- Não posso fazer isto. – afastou-se de mim atrapalhado com a situação.
- Porquê?
- Eu... eu... – abriu a boca como se fosse dizer algo mas rapidamente se calou. – Deixa-me sozinho, por favor. – rangeu os dentes como se estivesse a impedir que algo lhe explodisse pela boca.
- Harry... que se passa? – perguntei preocupada. Nunca o tinha visto assim tão inquieto.
- Sai! – quase gritou fazendo o meu corpo estremecer.
Gritar comigo nunca era solução. Quando me levantavam a voz eu estremecia e ficava revoltada e só me apetecia fugir mas desta vez não arredei pé. Permaneci no carro a olhar para ele, sem medos. Porquê? Porque é que ele não podia?
- Sai... – voltou a murmurar desviando o olhar ignorando-me completamente.
Desisti. Saí do carro e bati a porta com tanta força que me admiro do vidro não ter partido. Sentia-me triste, revoltada. Nunca pensei que me fosse sentir assim depois do melhor beijo da minha vida. Agora que estava a começar a interessar-me por alguém, agora que estava finalmente a dar-me a conhecer desta maneira a alguém, esse alguém decide arruinar tudo e deitar a baixo toda a confiança que tinha nele. Harry era a pessoa mais dedicada que alguma vez conheci. Harry tinha amor para dar e não tinha medo de o dar. Harry nunca tinha aparecido no centro sem um sorriso. Eu sabia que ele era diferente das outras pessoas. Mas não conseguia entender esta atitude dele, apenas não fazia sentido. Do nada estava tudo tão bem e, de um momento para o outro, tudo se desmoronou. Ele parecia outra pessoa.
Entrei em casa com as atenções completamente alteradas e subi para o meu quarto. Deitei-me na cama, aliás, atirei-me para cima da cama completamente aluada com tudo aquilo. Não sabia se haveria de sorrir por ter acontecido ou chorar por ter acabado daquela forma tão fria, tão vazia.
Podia continuar a lamentar-me, na realidade, estava ali há horas. Deitada na cama, sentada no parapeito da janela, sentada na cadeira, deitada no chão, deambulei pelo quarto horas. E conclusões? Nenhuma. Não havia nada a fazer a não ser confrontar. Pensei por momentos enviar uma mensagem mas rapidamente me auto-dissuadi a fazê-lo.
Seria muito cobarde enfrentá-lo assim.
**
Já era o 3 dia consecutivo que Harry não aparecia no centro. Se eu achava que eu é que era cobarde por andar com medo de o encontrar então ele era o cúmulo da cobardia por nem sequer conseguir aparecer no local de trabalho. Nunca pensei que um simples beijo pudesse causar tanto transtorno.
A Joana continuava a desenhar rabiscos que me faziam lembrar dele. A toda a hora ela me fazia lembrar dele. Olhava para ela a brincar e já era estranho ele não estar lá, ao lado dela, a segurar a sua mão para ela desenhar mais perfeitinho.
*flashback on*
- Amanhã faço anos. – disse Harry enquanto brincava com Joana. – Ainda não sei se venho ao centro.
- Eh lá. Quantos fazes?
- 21. – respondeu sorrindo sem desviar o olhar de Joana.
- Muito bem, se vieres amanhã, dou-te uma prendinha! – sorri feita parva. Estava claramente a implicar com ele e ele sabia disso.
- És muito engraçadinha tu! –deitou a língua de fora como um puto de 5 anos.
No dia seguinte sentei-me com a Joana em frente a uma mesa e comecei a desenhar com ela. O meu jeitinho para desenhar era tanto que os meus desenhos quase se confundiam com os dela. Entretanto tentei a custo explicar-lhe que o Harry fazia anos. Acabamos por desenhar uma tentativa de caricatura dele e escrevi por cima “Parabéns” e assinamos por trás, “as meninas mais lindas do mundo: Maria e Joana”.
Mal ele chegou agimos logo como culpadas de um crime. Começamos a esconder tudo para que ele não desconfiasse e enquanto foi à casa de banho, pusemos o desenho dentro da sua mochila. Quando voltou ríamos cúmplices uma da outra.
Mais tarde, já estava eu a chegar casa, recebi uma mensagem.
(Harry)
Vocês são definitivamente as mais lindas do mundo!
Obrigado !
(Maria)
Já viste! Gostaste?
‘Tá aí uma obra de arte!
(Harry)
Já vi que sim! Vocês não têm juízo!
Obrigada Maria, a sério...
*flashback off*
Aquela ausência era algo que me estava a incomodar seriamente. Desisti de me armar em cobarde e tive de me sujeitar ao envio da tão badalada SMS.
Agora sim, iam começar os clichês. Eu ia mandar SMS e ele não iria responder.
Mas não quis saber. A minha impaciência não me deixava ficar descansada enquanto não descobrisse o porquê de tanto drama à volta de um beijo. Que ele não quisesse eu até entendo mas se assim fosse o beijo não teria sido da maneira que foi, não teria sido assim tão intenso. Que ele ficasse arrependido por me beijar não querendo nada comigo também era uma possibilidade, mas se fosse isso não havia necessidade de não aparecer no centro.
No meio disto tudo ainda me perguntava a mim mesma como era possível estar tão preocupada com um rapaz que tinha conhecido há 3 semanas, como era possível estar assim tão enfeitiçada por ele. A verdade é que eu não o conhecia assim tão bem e talvez essa fosse a explicação para isto tudo.
Agarrei no telemóvel e digitei rapidamente a mensagem que surgiu na minha cabeça. Pressionei “eliminar” sem sequer a reler. Segurei o telemóvel com mais força e liguei. Se queria uma resposta tinha de saber perguntar direito e por mensagem não era solução.
Ao fim de uns quantos avisos de chamada já estava farta de esperar que ele atendesse.
- Sim – atendeu a voz feminina do outro lado. – Quem fala?
- Hum... o meu nome é Maria, seria possível falar com o Harry? Com quem estou a falar? – perguntei reticente.
- Com a Alexa, a namorada dele. Ele agora não pode atender, precisa que lhe dê algum recado?
- Não! Obrigada. – foram as últimas palavras que consegui pronunciar antes de petrificar ao processar o que tinha acabado de ouvir.
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Destino Traçado | h.s.
FanfictionNada acontece por acaso. Se Maria não tivesse encontrado Joana não saberia o que é o amor. Se Joana não tivesse sido resgatada por Maria não saberia o que é o amor. Se Maria não tivesse descoberto que amava Joana não saberia que era feliz. Se Joana...