Mais que o Acaso (Complefo Na Amazon)

3 - Coisas que o tempo Não Apaga

Luísa

Desembarco no aeroporto internacional ao amanhecer. Estou exausta e louca para dormir, mas não há tempo. Daqui a seis meses, vou dormir para sempre, não posso gastar tempo dormindo agora. Com o endereço em mãos, pego um táxi, passo no hotel onde deixo minhas malas e em seguida, sigo para a Céu & Mar.

Será que não estou me precipitando, vindo até aqui? Não quero que ela me reconheça. Quero passar uns dias por aqui, como quem não quer nada além de se envolver nos assuntos da empresa que acabou de adquirir uma porcentagem considerável de ações. Por enquanto é assim que vou me comportar.

Minha cabeça dói. Uma dorzinha chata e insistente. Não sei se é o nervosismo ou cansaço, fome ou meu tumor deixando claro que é ele quem manda. Respiro fundo e me apresento na portaria.

― Oi, bom dia. Me chamo Luísa e gostaria de falar com a Bárbara. Ela se encontra?

A recepcionista simpática, me diz que Bárbara ainda não chegou, mas que não deve demorar. Pergunta se quero aguardar ou se prefiro falar com a Joana, a sócia de Bárbara e diretora da empresa.

― Na verdade eu gostaria de dar uma volta, comer alguma coisa... Ouvi dizer que o restaurante daqui opera milagres! É verdade?

― Com certeza. ― afirma, sorridente ― É só descer, virar à esquerda. É de frente para a represa. Corre lá!

Agradeço, sorrindo de volta e desço, seguindo suas instruções. O restaurante está vazio, mas o cheiro de massa no forno, me faz salivar. Consulto o relógio. É cedo ainda. Acabou de dar oito horas.

― Olá! ― um cara alto me cumprimenta ― Já sei, veio atraída pelo cheiro. ― ele arrisca, enquanto coloca pães e folhados na mesa enorme bancada self servisse..

― Provavelmente. ― respondo, constrangida ― Não abriu ainda, né? A faminta aqui pode esperar lá fora, até que vocês estejam prontos.

Mas quando faço menção de sair, ele me chama:

― Ei, fique! Estamos abertos sim ou você não teria passado pela porta, né mesmo? ― diz ele, se divertindo com o meu constrangimento. ― Ah, meu nome é Rodrigo. E não sou eu que faço essas maravilhas. Só vim dar uma forcinha. Posso sugerir seu café da manhã?

Digo que sim, alertando-o de que não como fritura.

― Somos dois! ― ele pisca para mim e some do meu campo de visão, enquanto me acomodo numa das mesas.

Rodrigo volta com um prato com uma variedade de coisas e coloca diante de mim. Estou faminta e não faço drama. Experimento tudo, enquanto ele me observa sorrindo:

― Tava mesmo com fome, hein!

― Desembarquei ao amanhecer, após uma viagem de quase trinta horas, com escalas e conexões. Quase não comi no voo porque fico tensa demais em aviões, então meu estômago trava.

― Medo de altura? Qual é?

― Sim. Bastante.

Ele meneia a cabeça, achando inacreditável uma adulta afirmar tal coisa.

― E eu aqui, ensaiando para te oferecer um voo panorâmico por toda a cidade...

― Voo panorâmico?

― Sou piloto da Céu & Mar. E posso te afirmar que é um passeio lindo e super seguro.

― Seguro, até que caia, né mesmo?