Conto 1 - O Encontro

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Esperei até sábado à noite para fazer novo contato, como rege a regra número 3. Perguntei como havia sido o aniversário de casamento dos seus avós. Percebi que ela ficou empolgada com a minha mensagem, pois disparou, pelo menos, uns nove áudios de curta duração, não apenas contando sobre a festa, mas também comemorando o seu primeiro contrato fechado para um trabalho freelance. Ao final, perguntou-me como estava sendo o meu final de semana. Final das contas: nosso date estava de pé.

No dia seguinte, no horário marcado, fomos ao local mais alto da cidade para apreciar o pôr do sol. Cara, que lugar lindo! Na volta, apenas vinhedos, que contrastavam com o skyline da cidade ao fundo e com a estrada que passava lá embaixo.

À medida em que o sol começava a cair, a luz dourada refletia nos edifícios mais altos, criando um cenário quase que cinematográfico. Além disso, a iluminação se fazia perfeita para tirar aquelas fotos marqueteiras com o sol incidindo no rosto, com resultados tão interessantes a ponto de serem incluídas na pasta I.M. (Instagram Material) de nosso celular.

Dito isso, é preciso destacar que o mesmo humor e o papo fluído que tivemos ao longo das últimas semanas nos meios digitais se fez presente também na "vida real". Tínhamos uma química legal na conversa, porém sem desrespeitar os momentos de silêncio. Eram nesses gaps que, discretamente, eu podia admirar a sua beleza. Aquele sol contra o rosto fazia com que os seus olhos castanhos assumissem uma coloração amarelada, deixando-os ainda mais bonitos e vibrantes.

A essa altura, nossas mãos já haviam se encontrado, trocando algumas carícias. Dei-lhe um beijo no rosto e recebi, em troca, um longo e macio beijo nos lábios. Ficamos mais, pelo menos, uma hora no alto do morro, até chegar o momento em que o lugar se tornou deserto e, o frio, insuportável. Entramos no carro a fim de trocar mais alguns chamegos. Liguei o som.

Lembra que falei ali atrás que duas situações mudaram totalmente o rumo das coisas? A primeira eu já descrevi, mas a segunda vem agora. A música que estava tocando nesse exato momento era "Free Fallin'", de John Mayer.

Aliás, só uma observação: que homem! Tenho certeza que, mesmo aquele, que se julga o mais viril de todos os "machos", amolece o seu coração quando aquela voz rouca e suave penetra em seus ouvidos ao som de dedilhados perfeitamente executados no violão. Já sei até o que você deve estar pensando:

Tudo bem, respeito a sua admiração exagerada por esse cara, mas o que a música tem a ver?

Respira fundo e curte só a reação dela ao ouvir esse som:

— Nossa, eu amo John Mayer! Vai no show dele também?

Cara, sabe aquela cara de felicidade quando você acha dinheiro no bolso da calça? Ou quando chega em casa e vê que a mamãe querida deixou uma lasanha congelada na geladeira? Acho que foi mais ou menos isso. Precisamos lembrar que, até então, eu iria ao show na companhia de um casal de amigos, para escutar uma canção romântica atrás da outra, envolvido por outros inúmeros casais apaixonados.

No entanto, nesse momento, a minha sorte estava mudando. Em instantes, pude me imaginar adentrando o estádio Beira-Rio de mãos dadas, curtindo as músicas daquele monstro da guitarra com a companhia sensacional que havia acabado de conhecer.

Estava tudo se desenhando perfeitamente. Mas sabe aquele velho ditado: "tá muito bom pra ser verdade"? Pois é...


3. Procurarás de forma sábia.

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