Capítulo 1

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Uma mulher de poucas vestes se esgueirava furtivamente pelas rachaduras estreitas do castelo real de Gulan

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Uma mulher de poucas vestes se esgueirava furtivamente pelas rachaduras estreitas do castelo real de Gulan. Até aquela grandiosa fortaleza sofria os desgastes das guerras e do tempo, e Kaah'li as conhecia como a palma de sua mão. Exatamente por isso ela prosseguia cautelosamente, se aproveitando do negror da sua pele para se esconder por entre as fendas das muralhas que davam entre a vizinhança nobre e o enorme jardim do rei, enquanto os guardas faziam suas vigílias rotineiras.

De longe, a humana fitava o alto de uma torre a leste dos portões principais. Suas fontes confiáveis (servos e escravos do rei) haviam lhe informado que aquela torre dava no quarto da princesa Tâmia, a pequena e única herdeira do trono. Entre Kaah' li e seu objetivo, se encontrava um jardim bem cuidado, com arbustos em formato de deuses e deusas, cavaleiros e dragões. O sol crepuscular pintava de dourado as folhas e a água da fonte, deixando o jardim com um ar quase feérico.

Algumas aias trocavam gracejos perto de uma pequena fonte, enquanto dois guardas orcs vigiavam a porta de acesso ao castelo.

Paciência.

Kaah'li ficara esperando naquela rachadura desconfortável por um tempo, até que o sol se pôs e as aias caminharam para dentro do castelo, atraindo a atenção dos orcs, que as seguiram com mãos bobas. Mãos gigantes e bobas. Vigiar deveria ser um trabalho muito tedioso, e aquelas aias eram muito mais divertidas, que passavam soltando risinhos e gritos com os toques.

Agora.

A infiltradora correu sem fazer nenhum som. Não usava quase nenhuma roupa, pois nenhuma tintura ou tecido comum conseguia simular o preto natural da sua pele, tão favorável a furtividade. Em sua cintura, apenas uma cinta de couro que embainhava uma espada curta de aço negro bem afiado. Seus seios eram pequenos, e ela não via necessidade de cobri-los com mais tecido que chamasse atenção, e suas roupas de baixo também eram quase inexistentes, o que ajudava em sua movimentação suave e silenciosa. Kaah'li tinha cabelos curtos e despenteados tão negros quanto sua pele.

Com um floreio, avançou até chegar à parede de pedras, logo abaixo da torre que se formava a uma incalculável distância, em direção aos céus. Deixou suas costas desnudas encostarem as frias pedras do castelo e ficou quieta, com olhos e ouvidos apurados.

Suba.

Kaah'li usou seu corpo leve e começou a escalar habilidosamente, em movimentos quase aracnídeos, usando os dedos das mãos e dos pés descalços para se agarrar nas pequenas brechas entre uma pedra e outra, se aproveitando mais uma vez das marcas que o tempo trouxe àquele castelo. Lá em cima estaria a princesa em seu costumeiro sono vespertino, como havia informado uma das serviçais do lugar.

Não olhe pra baixo.

Já havia subido muito, e ainda faltava bastante até chegar a janela da princesa. Seus braços já começavam a vacilar, mas qualquer erro significava sua queda, e naquela altura teria no mínimo alguns ossos fraturados, além de ser pega em flagrante invadindo os aposentos reais. Os sons dos arbustos sacudindo lá embaixo ficavam cada vez mais distantes, até desaparecerem de vez. Agora o único barulho que se ouvia era do vento forte e intermitente que soprava no corpo semi-nu da mulher que não ousava cambalear.

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⏰ Last updated: Jan 28, 2019 ⏰

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Crônicas de Kaah'liWhere stories live. Discover now