Um novo começo

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O garoto de cabelo castanhos deslizou pelo banco do avião, quase se enterrando na poltrona enquanto puxava a coberta fina acima da sua cabeça. Ele odiava aviões, achava que a qualquer momento aquele negócio que voava ia cair e ele morrer. O naquele momento era o menor dos seus problemas, já que o garoto não queria colocar nenhum dos seus pés em Paris. Achava tudo aquilo uma grande babaquice, ainda mais quando seus amigos vinham com aquela história que ele tinha que começar de novo. Para eles era fácil falar aquilo, nenhum deles tinha perdido o ex namorado.

O oxigênio começou a queimar e ele começou a se sentir aflito, mas não saiu dali. Sentir o quente da sua respiração estava sendo melhor do que olhar o nada pela janela do avião, sem contar que era noite e não dava para ver muita coisa. Ele não havia dormido e aquilo não estava ajudando as horas a passarem. Já tinha escutado todas as músicas que haviam no seu celular e assistido a uns 2 filmes que havia no avião, não tinha nada mais para distraí-lo e diminuir qualquer crise de ansiedade.

Sentia sua respiração ficar acelerada, suas mãos suarem, seu coração se apertar tanto que até causava uma leve falta de ar. Tudo que conseguia pensar era "Droga, eu odeio Paris, eu odeio a França em geral, eu já tinha falado mil vezes isso para ele, para todo mundo na verdade... EU NEM SEI FALAR FRANCÊS, EU NÃO VOU NEM CONSEGUIR PEGAR UM TAXI... Como eu vou ver as aulas se não vou entender nada?? Droga, as aulas começam daqui duas semanas, eu nem devo mais saber tirar fotos, não faço isso há um bom tempo... DROGA EU ME ODEIO E TE ODEIO MAIS AINDA POR ME COLOCAR NISSO TUDO".

Foi tirado do seus devaneios pela voz da aeromoça falando em várias línguas que o avião estava pousando e era a hora de colocar o cinto de segurança. Ele apenas puxou o cobertor, o retirando da cabeça e respirando mais aliviado por causa do ar puro. Fechou o cinto com rapidez, não seria dessa vez que o avião cairia.

Ao olhar pela janela via as luzes se transformarem em prédios, ruas, carros. A cidade estava ganhando forma, era um lugar bonito. Pena que o povo não era muito educado e ele não tinha muita certeza se queria recomeçar, mas agora não tinha mais volta ele já havia chegado ali, a única coisa que podia fazer era ir para sua nova casa e gritar sozinho.

O avião pousou em uma suavidade que o pessoal que estava dentro até aplaudiu. O rapaz fez aquilo só por educação. Ele não andava de muito bom humor nesse último mês, mas a culpa realmente não era sua, nunca é legal ver a pessoa que se ama morrer, ainda da maneira que ele viu.

A senhora que estava do seu lado começou a se mexer e a pegar as coisas que havia guardado em cima, sorriu para o rapaz e falou algo em francês que ele realmente não entendeu, apenas sorriu forçado para ela, era o que a educação mandava, mas só conseguia pensar "Eu estou lascado, não entendo nem a senhoria, tudo que eu sei em francês tem conotação sexual ou é palavrão!"

Esperou os corredores ficarem com menos tráfego e se levantou, pegou a sua máquina, que estava guardada em cima dos assentos, e assim como todo mundo ele saiu, se misturando naquele monte de pessoas, puxando mais a máscara facial mais para cima do nariz, escondendo ainda mais o rosto, deixando só os olhos puxados aparecendo, já que seu cabelo estava sendo escondido pelo boné preto que ele começava a arrumar na cabeça. Pelo menos no meio daquela multidão ele se sentia bem, ninguém sabia o porque estava ali, nem queriam saber, assim não precisava repetir a merda da história que o levou aquela cidade pela milésima vez.

Pegou a suas duas malas da esteira e saiu do local olhando o chão, tentando se convencer que aquela era a melhor ideias de todas, que todo mundo estava certo e que tudo no final das contas ia correr bem. Que ele ia conseguir aprender o francês na marra, ia se divertir, conseguir recomeçar e no final das contas achar alguém, porque ele merecia aquilo.

Quando as luzes da rua atingiram seus olhos, ele fez uma careta. Olhou à sua frente achando alguns táxis, não ia ser tão difícil, era só falar o endereço. Ele não era tão burro para não conseguir fazer aquilo, ele ia conseguir, ia se deitar na cama e dormir, ele precisava.

ChiaroscuroWhere stories live. Discover now