— Eu disse que ele ia gritar. — a menina ergueu as sobrancelhas, levando uma expressão convencida no rosto.
Lançou um sorrisinho arrogante para a camada masculina de delinquentes curiosos que haviam se juntado em cima da janela. Estavam lá exclusivamente para ver o mais novo brinquedo da Bruxa da Cabana. Poucos sabiam seu nome de verdade. Exceto quem a colocou presa lá, quem tinha o desprivilegio de saber acabava morto. E ninguém ousava tentar descobrir. Estava lá por anos, desde que o lugar fora aberto. Tudo que sabiam era que comia pessoas.
"Então ela é a Bruxa dos Doces?", um deles perguntou uma vez ao carrasco. Ele riu como se fosse a melhor piada do mundo. E imaginar algo pior que a Bruxa dos Doces foi o suficiente para que não desejassem saber mais sobre.
— Nunca vi Henni tão desesperado. Pensei que ele fosse um psicopata, nunca chorou ou demonstrou dor em três anos nesse lugar. — disse Francis Way.
— Talvez ele só fingia bem e chorava no banho. — o garoto ao lado de Francis falou, mas a menina não sabia exatamente qual era seu nome. Lembrava-se apenas de ser um apelido esquisito.
— De qualquer forma, — os interrompeu, tomando uma respiração impaciente. — ele está morto agora. E vocês me devem três dias de regalias e uma massagem nos pés. — sorriu, levantando-se do apoio da janela, onde estava sentada.
Resmungos em protesto encheram a pequena sala. Kael os deixou ali mesmo quando saiu porta afora, sem se preocupar em responder ou em não ter o acordo cumprido posteriormente — sabia que eles iriam cumprir. Ainda não estavam loucos para brincar com ela. O Reformatório podia inibir sua magia, mas nunca sua reputação, ou seu mais negro interior. Todos pensavam que era louca. Ousavam dizer? Não. E quando no escuro começava a falar sozinha de propósito, realmente acreditavam que os espíritos, que vez ou outra passavam no exterior do castelo, eram seus amigos.
Não estavam totalmente errados. De fato possuía amigos do outro lado, embora não fossem do tipo que pensavam. Só que, às vezes, o reformatório podia ser uma colônia de férias em momentos como aquele. Precisava de um tempo longe dos amigos. Nada além dos limites do castelo podia chegar até ela, completamente bloqueados pela incrível magia tecnológica aplicada ali. As sombras a faziam favores — em troca de algumas coisas, é claro — e mesmo que fosse maravilhoso ter o que quisesse quando pedisse, podia ser enlouquecedor conviver com elas.
Quando cruzou o corredor de volta para os dormitórios, encontrou Sirius socando uma parede descascada. Imaginava que os tijolos de pedra não desfarelariam uma grama nem com o metal mais forte do reino, quem diria os socos langorosos do garoto. Se aproximando, conseguiu ver parte da estrutura manchada de sangue. Oh, pequeno lobo, o que te deixou com tanta raiva?
— E aí, lobinho. Por que está tentando machucar a parede? — cruzou os braços ao cessar os passos que a levariam para mais perto, era melhor manter uma distância um pouco segura. Mesmo que não tivesse medo do amigo.
Ele apenas a olhou por cima dos ombros, com os olhos brilhando em púrpura por míseros segundos , e então se apagando. Percebeu que ofegava pela maneira que os músculos de suas costas subiam e desciam pesadamente.
— É lua cheia. Sinto meus ossos querendo se quebrar em mil pedaços, sinto a agonia. Mas sei que não vai acontecer nada. Nunca acontece nada. — socou a parede mais uma vez, recebendo uma mão trêmula e ensaguentada de volta. — Esse maldito reformatório me impede. E eu também não me curo.
— Isso não te machuca? Pensei que não gostasse. — indagou de sobrancelha erguida. Sirius ainda não a olhava.
— Não é sobre me machucar, Kael. É sobre perder... uma parte de mim... — suspirou. — Não importa.
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Enchanted High
FantasiaEm Talesland as coisas não eram normais. Definitivamente, um reino de magia não poderia ser. E logo, quando (quase) todos conseguiram seus finais felizes e as forças do mal haviam sido aparentemente derrotadas, a roda de conversa para princesas amal...