Os olhos negros de corvo fitavam-na de forma intrigada e ao mesmo tempo se desculpando pela imposição que lhe era feita uma vez mais.
Ela pediu apenas que o septão celebrasse a união no entorno da árvore sagrada e com poucas testemunhas. Ali estavam somente os irmãos, Bram e Arya, Sor Davos, Brienne e Tyrion. Era mais que suficiente.
Jon vestia-se de forma apropriada para um rei, que antes de sê-lo, era um destemido guerreiro. Os cabelos negros estavam presos no alto da cabeça, sem coroa, pois ainda era constrangedor para si usar o objeto pesado e desconfortável. A barba havia sido aparada para a ocasião, e não há como ela negar que vê-lo ali, fitando-a daquela forma, tão belo como sempre o achou, naquela tarde ele era apenas um homem e a desposava. Perdera o conceito de irmão em relação a ele, há muito tempo. Na verdade sequer algum dia teve.
Nunca amaram-se como irmãos. E, ao menos Jon, julgava que jamais a veria como nada além da relação fraternal tão insólita no que concernia aos dois. Porém, quando Sansa se aproximou, com um vestido azul da cor dos seus olhos tecido por suas mãos habilidosas e que marcava-lhe a cintura, tinha um decote em forma de gota revelando ligeiramente a curva arredondada dos seios, ele surpreendeu-se admirado com a beleza da mulher a sua frente, sua futura senhora Stark e Targeryan. Os cabelos estavam semi-presos e traziam um diadema com pedras também azuis, uma trama delicada que parecia ser feito em renda e fora confeccionado especialmente para ela como um dos presentes de casamento da agora também sua tia, Daenaerys, rainha dos Seis Reinos.
Jon, por ser filho de Rhaegar, tinha o direito de requisitar o amaldiçoado trono de ferro, mas declinou em favor da tia, que também já fora mais que isso para ele, embora a história já havia sido superada por ambos. Ela afirmou a Coroa como Rei do Norte para ele, o que exigiu uma atitude extrema para manter o Norte forte e unido. A única forma era o Rei casar-se com a Protetora, para que não houvessem mais quebras, nem divisões.
No princípio ele não queria desposá-la, não sabia ao certo quais sentimentos nutria por ela e também não desejava impor-lhe mais um casamento arranjado. Mas, a imagem altiva e serena com que a noiva caminhou até ele, não se assemelhava em nada com alguém que estivesse forçada a um grande sacrifício.
Diante do septão, não olharam-se mais nenhuma vez, mas ao término da cerimônia, Jon foi compelido a beijar a noiva, e muito constrangido, tocou com os lábios as mãos delicadas, e fitou-a nos olhos, como quem pedisse permissão para roçar-lhe os lábios. Olharam-se muito profundamente, tentando adivinhar os pensamentos que ocorriam-lhes no momento.
Ele inclinou seu rosto, deram-se as mãos e de frente um para o outro, tomou-lhe os lábios para um beijo casto. Não esperava, porém, que ela abriria os lábios no exato instante em que sua boca a tocava e a respiração dela atiçou nele uma vontade súbita de aprofundar o toque. A língua pediu passagem e ela concedeu. Parecia um beijo apaixonado. Realmente, parecia.
Os presentes começaram a pigarrear e eles perceberam e se separaram, ainda mais confusos. Desde seu reencontro no Castelo Black, em que Sansa jogou-se em seus braços e ele a apertou como quem nunca mais quisesse soltá-la, as coisas haviam mudado significativamente entre eles. Era nítido que algo estava se solidificando naquele relacionamento.
A festa havia sido preparada no castelo de Winterfell, e foi proporcionado um rico jantar, tudo estava minuciosamente bem preparado. A jovem era uma anfitriã exemplar, ainda mais detalhista do que sua mãe fora um dia. A taça do agora senhor seu marido, sempre estava cheia. Ele chegara a lhe dizer em tom jocoso: _ Desta forma, eu diria que a senhora minha esposa, há de querer embebedar-me.
A ruiva apenas sorriu contidamente, e comunicou-lhe que estava exausta e desejava recolher-se. Jon a olhou de maneira enigmática e apenas disse: _Vá, Minha Senhora! Em breve irei ao seu encontro.
Sansa corou ligeiramente e fez uma leve reverência ao Rei do Norte, antes seu meio irmão bastardo, depois seu primo e agora seu marido, Jon Snow.
Já fazia algum tempo que ela percebia que tudo mudara dentro de si com relação a ele. Sempre o achou um menino e depois um homem muito bonito; detestava-o em dobro por, além de envergonhar sua mãe, fazê-la sentir coisas que ela em sã consciência jamais admitiria.
No entanto, quando esteve no seu maior momento de desespero, de arriscar tudo, principalmente sua vida ao fugir do bestial Bolton, era nele, em Jon Snow, que ela pensava. Era próxima a ele que gostaria de estar, era contemplando seus olhos negros que preferiria morrer se tudo acabasse ali.
Mas, Sansa não morreu. E, foi, justamente ao encontro dele que ela foi em sua grande oportunidade de fuga. A forma que ele a olhou...o reencontro foi algo mágico. Não havia quem os olhasse e não percebesse que qualquer coisa grandiosa e nada fraternal existia ali.
Jon pensava naquele momento do Castelo Black muito mais do que gostaria. Inclusive ali na grande mesa dos noivos, era nisso que ele pensava. Sabia também que algo havia sido despertado lá, com Sansa, machucada, endurecida, mas ainda mais bela do que se lembrava e entregue ao seu abraço.
Sansa sentiu ciúmes do relacionamento dele com a Mãe dos Dragões. Custou um pouco a admitir para si mesma, mas apenas para si mesma. De alguma forma, aquilo a magoava e dizia a si mesma que era uma preocupação normal de irmã.
Ela tinha receio dele tocá-la, pois suas últimas experiências haviam sido terríveis e dolorosas. No entanto, ela tinha ainda mais medo, dele não tocá-la. Jon era honrado e dissera-lhe que o casamento seria uma convenção para manter a integridade nortenha.
Aquilo quebrou um pouco seu coração. Tinha certeza de que ele não a achava bonita, nem atraente. E não o esperava também ao leito nupcial. Não tinha qualquer ilusão de que Snow consumaria o casamento.
Soltou cuidadosamente os cabelos e ela mesmo penteou-os deixando cair uma linda cascata vermelha que descia-lhe até a cintura. A camisola confeccionada por ela mesma, era levemente dourada, a deixava com a cintura bem marcada. O decote ia até a cintura e o arredondado dos seios era hipnótico.
Olhava tão absorta pela janela de seus aposentos, que não ouviu de imediato o abrir e fechar da grande porta. Virou-se e ali estava ele, contemplando-a com tanta intensidade que fê-la corar. Ele abriu a boca duas vezes para dizer algo que não conseguia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por Winterfell (Jon & Sansa)
RomanceNaquele momento, frente a frente, eles não lutavam batalhas, não lutavam por suas vidas,e não corriam perigos iminentes. Mas, mesmo assim, Jon e Sansa decidem selar uma união em favor do Norte. E, talvez, por algo a mais...