Scars unleashed - pt. I

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# 7 anos atrás.

  "Não saiam da casa", Valerie havia dito firmemente à Verena. Era noite e as coisas estavam estranhas havia algumas semanas. Ataques aconteciam frequentemente na vila, e a cada um deles, Valerie saía de casa para algo que as garotas não sabiam exatamente o que era. A mãe estava constantemente preocupada, elas não iam mais para a escola. Suas vidas se resumiram a estocar o máximo de comida em casa e não sair dela para mais longe do que a primeira árvore na extremidade do quintal. Talvez se morassem na cidade, seria mais fácil com portões e cercas elétricas, mas era muito arriscado se mudar, Valerie dissera. Além do mais, aquela era a noite decisiva, onde ela resolveria todo o problema e então teriam suas vidas normais de volta.

  O objetivo principal era obedecer, Verena queria tremendamente obedecer. Tinha medo do que se espreitava lá fora, não estava afim de arriscar. Mas não foi o que aconteceu.

  Ela tinha apenas dez anos, no entanto sabia cuidar bem de Lizzie, sua irmã mais nova. Essa tinha seis. A mãe a deixava sob os cuidados de Verena, que naquele momento fazia uma panela de mingau de chocolate, o preferido delas. Lizzie, sentada à mesa, pintava porquinhos com cores irrealistas. Um era verde, outro roxo com bolinhas. Para uma criança tão pequena, Lizzie sabia pintar perfeitamente dentro das linhas.

  — Espero que o lobo mau não coma meus porquinhos. — disse a pequena, ganhando a atenção repentina de Verena.

  — Ele não vai, Lizzie. Ele não existe, lembra? — mentiu, como a mãe sempre fazia. Era melhor que Lizzie não soubesse da crueldade do mundo antes que amadurecesse.

  — Meus amigos disseram que sim. Disseram que ele ia me pegar junto com as outras crianças levadas. — ela parou de pintar. — Eu sou levada?

  — Não, Lizzie, você é a criança mais comportada que eu já vi. — disse a mais velha, colocando a panela de mingau na mesa e pegando o prato para servir.

  — Obrigada. Eu não quero que o lobo me pegue.

  — Chega desse assunto. — revirou os olhos. — Vai guardar suas coisas pra gente comer.

  Lizzie obedeceu e, depois, quando retornou a mesa, passou a língua nos lábios para o mingau.

  Começou a comer pelas beiradinhas, como havia sido ensinada. Daquela forma pegaria as partes mais frias e não queimaria a língua.

  — Hmmm, tá muito gostoso. — disse de boca cheia. Verena riu.

  Crack.

  O barulho soou lá fora. O coração de Verena acelerou, com medo, mas pensou que talvez pudesse ser a mãe. Afastou-se da mesa para levantar, indo até a janela. Não havia ninguém lá fora, apenas folhas voando com o vento. Até que a figura feminina surgiu de repente, assustando-a. Verena apertou os olhos, não conseguiu ver exatamente o rosto da pessoa até que ela fosse mais para a frente, onde a lua iluminava melhor.

  — Tia Caroline? — murmurou um pouco surpresa. E quando seus olhos analisaram melhor a figura, percebeu o grande ferimento na coxa dela, escorrendo sangue. — Ai, meu Deus!

  Verena correu para pegar as chaves. O que sua tia estava fazendo ali e como havia se machucado era um grande ponto de interrogação, mas não importava se Verena quisesse ajudá-la.

  — Lizzie, fique aqui dentro. Volto agorinha, a tia Carol está lá fora.

  — O quê?! — a menor deu um pulo, mas àquela altura Verena já havia saído.

  Seria rápido, ela apenas levaria Caroline para dentro de casa e a ajudaria com o ferimento. Mas quando chegou lá, ela tinha desaparecido. Verena sentiu o frio da noite congelar seus ossos. Tremeu violentamente quando o elemento puxou seus cabelos para o lado. Deveria ter voltado para dentro, definitivamente deveria, mas estava preocupada. O que havia acontecido à tia? Confusa, chamou pela mesma, mas não recebeu mais do que o uivo agudo do vento.

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