Álibi - Jeon Jungkook.

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Álibi.

Sinta-se sozinho até se encontrar.


Inclinei minha cabeça para baixo e, apesar de estar a 20 andares do chão, não senti vertigem.

Do telhado eu podia ver os carros e as pessoas andando pelas ruas movimentadas de Seul, todos assemelhados a formigas atrasadas. Coloquei minhas mãos nos bolsos da calça e suspirei, tudo era silencioso dali, as luzes da cidade grande formando um céu estrelado, enquanto as estrelas verdadeiras permaneciam atrás das nuvens. Era estranho perceber que nesse horário, em um dia comum da semana, eu estaria no terceiro andar desse mesmo prédio, cercado por vozes, bipes e o som de unhas batendo no teclado. Respiro fundo, aproveitando a calma e sorvendo daquele instante de paz e sossego.

Depois disso, tudo aconteceu rápido demais.

Estava tão relaxado que acabei facilitando o caminho para que os braços pequenos me agarrassem e me jogassem no chão, fazendo com que minha cabeça batesse com força na superfície dura. Deitado no concreto de olhos fechados, senti quando o peso saiu de cima do meu corpo e mãos pequenas começaram a me balançar de forma frenética, agravando a dor que eu sentia em alguns lugares.

- Eu não posso ter matado você. - o murmúrio desesperado me fez franzir a testa, abrindo os olhos lentamente até encontrar um rosto redondo. - Oh Cristo, muito obrigada! - tento clarear a minha visão quando sinto mãos pequenas apalpando meu rosto e descendo pelo meu pescoço e tórax, me forço a ficar sentado, temendo ser bolinado se aquilo continuasse. - Eu te machuquei? - fecho os olhos e os abro novamente, tendo uma visão melhor do rosto feminino. Ela tinha bochechas gordinhas e olhos pequenos, que, pelo o que eu puder perceber, estavam marejados. - Você está bem? - repete com mais aflição e eu consigo concordar a cabeça.

Não entendo quando ela murmura uma prece de olhos fechados e logo depois, quando os abre, me encara com raiva. - Isso teria sido muito egoísta da sua parte, nada justifica, nada! - preciso de um tempo incrivelmente longo para verbalizar a única palavra que estava na minha mente:

- Quê?

- Você pode achar que seus motivos são bons, mas eles não são! Pensou na sua família?! - começo a erguer as sobrancelhas, mas paro quando isso manda um choque de dor ainda maior para as minhas têmporas. - O que eles fariam se você morresse?

Ainda mudo, me acomodo no chão e procuro observá-la melhor. Era uma garota pequena em altura, que não tinha o tipo de corpo considerado padrão, e o vestido que usava, algo disforme e amarelo com seu comprimento e mangas longas, só servia para acentuar isso. Quando voltei para o seu rosto branco, o encontrei vermelho.

- Por que eu iria morrer? - consigo organizar as palavras e espero, enquanto a menina parece se recuperar de algo.

- Acha mesma que sobreviveria depois de uma queda dessas?! - nós dois olhamos para a beirada do prédio onde outrora eu estava.

- Eu não ia me jogar.

- Oh. - a boca dela faz um círculo perfeito e seus olhos pequenos se arregalam. - Tem certeza? - a encaro, tentando entender se aquela era uma pergunta séria.

-Tenho. - murmuro ainda confuso, a vendo relaxar instantaneamente, as mãos pequenas agarrando o cabelo curto e castanho.

- Eu te vi e... Meu Deus, achei que não ia dar tempo... - começa a hiperventilar. - Eu corri, e... O que inferno você fazia na beirada de um prédio de vinte andares no dia dos namorados?! - diz num fôlego só. Era uma pergunta justa.

Não sabia se os fins ainda justificavam os meios, mas bastava que eu me lembrasse da conversa que havia tido, logo de manhã, com minha tia-avó e minha mãe, para que os motivos voltassem frescos para a minha mente.

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