12 - Regência

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Odeio reuniões, esse era o único pensamento que vinha em minha cabeca. Tavarres estava sentado a minha frente de um jeito desconfortável, meu pai berrava ordens até para o ar e a raiva já estava friamente me consumindo.

- Quero que mais pessoas vigiem os muros! Esses bastardos não vão entrar em minha cidade e causar terror! Quem ultrapassar será morto, entenderam?! - não duvido que até os alunos da academia tenham concordado com os gritos dele, mesmo estando a um quilômetro de distância de lá.

- Sim, senhor Regente. - os soldados sairam apressados, eu também sairia mas minhas obrigações me prendem aqui.

- Tavarres, você o único homem em quem eu confio. Use seus alunos para algo útil. - ele concordou respirando forte. - E você Ruan, o que anda fazendo para ajudar?!

- Estudando. - respondi dando de ombros, eu não tinha nada haver com os muros.

- Tavarres, coloque ele com o Victor. - ao ouvir o nome do bastardo me levantei batendo na mesa com meus punhos, meu pai fazia questão em me comparar aquele garoto impertinente.

- Eu não vou ser aluno desse imbecil! - meu ódio por Victor era terrivelmente palpável, ele tinha sido o número Cinco mais prestigiado da academia. Minha meta era supera-lo e não ser aluno dele.

- Aqui quem fala mais alto sou eu! Além de regente sou seu pai! Se eu disser que você vai aprender com Victor é isso que você vai fazer, entendeu? - nossos olhos eram como adagas perfurando o ego um do outro, era a única coisa que tinhamos em comum.

- Eu sou melhor, ele que deveria implorar para ser meu aluno! - rebati, eu não aceitaria me rebaixar a esse ponto humilhante. Se ele quer que eu o desafie esta conseguindo, minhas veias estão pulsando como se o desgraçado estivesse em minha frente agora.

- Não discuta comigo, ordens dadas. Saiam da minha sala! - não esperei que ele concluisse para sair esbravejando a todos os ventos o quanto eu o odiava.

- Ruan, não será tão ruim assim. - Tavarres nunca entenderia, todos chegaram onde estão sem mediadores e eu estou sendo rebaixado a pedir ajuda porque o meu pai não acha que eu seja bom o suficiente.

- Claro, você sempre foi o primeiro da turma. O que sabe sobre humilhação? Nada, teve seus méritos por tudo que fez sozinho. Assim como Victor também, mas isso não me faz idolatra-lo sabia? O ódio que eu sinto pelo seu filho me corrói! - deixei que as palavras cortassem o ar silencioso entre nós. Ele andava ao meu encalço até chegarmos nas portas de vidro do prédio da Regência.

- Victor sempre soube a hora de calar a boca e aceitar quando está errado, e acredite é a única coisa que me faz ama-lo. Eu não me importo se ele domina bem suas atribuições, o que tem por trás do fogo é a essência do ser. Não estou dizendo para deixar de odia-lo, Victor pode ser bem insuportável quando quer mas,estou pedindo que dê uma chance para que alguém te ajude. Fique calado e aceite que os mais velhos tem algo a lhe ensinar. - bufei, encarei seu rosto sem expressão e fechei o meu em uma carranca.

- Sou melhor do que ele. - resmunguei entre os dentes, o calor já tomava conta do meu corpo de um jeito estranho, a raiva estava esvaindo pelos meus poros.

- Então mostre isso, para mim, seu pai e para Victor. Mandarei ele lhe buscar assim que possível. - não esperou uma resposta minha, apenas me deu as costas e foi embora.

Os passos até a academia foram pesados, apressados e silenciosos, eu gostava de andar. Respirava fundo diversas vezes para não socar qualquer idiota que demorava a sair do caminho, chutava algumas pedras pelo caminho para clarear a mente e esquecer o fato de que iria ser treinado por alguém que odeio.

Não notei ter chegado a academia e me vi parado em frente a porta de espelho, entrei notando o silêncio na ala principal e não demorei a deduzir que era hora do almoço. Minha barriga roncou assim cheguei a porta do refeitório, praticamente corri em direção a comida e me servi de bastante coisa, não tinha tomado café da manhã.

Quando voltei alguns passos para a mesa onde sempre sentava notei duas pessoas a mais, uma era o Felipe que ficava cochichando o tempo inteiro no ouvido da Leticia e a outra era uma garota pequena que não estava acostumada com o tamanho das mesas do refeitório. Achei que nunca encontraria alguém menor que a Leticia, me enganei. Me sentei na ponta da mesa como sempre fazia, e as vozes invadiram minha cabeça fazendo ela latejar.

- Calem a maldita boca, minha cabeça vai explodir. - falei em um tom sério, as vozes cessaram quase de imediato.

- Olha o senhor simpatia ai! - era o Felipe que mostrava toda a sua chatice.

- Porque você não vai olhar se eu estou na esquina?- um sorriso baixo chamou minha atenção, ao meu lado estava Gabriel e ao lado dele a pequena garota ria do que eu falei. Ganhando a atenção de todos.

- Desculpe. - ela sussurrou, voltando a comer em silêncio.

- Oh, não. Continue, sua risada é gostosa. - Gabriel sorriu em direção a garota que pareceu corar,o capuz estava sobre sua cabeça cobrindo os olhos mas o resto do rosto estava bem a mostra.

- Ele tem razão. - concordei e agora toda atenção estava em mim, merda. - Como se chama?

- Sou a Eris. - ela respondeu menando a cabeça.

- Sou o Ruan, prazer. - ela sorriu, aquela garota parecia uma boneca. Espantei os pensamentos quando Lore se aproximou e beijou minha bochecha.

- Oi amor. Eca! O que ela está fazendo aqui!? - Gabriel se pos em pé como uma espécie de protetor da garota, Luiz arqueou a sobrancelha e levantou a guarda, Antony fervilhava de raiva por cima dos óculos redondos, Leticia e Felipe encaravam Lorena com desdém. E eu? Espantado e bem no meio da guerra fria.

- Lorena, já conversamos sobre isso. - Luiz, o apaziguador. Tudo tinha que ser resolvido na conversa segundo ele.

- Não vou sentar aqui se ela continuar! - Eris se levantou calada mas Gabriel fez com que ela voltasse ao lugar.

- Está nos fazendo um favor, deixe a Eris em paz e suma! - Antony tinha veneno na língua, eu sabia bem disso. Em questão de bate-boca ele era minha primeira opção de ataque.

- Pessoal, vamos manter a calma. Lorena sente-se e pare de chiliqui esta bem? Deixe a garota. - eu realmente tentei ser ameno, Lorena era arisca demais.

- Prefere ela agora? ! - por todos os sols, em que merda eu estou me metendo?

- Não disse isso, só quero que se sente e coma junto a todos presentes. Está na hora do almoço, eu estou faminto e com a cabeça em tempo de explodir, então se senta calada ou sai daqui. - a raiva que eu tinha não era dela, eu só estava com fome.

Alguma coisa que eu disse pareceu surtir efeito por que ela desapareceu e eu pude enfim comer em paz, não me importo com que ela esteja sentindo ou pensando agora eu sei que mais tarde ela vai me querer de volta. Os sorrisos voltaram a mesa e todos agiam como sempre, Antony irritando a Leticia e o Felipe, Luiz e Gabriel elogiando a pequena garota e eu comendo igual um animal enjaulado.

- Eris, eu te procurei por todo lugar! - eu conhecia aquela voz a quilômetros de distância, Victor entrou no refeitório sutilmente e tocou nos ombros da Eris de um jeito íntimo demais.

- Só estou almoçando. - ela respondeu com um sorriso doce, ele retribuiu e assentiu.

- Certo, quando terminar eu estarei na sala do Tavarres. Ah, Ruan marcarei uma hora para começarmos. - aquele riso convencido me dava vontade de mata-lo. Ele acariciou a cabeça da garota e saiu novamente.

- Victor é seu namorado? - Gabirel tratou de perguntar o que estava escrito na testa de todos presentes, ele parecia incomodado.

- Não, Victor é meu amigo. -

O que acharam do Ruan?

Numbers Zero - Livro 1(DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora