Capítulo 21 - parte III

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O que Anna não havia reparado é que já estavam na quarta feira e como sempre, o hospital ligou à noite no telefone de Alex para confirmar a consulta. Assim que percebeu do que se tratava eles cruzaram olhares e Anna faz uma negativa com a cabeça. Alex desviou o olhar e confirmou a consulta.

Ao desligar Anna o fuzilava.

— Você não pode simplesmente deixar de ir.

— Sim, eu posso.

Alex passou a língua sobre os dentes, como se estivesse tentando limpar a boca.

— Nós não precisamos ter essa conversa – deu de costas para ela.

Ao ver o homem se virando e dando-lhe as costas, parte de sua visão se embaçou por alguns segundos. Ao voltar, ela decidiu.

— Nós não precisamos ter conversa alguma – concordou — eu vou sair daqui, e não vai mais cuidar de minhas sessões.

Alex estancou o andar e virou para ela, com a cabeça de lado. Deu alguns passos em sua direção com uma expressão agressiva. Parecia completamente indisposto a ser questionado.

— Qual é o seu problema? – o tom dele estava mais baixo e menos controlado.

— Meu problema? – ela bufou – Você é o problema, agindo como se fosse dono da minha vida, me dizendo o que fazer quando eu claramente não quero nem preciso!

— Você é muito mais burra do que parece! – explodiu.

Anna ficou boquiaberta com a reação dele. E apesar de ter se controlado após o pequeno acesso, ele ainda continuou:

— Não existe autonomia para você, entenda de uma vez! Você é uma inválida, in-ca-paz! Seu laudo é de alguém que deve ter vigilância vinte e quatro horas por dia e eu sou seu único responsável legal – abriu os braços – era isso que você precisava ouvir, não é? Pois que ouça. Você sequer tem autorização médica para trabalhar, eu que fiz tudo ao meu alcance com o que o meu trabalho permitia para burlar alguns pontos do laudo, te deixar dirigir, trabalhar. E agora sou eu o cretino!?

Anna ouvia, mas não conseguia acreditar, ou melhor conseguia entender todo sentido no que ele falava e isso acabou com ela.

— Você acha mesmo que pode sair por aí fazendo tudo o que uma pessoa normal faz? – se aproximou e pegou no braço dela. No momento que fez isso, ela girou o braço para o outro lado livrando-se dele em menos de meio segundo. Seu polegar encaixou-se no antebraço de Alex e ela o empurrou com uma potência inesperada, fazendo com que ele tirasse não só o braço de seu caminho como também o forçando dar um passo para trás devido ao impacto.

Antes de Anna compreender o que havia feito, se encararam por segundos. Ela ainda estava atônita e respirava forte. Alex recuou e sem tirar os olhos dela declarou:

— E ainda acha que está tudo bem? – ironizou. Seguiu para o quarto de onde saiu com suas roupas de cama e foi se instalar no quarto de hóspedes, o qual fechou a porta.

***

No dia seguinte, Alex a levou para o trabalho.

Anna agiu com a maior naturalidade possível, mas não conseguia disfarçar o imenso desânimo que tomou conta de si. Até que depois de meia hora chorando trancada no banheiro do escritório, ela pensou em ligar para sua amiga. Na verdade, pensou primeiro em Otto, mas estava com uma vergonha imensa dele. Ao saber sobre o seu laudo psiquiátrico, certamente ele se acharia idiota e a consideraria uma louca. Ligou pra Jessica e contou sobre o ocorrido. Depois de falar longamente, fez-se um silêncio também muito longo.

— Eu não sei o que dizer... – finalmente Jessica se manifestou.

— ...

— É que... eu não sou psiquiatra nem nada, mas... você não parece louca ou incapaz pra mim... só... — suspirou — por que você não pede pra ele te levar em outros especialistas? Não é possível que alguém não possa dar uma segunda opinião, sei lá

— Se eu tivesse minha memória de volta... – suspirou.

Do outro lado da linha, também se ouvir o soltar de ar pesaroso. Ficaram durante muito tempo assim. Até que ouviu uma puxada de ar típica de alguém que abre a boca por que teve uma ideia.

— Já tentou hipnose?

Anna sentiu como se talvez houvesse uma luz no fim do túnel. Poderia ser uma grande besteira, mas o que tinha a perder? Estava nem sabe quanto tempo com aqueles médicos horrorosos e nada adiantou. Se ficasse pior dane-se, seria como uma vingança contra Alex, o obrigar a cuidar de uma louca mais louca "quem mandou ele não ser sincero comigo sobre o meu diagnostico?" pensou.

— Jessica, eu preciso de um favor seu.

— Claro!

— Já te ligo de volta.

Anna então correu para pegar uma lista telefônica que tinha no trabalho e começou a consultar. O primeiro anúncio que lhe soou mais profissional de psicologia com métodos de hipnose ela pegou. Com a desculpa de que queria comprar um doce, saiu do escritório e foi até um orelhão próximo e ligou. Conseguiu por milagre uma consulta para aquela tarde e convenceu o terapeuta a atendê-la em seu trabalho: uma confeitaria na região central da cidade.

Ela não saberia como explicar bem isso à Jessica, mas iria poupar todos os detalhes de precaução que tomou, pois sabia que iria parecer ainda mais instável. Mas depois de considerar algumas coisas, se Alex resolvesse de fato vigia-la por vinte e quatro horas, poderia ser que ele tivesse mesmo essa capacidade. Se é que já não o fazia.

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Olá!

gente, eu não vou postar o outro hoje, porque nele está justamente a cena que ainda preciso trabalhar hihihi mas creio que resolvo isso até a amanhã ;)

kissu!

Pavlov [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora