O livro

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"Alô, pode falar Daiana"
"Kate March, 27 anos e sem antecedentes criminais. Ela trabalhava em uma loja de conveniência, parecia ser uma boa pessoa... E você? Descobriu alguma coisa?"
"Estou indo para a casa do namorado dela fazer algumas perguntas. Me ligue se encontrar algo"
Ane estacionou o carro em frente a um apartamento, a tinta desbotada, o vermelho de antes agora parecia mais com rosa
"Com licença, tem alguém em casa?"
Depois de algumas batidas um rapaz de cabelos escuros apareceu
"Você seria... Felipe?"
"Sim, eu posso te ajudar?"
"Ah... Claro, eu sou a detetive Peers. Gostaria de fazer algumas perguntas sobre sua namorada"
Ele hesitou antes de responder
"Entre"
O interior do apartamento estava cuidadosamente decorado, cada móvel parecia ter sido feito especialmente para aquele lugar. Em cima da mesa de centro a foto de um casal chamava a atenção
"Esta na foto era Kate?"
"Sim, nós tiramos essa foto na formatura da faculdade"
"E como Kate era, quero dizer, ela se dava bem com todos?"
"Sim, Kate sempre foi uma pessoa doce e sociável, todos a adoravam mas... Nos últimos meses ela ficou estranha"
"Estranha como?"
"Não queria sair do quarto, ficava quase sempre trancada e não falava com ninguém"
"Você sabe o motivo deste isolamento?"
"Foi aquele livro, é tudo culpa dele. Desde que Kate colocou as mãos naquilo eu não a reconheci mais"
"Livro? - será que - você quer dizer este aqui?"
Assim que Ane retirou o embrulho de couro da bolsa os olhos do rapaz se arregalaram em um misto de terror e surpresa
"O-onde você encontrou isso?"
"Junto com Kate, a policia encontrou"
"Eu sabia! É tudo culpa dessa... Dessa coisa, você tem que se livrar do livro. Foi ele que matou Kate "
"Me desculpe mas... Eu acho meio improvável um livro matar uma pessoa"
Felipe se levantou de repente e segurou Ane pelos ombros
"Você não entende detetive, desde que Kate leu aquele livro a vida dela mudou completamente: disse que estava vendo coisas, que alguém a chamava e que estava sendo perseguida, exatamente como no livro. A princípio eu não acreditei mas naquele dia... Quando fui atrás dela eu vi... Eu vi o livro matar Kate"
"Eu... Não consigo acreditar"
"Não estou pedindo que acredite, mas preste muita atenção no que eu vou lhe dizer: você nunca! Jamais deve ler aquele livro"
Os pensamentos de Ane estavam a mil, o que tornou a volta para casa ainda mais longa, aquele depoimento duvidoso não levaria a lugar nenhum, mas aquele olhar não era de alguém que estava mentindo. Será mesmo possível?
Após alguns minutos no trânsito finalmente em casa, uma linda e luxuosa casa no Queens.
"Acho que vou tomar um banho para me acalmar "
Mas os pensamentos não a deixavam em paz, a curiosidade é maior que a razão. O livro continuava sobre a escrivaninha, ele parecia chama-la... Uma voz aveludada que dizia: abra
"Eu não deveria fazer isso, é uma prova do crime mas... Que mal há em ler um livro?"
A tranca estava emperrada como o policial disse antes, forçar não deu muito certo, então quem sabe um grampo?
"Acho que eu tenho um na gaveta... Achei! Ué, eu jurava estar trancada a um segundo atrás..."
Confusa, Ane apenas ignorou o curioso fato e retirou o embrulho de couro. Prestes a abrir ela se lembrou das palavras de Felipe
'Você nunca! Jamais deve ler aquele livro'
"Este é um título bem sugestivo..."
Não ler e deixar que a inquietação te corroer ou ler e talvez se arrepender para o resto da vida?
"Quer saber, dane-se. Eu vou abrir"
Ane deslizava a primeira pagina quando
"Anelise?"
"Meu Deus Benjamim, que susto. Você quase me matou do coração, não ia ficar até mais tarde?"
"Terminei mais cedo do que eu esperava e... O que você estava fazendo? "
"Nada, apenas trabalhando"
E guardou o livro na gaveta, essa foi por pouco.

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