IV. Abóboras E Lanternas - Parte 1

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Halloween de 1960.

A casa da senhorita Lorraine Jackson era uma das mais comentadas do bairro. Não por ser assustadora. Ela na verdade aparentava ser uma casa comum. Tinha uma varanda bonita, e algumas madeiras que cercavam a residência inteiram, e as cores pasteis às quais aquela casa fora pintada estavam um pouco desgastadas por conta da antiguidade do terreno.

Senhorita Jackson era tida como uma mulher estranhamente cuidadosa, por sempre se preocupar com alguém entrando sem sua permissão em sua casa.

Nem as crianças e muito menos os pais delas faziam ideia de que existia alguém além de Lorraine morando ali. Então começaram a surgir diversos boatos. Coisas como “ela esconde um filho ali dentro”, “talvez seja um animal”, ou até “é provável que ela seja uma bruxa” eram muito comuns de se ouvir e Lorraine sempre ficava sabendo desses boatos uma hora ou outra.

Somente no Halloween, as crianças tinham a possibilidade de saírem de seus lares para se divertirem e pegarem doces nos seus vizinhos. Então certo dia, no Halloween de 1960, um garotinho tinha saído pela primeira vez acompanhado de Lorraine. A partir daí os boatos se confirmaram sobre o menino vestido de fantasma, mas apesar da chocante descoberta da existência dele, ninguém da vizinhança vira o rosto por baixo do pano.

Após um ano, e Lorraine passou a ser a mãe super protetora que mantinha Fred Jackson  — seu filho — em casa a maior parte do tempo. Por não sair muito para brincar com as crianças, Fred se arriscava somente a conversar pela janela que ficava entreaberta. Pouco a pouco todos da rua o conheceram como o menino que ficava preso em casa.

Março de 1961.

Lorraine tinha preparado um jantar magnífico. Arroz com feijão e carne com abóbora, o prato favorito de Fred. O mesmo ficara o dia todo em casa lendo Shakespeare, e estava ansioso para contar as novidades para a mamãe.

Fred foi até a sala de jantar. Uma mesa para oito pessoas estava posicionada no meio coberta com um incrível pano vermelho e somente duas cadeiras em cada ponta. No centro estava uma cesta de frutas com um candelabro aceso de cada lado e papel de parede bege cobria todo o ambiente, exceto pela porta que levava a cozinha. Tudo ali era bem bonito e agradável de se olhar, mas não era algo que tirava o fôlego de Fred, aliás, ele já passara muito tempo só olhando aquele mesmo lugar, com aquela mesma aparência todos os dias.

O jantar fora servido, e Fred, junto à sua mãe sentaram-se na mesa.

— Como foi o seu dia mamãe? — Perguntou Fred.

— Estive trabalhando o dia todo no hospital com os pacientes loucos, então pode se concluir que não foi muito bom.

— Os pacientes não são loucos mãe — respondeu o garoto com uma coragem que Lorraine não entendera.

— Não sabe como é um sanatório, então não tem como você dizer se os pacientes são ou não loucos.

— Eu li um livro que dizia que a loucura é um ponto de vista — disse Fred — então é provável que a senhora tenha uma visão dos pacientes, mas que para eles é totalmente diferente.

— Em que livro leu isso?

— Um livro qualquer, não importa muito.

— Tem que parar de ler esse tipo de livro — comentou Lorraine colocando o garfo em sua boca. — Amanhã vou arrumar a sua biblioteca.

Fred comeu já sabendo que teria de esconder os grandes títulos sobre doenças que ele ainda pretendia ler. O garoto pensava bastante em qual seria sua próxima leitura, pois era a única diversão que ele conhecera desde que aprendeu a falar, e não gostava quando sua mãe o limitava daquele jeito, por isso resolveu esconder os títulos mais importantes, e deixar alguns para que não houvesse suspeitas a respeito dessas obras.

— Mãe eu queria perguntar uma coisa — disse ele em meio ao jantar.

— Está cheio de perguntas Fred Jackson.
— Por que eu não posso ir à escola como uma criança normal?

— Já te disse o porquê — respondeu Lorraine sem olhar diretamente para o filho —, as crianças são maldosas e estão sempre se expondo à riscos que eu não posso deixar você se expor.

— Tenho idade suficiente para pelo menos estudar.

— Eu já te disse, você estuda em casa com os livros que compro para você. Só isso e ponto.

— Mas mãe eu...

— Freddy Jackson! — Disse Lorraine aumentando o tom de voz. — Não quero você comentando e muito menos pensando nesse assunto, fui clara?

Fred se sentiu desapontado. Abaixou a cabeça como sempre fazia ao perceber que sua mãe estava zangada.

— Você entendeu Fred? — Perguntou Lorraine aos gritos, fazendo o menino pular da cadeira.

— Entendi mãe.

— Espero que tenha entendido, porque se não eu terei que te deixar no quarto do silêncio.

Fred deixou uma lágrima cair e olhou para sua mãe, que o olhava seriamente. Ela não estava brincando quando disse sobre o quarto de silêncio.

— Tenho 13 anos, eu já sei o que é um porão — respondeu com os olhos marejados.

— Então sabe que se me desobedecer e continuar com essas suas ideias de ir para a escola, vai parar no porão novamente, e dessa vez eu te vou te deixar um dia inteiro lá.

Fred Jackson tremia de raiva e medo. Sua mãe o assustava de uma forma que nenhum outro monstro havia feito. Ele já tinha lido sobre criaturas amedrontadoras, mas nunca fora assustado tanto quanto a sua mãe.

***

Após o jantar, Jackson subiu ao seu quarto, pegou todos os seus livros e separou alguns sobre doenças mentais que ele ainda não lera e os escondeu embaixo do colchão. Logo em seguida, guardou o restante e deitou-se em sua cama para dormir.

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Horror Tales está de volta! E agr com episódios semanais. Acompanhei a história do acampamento Woodstray e fiquem ligados pra mais episódios 😍😘💚

Contos De Horror: O Acampamento (Temporada 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora