurecendo, uma garrafa de vinho jogada de ponta cabeça sobre a pia, um guaxinim cavando através de alguns dos
sacos de lixo que haviam sido deixados no quintal. Nem todo mundo
acordou quando o garoto gritou. Nem mesmo quando esse alguém - um
terceiranista chamado Miro - desceu as escadas correndo e gritando o que
havia acontecido para o operador da emergência fez todos os jovens se
mexer. Foi só quando as ambulâncias soaram na entrada de automóveis, sirenes tocando, luzes piscando, walkie-talkies crepitando, que todos os olhos se abriram. A primeira coisa que todos viram foram os paramédicos em seus coletes
refletores correndo para dentro. Miro apontou para o andar superior. Botas soaram na escada e, em seguida... esses mesmos paramédicos
transportaram alguém para baixo. Alguém que estava com o rosto riscado. Alguém que estava mole e cinza. O paramédico falou em seu rádio. - Nós temos um jovem de dezoito anos de idade, do sexo masculino, MNC. Aquele é Nolan? todo mundo iria sussurrar em horror quando eles saíssem da casa, com uma terrível ressaca. E... MNC? Morto na chegada? Na tarde de sábado, a notícia estava em toda parte. Os pais Hotchkiss voltaram de sua reunião de negócios em Los Angeles naquela noite para fazer o controle de danos, mas já era tarde demais - a cidade inteira sabia que Nolan Hotchkiss caiu morto em sua festa, provavelmente de muita
diversão. Rumores mais sombrios postularam que talvez ele tivesse a
intenção de fazer isso. Beacon era notoriamente difícil para sua prole, afinal de contas, e talvez até mesmo o garoto de ouro Nolan Hotchkiss tinhasentido o calor.
* * *
Quando Julie acordou sábado de manhã e ouviu a notícia, sua garganta
se fechou. Ava pegou o telefone três vezes antes de falar para si mesma
para soltá-lo. Mac olhou para o espaço por um longo, longo tempo, em
seguida, explodiu em lágrimas silenciosas e quentes. E Caitlin, que queria Nolan morto há muito tempo, não pôde deixar de sentir pena de sua
família, mesmo que ele houvesse destruído a dela. E Parker? Ela foi até o cais e olhou para a água, com o rosto escondido sob seu capuz. Sua cabeça latejava com uma enxaqueca que se aproximava. Elas ligaram umas para as outras e falaram em sussurros tempestuosos. Elas sentiam-se terríveis, mas elas eram meninas inteligentes. Meninas lógicas. Nolan Hotchkiss foi embora; o ditador de Beacon Heights High não existia mais. Isso significava sem mais lágrimas. Sem mais bullying. Chega de
viver com medo de que ele iria expor todos os seus segredos terríveis - de
alguma forma, ele sabia de muitos. E de qualquer maneira, nem uma única
pessoa tinha visto elas irem lá para cima com Nolan naquela noite - elas se certificaram disso. Ninguém jamais as conectaria a ele.
O problema, porém, era que alguém tinha visto. Alguém sabia o que elas
tinham feito naquela noite, e muito mais. E alguém iria fazê-las pagar.

Cinco Dias Depois

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