-Ariela – mamãe estava conversando com alguém, talvez papai - Estou preocupada com ela faz alguns dias. - um pouco de silêncio – Sim. Ela estava desmaiada – ela começou a chorar- E se... se ela descobrir? Ou melhor, e se ela souber?
Percebi o quanto estava olhando fixamente para o teto amarelo e desviei o olhar para a porta, e dessa vez eu acordei com um largo sorriso por isso ser possível, eu estava enxergando.
Me levantei e fui seguindo a voz da minha mãe, ela estava falando um pouco alto comparado a outra pessoa. Quando cheguei na cozinha, ela ficou branca e desligou o telefone, e entendi o porque só a voz dela estava aparecendo. Ela não estava falando com o meu pai, pois ele estava bem ao seu lado.
-Se eu descubro o que?
Meus pais me olharam de cima a baixo.
Eu percebi os olhares curiosos deles em direção aos meus olhos. Mas, não vi surpresa. E isso me assustou um pouco.
Minha mãe era loira e tinha os olhos negros como a noite, ela era bem encorpada, era exatamente como eu via nas minhas lembranças, sua pele parda destacava seus cabelos. Ela era bonita. Papai era muito parecido com a minha mãe, até no cabelo loiro, porém, curto e bem aparado.
- O que... - papai me olhou com repreensão, e percebi que naquele momento eles não deviam me explicar nada, mas, sim, eu a eles - Pai... Mãe... Talvez vocês até achem engraçado isso, mas, esses últimos dias têm sido loucos.
Mamãe levantou seu rosto e me encarou. Me doeu vê-la com aquele olhar de dor, ela parecia saber o que eu tinha para falar.
- Uma das coisas loucas que me aconteceu, foi o fato dos meus olhos abrirem. – falei sorrindo, e apontando para meus olhos.
E apenas confirmei o fato deles não estarem surpresos. Desfiz meu sorriso bobo e abaixei a mão lentamente. Eu estava começando a me sentir desconfortável.
-E aconteceu muitas outras coisas também. – lágrimas começaram descer- E por isso eu... – pensei na proposta de Vector, pensei no risco que minha família corria com a minha presença na casa, e disse, com muita dor – acho que o melhor a fazer é ir embora. Eu não vou arriscar a vida de vocês por causa da minha condenação a que fui exposta.
A expressão da minha mãe caiu mais ainda, meu pai continuou de braços cruzados, ele parecia saber de cada palavra que eu ia dizer.
- Quando pretende partir? – minha mãe perguntou com lágrimas nos olhos.
Eu suspirei bem fundo, e comecei a perceber que eu não sabia do que eu estava falando.
Eu nem conhecia o misterioso e ignorante Vector Hollestor, e nem sabia se a história do barco era real. Eu nem sabia se os absurdos sobre minha mãe já saber de tudo isso eram verdade.
Eu realmente não sabia de nada. E isso me assustava.
Mas, eu sabia que eu ficar em casa, era um risco. Já que eu poderia condenar a morte todos que eu amava, por medo e egoísmo, coisa que eu jamais permitiria.
Então, levantei a cabeça e olhei no fundo dos olhos da minha mãe, e decidi que seria o mais forte possível, pela minha família.
- Essa noite.
Minha mãe chegou bem perto de mim e acariciou meu rosto.
- A maior parte de mim não quer que você vá – ela chorou – mas, a outra mínima parte, sabe que você deve ir. Sempre soube.
- Por favor mãe. – uma lágrima ameaçou cair- Não torne tudo mais difícil.
Ela segurou o choro e continuou desenhando meu rosto com seus dedos macios, eu amava quando ela fazia isso comigo.
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QUANDO O MUNDO RECOMEÇOU
Historical FictionAriela Victory é uma garota de recém 24 anos, inocente, cega e com todo um futuro promissor, mas, sofrido pela frente. Vivendo num mundo pós terceira guerra mundial, onde todos de olhos claros são condenados a morte, ela se vê diante de uma luta com...