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No sábado nossa casa foi aos poucos se esvaziando e eu levava cada caixa para o caminhão e para o carro na maior lentidão, de propósito, tentando atrasar a mudança para que o desconhecido pudesse vir e me encontrar. Ou Príncipe Desconhecido, como ele ficou sendo chamado por Dêssa depois que contei que não fazia ideia de qual era seu nome nem como procurá-lo.
Eu estava com ainda mais raiva do meu pai por causa daquela maldita mudança. Ele não havia nem se dignado a ir nos ajudar. Mas o dia passou, para minha infelicidade, e no fim da tarde não havia mais nada que pudesse ser levado para o novo apartamento.
Havia sido muito difícil suportar todos os meses de brigas entre meus pais até que saísse o divórcio. Foi ainda pior quando descobri que precisaria sair de minha casa de infância por causa da divisão de bens.
Meus pais haviam se separado havia mais de um ano, mas foi apenas poucos meses antes que entraram finalmente com o divórcio, como se até então algum deles tivesse esperança de que as coisas viessem a melhorar. Com isso, tivemos que vender a enorme casa de três quartos em que vivíamos há pelo menos dez anos.
Às vezes eu achava que era uma espécie de vingança dele contra minha mãe por ela não tê-lo perdoado dessa vez. Mas, bem, ela tinha completa razão. Foi Cristina quem o encontrou em um restaurante beijando uma das advogadas do seu escritório e, sendo assim, quem contou a nossa mãe o que meu pai estava fazendo.
Ao que parecia, não era a primeira vez que ele tinha um caso com alguém do trabalho e então ela não pode mais acreditar em suas mentiras, o mandando embora. Talvez fosse por esse motivo que minha irmã havia inventado de fazer intercâmbio bem naquela época. O problema era que eu era a única a sofrer com todas aquelas brigas por causa da casa e Cristina só teria que lidar com tudo quando voltasse em alguns meses. É muito mais fácil quando se tem vinte e dois anos e está no final da graduação e não dezesseis e no segundo ano do ensino médio! Eu nada podia fazer.
Por esse motivo iríamos para um bairro bem mais longe e moraríamos, eu e minha mãe, em um apartamento enquanto meu pai morava novamente com meus avós.
Por isso, apenas o Desconhecido tinha o poder de me encontrar, mas eu não tinha como saber quando ele poderia ir até minha casa. Se é que faria isso. Pelos meus conhecimentos, o cara podia estar rindo da minha cara de idiota naquele momento. Eu não era tão boba para achar que ele realmente estaria apaixonado a essa altura, não?
Não sabíamos nada um sobre o outro, a não ser que tínhamos uma boa diferença de idade, e que ele frequentava a universidade, enquanto eu frequentava o ensino médio. Havia mais de dez universidades na cidade e região, e possivelmente mais de cem escolas. Seria como procurar uma agulha no meio do palheiro. Não adiantava nem tentar.
Voltar para a casa vazia e ficar esperando por horas até que aparecesse me parecia ridículo. E nada seguro. Além do mais, era sábado, e já havia me comprometido a ir ao aniversário de minha colega. O que me fez lembrar que seu primo também estaria lá.
Victor Hugo! Havia até me esquecido depois dos últimos acontecimentos.
Não estava com muita vontade de me arrumar por causa do que estava sentindo, além do que aquela mudança também havia me causado muito estresse. Mesmo assim fiz um esforço e fui até a pizzaria, pensando em logo inventar uma desculpa para voltar para casa.
Quando cheguei, Dêssa correu e veio me abraçar. Sorri meio sem graça e ela já entendeu porque minha expressão. Nem precisou perguntar se o Desconhecido havia aparecido.
Para tentar me animar, tentou voltar minha atenção para Victor Hugo. Justo quem eu não estava nem um pouco a fim de notar.
Tentei ao máximo parecer simpática quando ele sentou ao meu lado, algum tempo depois, puxando papo. O garoto continuava lindo. Naquele momento, entretanto, nem tinha olhos para ele, respondendo monossilabicamente, sem me estender em nenhum assunto. Ele percebeu, é claro. Ao invés de entender meus modos como não querendo sua atenção, pensou que estava com vergonha de fazer qualquer coisa na frente de seus pais, que, sendo tios de Luísa, estavam presentes na comemoração.
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Quando é Pra Acontecer (degustação)
ChickLitCarolina não é muito constante no amor e não está buscando nenhum relacionamento estável. A verdade é que sempre que as coisas começam a ficar mais sérias, ela dá um jeito de achar uma desculpa para que tudo acabe. Culpa da vida, é o que pensa. Seu...