Jennifer era um desastre, mas no melhor sentido. Após ela me contratar, conversamos bastante sobre o café e trocamos nossos números de telefone. Acho que analisando, em toda a minha vida, eu nunca tinha sido tão sociável.Com o pouco tempo que tinha ela me contou mais sobre o café, que eu descobri ter sido aberto recentemente e que ela administrava sozinha. O único apoio que ela tinha era o tal do Steve, que não havia aparecido durante o tempo em que estive lá. E quando digo que ela era um desastre, era a isso que eu me referia: ela se atravessava demais enquanto eu falava, tomando conclusões precipitadas, afobada, sem respirar, mas isso não deixava de tornar ela um ser adorável, simpático e super engraçado.
Após ter chego em casa, vi minha mochila jogada ao sofá da sala e me sentei no mesmo, tirando um tempinho para estudar, reli alguns textos e completei certas tarefas que eu talvez houvesse esquecido de fazer. Não era hábito, mas às vezes acontecia. Eu estava no último ano do ensino médio e, para passar na faculdade que planejava, necessitava manter minhas notas no céu, até ter coragem de enviar minha inscrição. Finalizei o dia lendo o livro que tinha pego na biblioteca na semana passada, até ouvir a porta se abrir e a figura desengonçada do meu pai adentrar a sala.
Ele era alto e tinha um belo par de olhos cor âmbar, como os meus, seus cabelos castanhos bagunçados traziam a ele um ar mais jovial e, se fosse possível, ao mesmo tempo ele também parecia cansado.
- Stella! O que faz acordada, querida? - Ele indagou, meio surpreso, pendurando sua bolsa de couro marrom, que parecia com uma pasta, mas com alça de por no ombro, no cabide de casacos, junto com o seu paletó.
- Estava te esperando. Tenho novidades! - Sorrindo, bati minha mão no espaço ao meu lado no sofá, fechando meu livro e o deixando sobre a mesinha de centro. Ele desmoronou no sofá ao meu lado, com um suspiro exausto, e me olhou curioso.
- Por favor, não me diga que arranjou um namorado.
Juro que ri, mas mais internamente, por fora eu só me segurei, hilário, Julio.
- Melhor que isso, eu arranjei um emprego. - Disse simples e dei de ombros, com um semblante convencido que logo se desmanchou em um sorriso quando meu pai me abraçou todo entusiasmado.
- Ah! Minha filha, isso é ótimo! Me diga, aonde é? Como é? Qual dos trezentos lugares que você tentou decidiu te escolher? Eu sabia que alguém ia gostar de você, minha princesinha! - Ele apertou minha bochecha quando disse a última frase. Coloquei minha mão sobre a sua, a retirando do local, mas sem soltá-la.
- Não foi nenhum dos lugares em que eu tentei, na verdade, foi o último. É em um café não muito longe daqui, se chama Too Much Pies, abriu a pouco tempo e a logo é uma torta, com rosa, amarelo e marrom.
Suas sobrancelhas subiram e em seguida desceram, fazendo seu cenho franzir enquanto ele me encarava. Logo suspirou e assentiu, sorrindo de novo.
- Parece bom, pelo menos é um serviço e você vai ter todo o meu apoio. - Ele me lançou um olhar reconfortante, me fazendo sorrir, depois reclamou que estava muito cansado e que iria dormir logo, depositou um beijo na minha cabeça e foi para o quarto.
No início, meu pai não entendia o porquê de eu querer tanto trabalhar, ele era advogado, passava o dia inteiro ocupado e sustentava a nossa casa e a mim sem nenhum problema, mas eu não via motivos para bancar a filha folgada e mimada, não queria trabalhar só pra ajudar, mas sim pela experiência e minha independência. Eu nem mesmo sabia o que eu queria fazer na faculdade e, estávamos em Los Angeles, eu podia conquistar tudo ali.
Com o dia inteiro participando de reuniões e trabalho, trabalho, trabalho, meu pai não tinha muito tempo para ficar comigo, e sempre foi assim, desde que eu era só um projeto de gente... na Colômbia.
Nos mudamos para os Estados Unidos há anos, tempo depois de mamãe falecer. Papai disse que seria bom para nós dois recomeçarmos, juntos, dessa vez, sem a mamãe.
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Too Much Pies // Aaron Carpenter
أدب الهواةStella Rodríguez nunca foi de precisar das pessoas para nada, sua única vocação foi sempre suas notas e a sua independência. Condenada a sempre se virar sozinha, nunca teve tempo para pensar em garotos ou até mesmo se apaixonar, bem, isso até a vida...