Chiaroscuro

2- Coisas para fazer

Já fazia dois dias que Ernest havia chegado em Paris e dois dias que ele estava trancado em casa (já que havia algumas coisas na geladeira e ele ainda tinha cigarros), porém, quando foi almoçar, percebeu que aquela era sua última refeição possível e ele seria obrigado a tirar o pijama e ir comprar alguma coisa, afinal, não dava para viver de ar.

Terminou o prato de comida e apenas o jogou dentro da pia, junto com as outras coisas. Quando ele voltasse, lavaria a louça, não estava com vontade de fazer isso naquele momento. Vai que na volta ele ficasse com vontade (mesmo se não ficasse ele se obrigaria a lavar, já que teria que comer e ele não queria gerar mais louça);

Se arrastou até o quarto e tirou de dentro da mala a primeira roupa que viu, nem reparou se combinavam ou não. Sorte que era verão e era difícil alguma coisa não combinar com calça jeans. Estava tudo meio que sobre controle, o que não estava no seu controle era o vazio que estava sentindo. Tinha certeza que era por estar dois dias trancado sozinho em casa só pensando no ex, mas não tinha culpa de não conhecer nada ali e não ter vontade de fazer coisa alguma.

Ernest tomou um banho gelado para ver se conseguia ter alguma disposição, já que no final das contas ia ter que sair pra rua por forças maiores. Aproveito a sensação da água no seu corpo, esperando que levasse alguma coisa embora pelo ralo, principalmente aquela dor no seu peito que andava o sufocando, por isso seus banhos estavam sendo mais demorados que o normal.

Saiu do chuveiro (ou banheira) com a mesma sensação que entrou e quis se dar um soco na cara, ele não aguentava mais aquilo, parecia que a qualquer momento iria desistir de tudo, descomprir a promessa que fez para clement e só ficar deitado na cama esperando as coisas piorarem, mesmo tendo milhão de tarefas para fazer, como conseguir um plano para o seu celular, mas ele podia fazer isso outra hora. Ainda não estava com vontade de interagir na internet, por isso nem tinha mexido no wifi do apartamento, um passo de cada vez e hoje era ir no mercado.

Pegou seu celular rezando para ter bateria. Ele precisava descobrir onde tinha um mercado, já que ele não conseguiria pedir informação, então teria que ser guiado pelo seu amigo google maps e rezar para ele o levar no lugar certo. Para sua sorte como não andava usando o aparelho ele ainda estava em 50% de carga Assim que Ernest ligou o wifi o aparelho praticamente travou devido ao numero de notificações que chegaram: no whatsapp, haviam mensagens de que era sua irmã, de Antony, seu amigo, que perguntava se Ernest tinha morrido O twitter com estava repleto de coisas desnecessárias, assim como o instagram, então ele ignorou tudo Abriu o maps do iphone, mas naquele momento apareceu uma notificação no celular escrito "Você me prometeu que ficaria bem, trate de fazer alguma coisa útil da sua vida ou pelo menos comprar comida. Ass:Clement".

Ele quase tacou seu celular na parede. Aquelas notificações que Clem programou não o ajudavam, pelo ao contrario, só faziam com que ele se lembrasse mais do outro, o deixando preso naquele loop horrível de lembranças.

Respirou fundo e passou as mãos nos cabelos castanhos que ainda estavam molhados, fazendo um pouco de água voar e molhar a tela do seu celular e o fez sussurrar

-Eu tô tentando, eu juro que tô tentando, mas não dá pra te superar do dia pra noite Clement, vamos com calma. Agora eu vou no mercado, me dá licença

Fechou a notificação que aparecia na tela e deixou o gps fazer o serviço de achar a sua localização e digitou na rota "Supermercado" Apareceu um á 9 minutos dali que se chamava Supermarché G20.Basicamente, Ernest precisava descer umas 4 quadras, dobrar a direita e andar um pouco reto que chegaria ao lugar, porém para garantir tirou um print da tela.

Foi até o quarto e pegou um pouco de dinheiro. Ele não estava muito afim de sair com o cartão, naquele bairro batiam carteira, era melhor que levassem seu dinheiro do que o cartão de crédito, a pessoa que roubasse seu cartão ia ter uma sorte bem grande e poderia fazer um grande estrago, era melhor prevenir.