Hyuna tentava segurar o braço de Lee. O jovem no chão curiosamente ria, com os dentes cheios de sangue. Os cabelos loiros imundos. Fedia a fumaça e álcool.
- Seu. filha. da. puta- falou pausadamente, palavra por palavra. À cada sílaba, Lee socava o jovem.
- Hui, para!- Hyuna começou a chorar.
- Sai daqui' Hyuna!- Lee empurrou Kim que caiu no chão.
Talvez tivesse sido os gritos ou o tumulto na rua que até alguns segundos estava silenciosa, mas o segurança na porta da balada saiu da clássica posição e correu até lá.
De uma forma absurdamente rápida, o homem imobilizou os braços de Hui como se fossem sacolas cheias de ar. Hyuna não conseguiu acompanhar o movimento, mas sabia que doeu muito só pelo estralo e o gemido que Lee soltou.
- Uma viatura de frente para a Ray's. Um 224 agora mesmo.
- Carro, agora!! Chave no bolso esquerdo- Berrou Lee. Mas quando Hyuna se aproximou para pegar a chave, o segurança gritou para que ela não se movesse.
Mas Hyuna não parou. Continuou correndo até Lee. O segurança repetiu a ordem em um tom mais alarmante. E então ele segurou Hyuna, mas seu erro foi ter segurado ela pela cintura.
Uma memória antiga espantou todos os seus pensamentos.
No 8º ano tinha sido voluntária em um abrigo de animais para não ficar de recuperação e ouviu da instrutora que não adiantava castrar só os machos com a desculpa de acalmar eles. As fêmeas são muito mais agressivas: para proteger seu útero. Todas as espécies são assim, exceto a humana — disse a instrutora.
E então lembrou-se do 9º ano, quando matou a aula de ginástica com alguns amigos atrás da quadra e que quando foi no banheiro tinham uns meninos do 2º ano do ensino médio. O mais alto deles segurou a cintura de Hyuna e forçou um movimento extremamente erótico.
E naquele dia Hyuna descobriu o erro da instrutora. A espécie humana não se excluía da regra.
Ela repetiu exatamente o mesmo movimento do dia no banheiro. Colocou os dois polegares na garganta em um gesto completamente automático e apertou como se sua vida dependesse daquilo. Porque provavelmente dependia.
O segurança caiu desmaiado. Hyuna tentou não chorar. Mas não chorar estava além de todas as suas habilidades.
Ela sabia lutar karatê, capoeira, taekwondo, jiu-jítsu, cantar hip hop, compor músicas, escrever poesias, jogar vôlei e até pintar, mas não era capaz de conter as próprias lágrimas.
Hyonjong olhou para o rosto da menina e depois para o segurança desacordado no chão e depois para o rosto da menina.
Ruiva e de sardas.
A "cosquinha" na barriga.
Borboletas na barriga e o caralho a quatro.
Porra!
O pior momento pra se apaixonar é sem duvida quando tem um segurança desmaiado no chão e uma viatura indo em direção a você. O segundo pior momento para se apaixonar é qualquer outro momento em que se apaixone.
"Seu lerdo! Para com isso! A humanidade e essa fixação incompreensível com o amor. Se olhassem como parecem tolos quando estão assim nunca mais cometeriam o mesmo erro."
Mas ele não se importou com a voz da consciência pela primeira vez em muito tempo. Nada mais importava, nem o gosto de sangue na boca, nem as sirenes, nem a dor nos lugares que foi socado, nada mais importava senão a ruiva chorando ali.
"O amor faz você sofrer mais do que a maconha e ainda assim você prefere amar a ruiva? Do que adianta largar o cigarro se seu vício vai se tornar uma sensação por uma mulh-"
– Só cale a boca- sussurrou para a consciência. – Eu juro que posso resolver os problemas que minhas emoções podem causar. Mas por favor: só cale a boca.
– Corre, caralho! – Lee gritou e Hyonjong percebeu que estava parado ali olhando a ruiva há muito tempo.
A primeira viatura parou a alguns metros deles.
E foi quando Hyonjong se lembrou que não era digno de amor.
"Merda, merda. Sai daí seu lerdo!"
E correu muito até o carro de Hui que estava estacionado na esquina da rua.
– Eu não vou deixar esse moleque escroto entrar no meu carro novo. – deixou bem claro.
~~~
Hyonjong pegou mais um amendoim no pacote.
– Esse é o último. – Hyuna disse.
– É... – concordou Hyonjong e deixou as reticências no ar, como se tivesse desistido de terminar.
No banco de trás, mexia com o indicador no encosto do banco de Hyuna.
De vez enquanto encostava no cabelo ruivo.
Fez um lembrete mental de, caso se beijassem, passar a mão pelos cabelos dela.
– Pra onde a gente tá indo mesmo? – perguntou Hyonjong.
– Não sabemos... – Hui completou, esticando os braços. – Mas agora eu preciso parar pra fumar.
– Me disse de noite que ia parar com isso, por causa da tal Chaerin. – Hyuna falou tentando tomar os cigarros da mão de Hui.
– Também preciso. – Hyonjong passou as mãos nos cabelos loiros tingidos.
– Sou mesmo a única que não fuma nesse carro? – Hyuna perguntou.
– Sim! – disseram em sincronia Hyonjong e Hui.
– Mas eu já fumei, sabia?
– 1, 2, no máximo uns assim em alguma festa.- Hui disse.
– Não. Fumava tabaco e maconha!
Hyonjong e Hui ficaram surpresos pra caralho. Abriram a boca tanto que por pouca não arrastou no asfalto.
– E como você conseguiu parar? – Hui perguntou.
– Quando Sr. Yang parou de morar na minha casa comecei a passar fome. Dai' tive que escolher entre comprar comida ou comprar cigarro. Quando comecei a trabalhar pra ganhar meu próprio dinheiro, simplesmente achei que não valia a pena me esforçar tanto pra gastar tudo em troca de um simples prazer – Disse com naturalidade.
–. E você não surtava de quase arrancar os cabelos? Ficar brava e etc? – Hyonjong parecia ter ouvido algo muito surreal.
– Não. – Hyuna disse com muita naturalidade.
– Eu acho que desistir de fumar é bem fácil. – Disse Hui e Hyonjong arregalou os olhos. – Eu, por exemplo, faço isso umas 300 vezes por dia.
Hyonjong deu uma risada baixinha, mas Hyuna gargalhou alto.
E então mergulharam em um silêncio profundo e agoniante. Só os pneus rodando e o motor do Corolla 92 faziam algum som.
Com menos de dez minutos, Hyuna se sentiu incomodada com aquilo. Ligou o rádio em alguma estação aleatória, tocava Macarena.
– Música chata da porra! – Hui quase esmurrou o botão – Essa sim é a melhor estação de rádio que existe.- Sympathy For The Devil (Rolling Stones) começou a tocar.
– Essa é a minha música preferida da minha vida toda. Rolling Stones é a melhor banda do século, eu poderia jurar em cima da Bíblia.
– Quando sua música favorita é sobre o diabo, jurar mentiras sobre a bíblia não significa nada além de mais algumas punições no inferno e sobre a parte de Rolling Stones ser a melhor banda dos últimos tempos sou obrigada a discordar. Aerosmith claramente supera, Led Zeppelin também não fica muito atrás. – Hyuna cuspiu as palavras de uma vez, com toda a convicção do mundo.
– Histórico? Beatles e Queen. O resto tenta. – Hui disse lentamente, quase de forma preguiçosa.
– Sympathy for the devil é a música que mais me identifico nessa vida. Nada mais é tão... eu quanto essa música.
– A que mais me resume? Não faço ideia! Mas minha música favorita sempre foi Walk This Way. Toys in The Arttic maior álbum da história, sem sombra de dúvida! – Kim deixou o mais claro que pode.
Quando começaram a discutir sobre os álbuns, Walk This Way começou a tocar na rádio. Riram muito por algum tempo.
– Estranho... to' nesse carro há umas seis horas no máximo e sinto como se conhecesse vocês desde os oito anos de idade. – Kim disse.
Lee simplesmente concordou, não era a pessoa mais próxima que tinha tido em sua vida tão infeliz, mas eram os primeiros amigos que tinha, bem... desde o que aconteceu com Chaerin
– Mas a gente não é muito diferente pra dar certo? –Hyonjong perguntou.
– Somos muito diferentes, exatamente por isso dá' certo. – Lee cuspiu o chiclete que mascava desde que saiu do bar.
E então mergulharam novamente no silêncio...
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psycho; triple-h
FanfictionOnde um suicida, uma homicida e um ladrão se juntam por terem simplesmente algo em comum. Que tipo de história se tira disso? #1 - em Hyudawn (24/05/19)