🌃t h r e e

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Era por volta de meio-dia. Srta. Kim abria todos os armários desesperadamente, nenhum sinal de comida. Sentou-se na pia e colocou a mão na cabeça. Fechou os olhos com força e se esforçou pra não chorar.
Entretanto, tentou em vão. Tentar parar de chorar era como tentar segurar água com as mãos. As lágrimas escorriam pelo seu rosto.
Meio tonta e muito cansada, Srta. Kim caminhou até a mesa da sala, catou uma sacola.
Pensou em sentar no sofa, mas ele estava fedendo a mofo, então sentou-se no chão e virou a sacola com a boca para baixo.
Algumas moedas caíram. Uma média de 7,60, talvez desse pra comprar um sanduíche.
Srta. Kim sabia que não teria escolha, teria que sair de casa e também reabrir a barbearia. Ela sabia o que isso ia atrair, não tinha dúvidas.
O Sr. Yang era um mau-caráter, mesquinho e bêbado e ainda que fosse o irmão de sua mãe, não era tio de Kim.
Sabe-se lá de que morreram o Sr. Kim e a Sra. Yang! Quando Srta. Kim finalmente entendeu o que era a morte já fazia muito tempo do acontecimento. Nessa época ela já não dirigia mais a palavra a seu tio para perguntar também... após um tempo, as poucas memórias de Kim com relação a seus pais se tornaram um passado tão distante quanto inexistente.
E por mais psicopata que soasse: Kim não se importava mais! Não era algo que ela se orgulhava, mas ela realmente não ligava.
"Acho que morrer é como arrancar uma flor. Depois que você arranca, ela não floresce." ela ouviu de sua melhor amiga no 4º ano, foi como um estralo na mente de Kim. Ela sabia que a morte era muito mais complexa do que deixar de florescer, mas aquilo já era muito mais do que ela sabia antes...
E foi lembrando dessa conversa que Kim chorou. Era muito emotiva, sem duvidas, mas por mais emotiva que Srta. Kim fosse ela suportou coisas demais para que possamos julgar.
No lugar da Srta. Kim, todos teríamos nos tornados emotivos...
Respirou fundo, vestiu a camisa branca estampada com o quadro "Noite estrelada" de Van Gogh e saiu.
O sol acertou os olhos dela com força. Tirou os óculos de formato de coração da bolsa e os colocou. Algumas adolescentes encararam ela e pensou, por um rápido segundo, em tirá-los, mas então lembrou-se que realmente não se importava. Seu estilo era sem duvidas muito peculiar e Srta. Kim em si era totalmente excêntrica. Mas qual de nós não é?
~~~
Srta Kim ofegou! Estava muito suada e ainda segurava a navalha.
Estava morto.
E bem morto!
Desesperadamente correu para a cozinha e pegou um dos panos de prato. Não interessaria todos os livros de primeiros-socorros que leu, as informações escorriam de sua cabeça como o sangue escorria da cabeça do corpo no seu colo.
Estava morto.
E bem morto!
Com precisão milimétrica, as gotas que vazavam da pia caiam ao mesmo compasso dos segundos. De repente o tempo passou duas vezes mais lentamente. Por que nunca reparou naquele barulho tão insistente quanto irritante? Por quetudo soava tão ameaçador e ao mesmo tempo monótono?
Estava morto.
E bem morto!
Começou a chorar. Tirou sua blusa xadrez e esfregou freneticamente no chão. As gotas na cozinha caiam a cada segundo. As gotas de sangue também. A lua estava excepcionalmente brilhante e na cabeça da Srta. Kim parecia olhar para a situação com muita curiosidade.
Estava morto.
E bem morto
E então finalmente percebeu. Não adiantaria qualquer coisa que fizesse. Viriam atrás dela. Sentia no fundo de sua alma miserável. Sabia que precisava fugir... ela sabia... sabia!
E então correu como se não pudesse correr nunca mais. Colocou sua vida em uma corrida. As ruas de Yongin nunca foram tão confusas. Suas mãos ainda estavam sujas de sangue que começava a secar e pegar o aspecto de tinta guache vermelha.
Srta. Kim viu os faróis do Corolla 92, mas não parou. Correu ainda assim. Teria morrido atropelada ali mesmo se o homem na direção não tivesse parado.
E foi ali, encarando o homem que parecia ter quebrado o nariz, que Srta Kim lembrou-se
Estava morto.
E bem morto!

psycho; triple-hOnde histórias criam vida. Descubra agora