Sangue, suor e páginas

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Ela voltou para casa o mais rápido que pôde desviando dos carros na medida que a velocidade permitia, o que a curiosidade faz... aliás, ela já matou o gato um dia.

"Eu não acredito que estou fazendo isso, e olhe que nunca gostei muito de ler"

Assim que abriu a porta Ane sabia exatamente onde ir, na gaveta de sua escrivaninha onde havia deixado o livro, mas ele não estava lá

"Só pode ser o Benjamin e essa mania compulsiva por limpeza, ah... mas ele vai ver só"

O marido provavelmente estava no trabalho mas ela ligou assim mesmo e depois de três toques ele atendeu

"Oi Ane, aconteceu alguma coisa?"

"Não se faça de bobo, você mexeu nas minhas coisas de novo não foi?"

"Eu não mexi em nada"

"Mas é claro que foi você, quem mais tem essa mania absurda de limpar tudo que vê?"

"Anelise, está se lembrando que o dia da faxina é sábado? E além do mais, eu sai depois de você, então seja lá o que for: NÃO FUI EU! Preciso desligar"

"Benjamin, não ouse desligar na minha cara..."

"TCHAU"

Um longo suspiro se segue, parece que não foi ele a final, mas onde... o livro, estava em cima da cama

"Como diabos isso foi parar aí? Acho que estou ficando louca..."

Talvez, quem sabe.

Então Anelise abriu primeira página

" Sabe quando você não consegue mais diferenciar o que é real e o que não é? Pois então, este é o estado em que me encontro.

Faltam exatamente três meses e dois dias que eu encontrei ele, ou melhor, ele me encontrou. No inicio fiquei com muito medo mas passei a me acostumar com o tempo.

Por um tempo, agora não aguento mais, perdi a noção, se é que algum dia eu a tive, talvez, se eu não tivesse me encontrado com ele, ou ele tivesse me encontrado? Foi o que eu disse.

Eu não podia sair, ele não permitia, nem mesmo sabia seu nome, era apenas... ele, e o lugar onde eu me encontrava, nunca soube ao certo se era um quarto ou uma cela, havia grades nas janelas, e cortinas, mau se via o sol.

Ele me mandava fazer coisas e estava sempre me vigiando, se eu deixasse de fazer algo, ou alguma coisa, por menor que fosse, ele me castigava, de um jeito ou de outro.

Vozes ecoavam na minha cabeça todos os dias, me davam ordens... mas eu não queria ouvi-las, por isso, na maioria das vezes eu fugia, claro, sem ele saber.

Por que não? Posso dar um passeio hoje, e foi o que eu fiz.

Era estranho sair da casa, eu que estava tão acostumada com a escuridão que o sol me ardia os olhos, as pessoas passavam e me olhavam com desdém, ou talvez fosse só impressão, ou não?

Meu lugar preferido era a praça, alimentar os pombos sempre foi muito divertido, como eles eram bobos... era só aparecer com um pedaço de pão que eles vinham aos montes. Sentei-me no banco e uma coisa me surpreendeu: um pombo branco, fazia tempo que eu não via um, a maioria era cinza e até mesmo preta mas nunca cheguei a ver tamanha beleza.

Tentei alcança-lo, queria tocar suas penas e fazer carinho, foi então que aquela estranha sensação veio e eu sobe imediatamente, ele estava perto.

Me apressei, corri a toda velocidade, o suor frio escorrendo pelo rosto, ele descobriu, mas como? Eu havia sido discreta não, mas era tarde demais, ele estava cada vez mais perto. Já era noite.

As pessoas novamente passavam por mim como vultos, elas riam e falavam: louca, eu não tinha tempo para prestar atenção porque tinha que chegar o mais rápido possível. Quanto mais eu corria mais longe parecia estar, as vozes... elas diziam: cuidado, eu sabia, bem lá no fundo, que era impossível escapar.

Ainda me restavam alguma esperança quando cheguei a esquina, um calafrio percorreu meu corpo e eu gritei, ele havia me encontrado. Senti antes mesmo de ver, os cortes surgindo nos braços, profundos como a escuridão daquela noite, esta não tinha sido a primeira vez que deixei o sangue escorrer junto com as lagrimas"

"O que foi isso?"

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