É incrível como uma coisa tão simples pode tornar a sua vida diferente. Pode ser essa a menor das coisas, como uma moeda, ou um encontro.
Quantas vezes você não parou e pensou "se eu não tivesse achado isso, nada disso teria acontecido". Era o efeito borboleta, e eu simplesmente amava essa teoria.
Fechei o livro que tinha em mãos, causador desse devaneio e olhei para o relógio da sala de aula. Faltavam cinco minutos para a aula acabar, decidi começar a guardar o material, aparentemente eu não fui a única a ter essa ideia.
Assim que o sinal ressoou no ouvido de todos os alunos do colégio, aquela multidão começou a se movimentar para sair. Eu permaneci plenamente em minha cadeira, ajeitando minha Playlist e colocando os fones de ouvido para só então levantar e sair.
Passeei pelo pátio observando tudo, como sempre fazia, admirando os grupinhos diversos e seus gestos diferentes uns dos outros, os casais espalhados pelo campus e o cheirinho delicioso que o vento trazia consigo naquele início de primavera.
Apesar de detestar calor e o pólen das flores que faziam as abelhas me perseguirem, eu admirava a primavera como qualquer outra estação, devia admitir o quão lindo era as árvores decoradas por suas belas flores e o contraste que os jardins causavam nas casas com todas as suas cores.
Meu apartamento não ficava muito longe dalí, apenas duas quadras e eu já estava em casa. E em meio aos meus devaneios e a música, parecia que eu chegava ainda mais rápido.
Peguei a chave de casa com o porteiro e senti meu estômago reclamar de fome quando estava no elevador. Já seria meio-dia e pouco e eu havia esquecido completamente de deixar algo pronto na noite anterior, já que nos domingos eu não cozinhava, pedia uma pizza e assistia a um filme ou ficava estudando.
Abri a porta usando a chave e adentrei o pequeno local, retirando o peso da mochila dos ombros e o largando sobre o sofá, passando para a cozinha, que era uma divisão com o ambiente anterior. Abri a geladeira e agradeci mentalmente por ter sobrado alguns pedaços de pizza, peguei um prato para esquentá-las no micro-ondas e aguardei, recostada sobre o balcão enquanto pausava a música e verificava as notificações no meu celular.
Eu tinha alguns muitos seguidores no Instagram e a maioria deles era o pessoal do colégio, era engraçado como eles podiam aparentemente adorar minhas fotos e agir como se eu não existisse pessoalmente, não que isso fosse um incômodo para mim, eu até curtia a minha solidão.
Bem, não era como se isso me afetasse em alguma coisa ou me deixasse triste, eu cresci assim e estava acostumada a não ser prioridade na vida de ninguém.Assim como eu também nunca tive ninguém como prioridade, mas não que eu tivesse crescido isolada e sem o amor dos meus pais, pelo contrário, eu recebi todo o carinho que qualquer criança merece, porém a forma de ensinamento do meu pai sempre foi na base da compreensão e graças as forças divinas, eu compreendia.
Percebi o post it do meu pai colado na geladeira e sorri, balançando a cabeça. Que coisa mais clichê, eu pensei, logo me aproximando e descolando o mesmo dali.
"Estrelinha,
Eu espero que você tenha um excelente dia! Não se esqueça de ficar atenta ao celular! Beijos, se cuida.
-Papai"
Sentei-me ao balcão para comer o meu reforçado almoço naquele início de tarde. Eu teria algumas coisinhas para fazer durante aquele dia e precisava de um banho antes de sair por aí.
Vesti uma roupa mais confortável após o banho, calcei uma sapatilha e após arrumar minha bolsa, me retirei de casa, deixando novamente as chaves com o porteiro.
Naquela manhã eu havia passado por um curioso café que eu não havia notado antes até este chamar minha atenção com um cartaz que anunciava a precisão de novos funcionários, e era claro que eu estava disposta a ficar com aquele emprego, eu procurava por um haviam dias, mas nenhum lugar parecia aceitar o currículo de uma jovem sem experiências profissionais.
Adentrei o local ouvindo o típico barulho do sino que tocava quando a porta era aberta e caminhei exibindo meu melhor porte até o balcão, o que era super desnecessário, mas me pareceu adequado naquela hora.
- Boa tarde, no que posso ajudar? - Uma moça com um sorriso contagiante me abordou ao balcão, foi inevitável sorrir também antes de me pronunciar.
- Olá, eu vim pelo anúncio no vidro. - Adiantei-me em abrir a bolsa e retirar meu currículo de dentro de uma pasta na mesma. - Aqui. Me chamo Stella e estou interessada na vaga.
A moça, Jennifer, era o nome escrito em seu uniforme, não parecia muitos anos mais velha do que eu, olhou rapidamente para o papel que eu havia deixado sobre o balcão e subiu seus olhos para mim.
- Excelente, Srtª. Rodriguez. Isto... não será necessário. - Ela disse, colocando ambas as mãos sobre meu currículo, empurrando-o em minha direção. - Sente-se em uma mesa e eu já vou conversar com você.
Eu assenti, sem saber como reagir, peguei o papel e o guardei, logo me virando e indo até uma mesa próxima ao vidro que dava visão para fora do café.
Fiquei ali, observando o movimento naquele estabelecimento, que parecia bem fraco naquele horário. Só então pude perceber como aquela mesma moça parecia fazer tudo sozinha, ela atendeu um velhinho ao balcão, serviu café a um casal e correu de volta para dentro, seus longos cabelos com ondas nas pontas voaram quando ela passou por uma porta atrás do balcão que eu imaginava ser a cozinha.
Foram longos minutos esperando pela platinada, que depois que finalmente pareceu se livrar de tantas tarefas, veio até mim, carregando uma bandeja com dois copos de alguma bebida quente.Ela se sentou a minha frente na mesa e me entregou um dos copos. Eram como os do Starbucks, eu observei, porém, neles haviam uma outra logo.
- Mil perdões pela demora, Steve teve de fazer algumas entregas pela manhã e não pôde me ajudar aqui, então fiquei sozinha hoje. - Ela me fez a olhar assim que se manifestou, antes que eu pudesse admirar melhor a logo daquele café. Deu um gole em sua bebida e se interrompeu, com um "hm" agitado. - Eu espero que você goste de café, não queria aparecer de volta abanando as mãos após ter te deixado esperando por tanto tempo.
Eu sorri e acenti, com as mãos sobre o copo que estava sobre a mesa, mesmo que estivesse calor naquela tarde, café nunca me era dispensável.
- Eu gosto sim, obrigada. - Pronunciei-me, gentil, logo provando do líquido no copo em minhas mãos, que por sinal, estava delicioso.
- Ótimo, mas então, vamos direto ao assunto. Você tem preferência de horários? Prefere alguma vaga específica? Tem alguma dificuldade com interagir com as pessoas? - Ela bombardeou-me perguntas que me fizeram arquear as sobrancelhas e pigarrear, logo suspirando.
- Não, não tenho preferência alguma nas vagas e acredito que não tenha problemas de interação. - Acabei rindo, meio nervosa. - Porém tenho sim o problema dos horários, pela manhã eu estudo então...
- Tudo bem, você pode trabalhar apenas durante a tarde. Se quiser, o turno é seu. - Ela me interrompeu, falando de forma rápida e ágil, como se não houvesse tempo, o que eu imaginava que de fato, não tinha. - Poderá ser?
- Claro! - Respondi com o meu melhor sorriso, ela logo levantou e eu me apressei a fazer o mesmo.
- Excelente, Srtª. Rodriguez, esteja aqui amanhã à tarde. - Ela estendeu a mão, exibindo-me seu esmalte azul. Apertei a mão dela, como em um cumprimento, ainda sorrindo.
- Pode me chamar de Stella.
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Too Much Pies // Aaron Carpenter
Fiksi PenggemarStella Rodríguez nunca foi de precisar das pessoas para nada, sua única vocação foi sempre suas notas e a sua independência. Condenada a sempre se virar sozinha, nunca teve tempo para pensar em garotos ou até mesmo se apaixonar, bem, isso até a vida...