Capítulo - XXI

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Ela estava encima de mim, seus cabelos longos e lisos caiam sobre o meu peito e o calor do seu corpo me aquecia. Era como se eu estivesse viva novamente, seu cheiro doce, suas mãos macias que acariciavam meu rosto. Não entendia como exatamente ela tinha chegado ali mas o simples fato de estar já era incrível o suficiente. Queria abraçar aquela situação e me prender nela pra sempre, porém tudo se esvai e acordo com Júlia ao meu lado me observando.

– Sonhos ruins novamente?

– Parece que eles nunca se vão...

– Vai ficar tudo bem, meu amor. – Ela diz enquanto me puxa para os seus braços. Não faço resistência e simplesmente me entrego ao calor de seu corpo.

Ter Júlia é bom, a calma que ela me trás é incrível, mas sinto que é errado continuar com tudo isso. Ela não me conhece verdadeiramente, não sabe metade das coisas que se passam em minha mente, não sabe da diferença em que Allie ainda faz. Tenho problemas em demonstrar sentimentos ou até afeto, não me sinto importante para as pessoas e talvez eu realmente não seja, porém preciso colocar minha cabeça no lugar e pensar racionalmente. Me casar com Júlia será bom em todos os sentidos e com o tempo vou aprendendo a amar.

Sempre fui uma pessoa livre, que adora desafios, que sorri o tempo todo e que quer conhecer o mundo. Gosto dessa sensação do perigo e acho que isso atraiu Júlia. Ela é tão correta com tudo, nunca fez nada de proíbido na vida, sempre levou tudo da forma mais tranquila do universo e isso me incomoda pois eu quero tirar essa mulher de toda essa redoma de proteção que existe e levar ela pra conhecer a vida, pra viver de verdade, ela precisa se soltar e ser dependente de si mesma.

Não.. eu não vou embora, não vou deixar ela sozinha. Não quero saber sobre Alisson, quero apenas cuidar de minha Júlia.

Levanto um pouco meu corpo e balanço a cabeça para afastar todos esses pensamentos e olho para ela, apoiando meu queixo sobre minha mão. Sua expressão é sempre tão calma e quando aquele sorriso se abre é como se meu coração encontrasse paz. Preciso fazer algo para que essa relação não se perca, vou fazer diferente dessa vez. Acho que sei o que pode ajudar agora, afinal eu conheço bem ela.

– Ju o que você acha de sairmos para tomar um café e comprar alguns livros? Podemos comprar algumas besteiras e comer aqui em casa assistindo um filme quietinhas e agarradinhas. – Digo isso abrindo o maior sorriso que consigo, quero realmente um tempo com minha noiva.

Ela sorri, balançando a cabeça em forma de sim e me puxa para um beijo. Não tento resistir e me entrego ao calor de sua boca. A mesma é macia e tocando a minha de maneira suave, seus dedos deslizam por minhas costas e sinto sua respiração mudando. Eu conheço o corpo dela e sei o que ele quer então eu darei. Subo em cima dela é começo a beija-la com mais intensidade e quando nossas bocas de separam e seus olhos encontram os meus eu consigo sentir todo o sentimento que aquela mulher tem por mim.

Depois de algumas horas, ela gozar 3 vezes e eu duas voltamos a conversar e planejar nosso dia, mas antes de tudo preciso de um banho, dou um beijo leve em sua boca que se encontrava vermelha, pego minha toalha e vou para o chuveiro. Coloco minha playlist de sempre que começa com Seafret - oceans. Passo muito tempo apenas deixando a água cair sobre meus cabelos, sinto como se a água lavasse minha alma. Término o banho e ao chegar ao quarto percebo que Júlia não estava mais lá, ela deixou um bilhete sobre o criado.

"Amor, fui comprar umas coisas com seu pai, voltarei a tempo para sairmos. Vê se come algo!

Eu te amo"

Melhor me vestir e comer algo. Visto um calça preta de moletom e uma camiseta branca e um chinelinho mesmo, chego até a escada e tamboreio meus dedos pelo corrimão enquanto observo todo o ambiente. Tanto tempo se passou, tanta coisa mudou, nem conheço mais essa cidade. Passo pela cozinha, pego uma maçã e decido andar um pouco pelas redondezas enquanto Júlia não volta.

O ar daqui é diferente, sinto como se ele renovasse meus pulmões. Sinto uma brisa fria tocar meu rosto e percebo que deveria ter pego uma blusa de frio mas agora já estou longe de casa e se eu voltar não saio mais. Continuo andando observando as novas casas, o velho mercado ao fim da rua ainda está lá. Passo pela praça onde a maioria das pessoas daquela escola ficavam, agora está cheia de adolescentes se drogando. Não posso julgar, já tive essa fase, mas agora eu cresci de verdade e tenho minhas responsabilidades, não posso me entregar a esse tipo de coisa.

Continuo andando sem um destino em específico e me vejo de frente ao colégio Burton, não fiquei muito tempo aqui mas passei por muita coisa. É um bom lugar, mesmo que me traga lembranças difíceis. Foi aqui que conheci o amor e a dor pela ausência dele, mas não importa, então contínuo andando. Vejo um prédio muito alto que não existia antes, paro e observo e cara, ele é lindo. A frente toda planejada com dois pilares altos e uma fachada de vidro. Um modelo bem futurista, moderno até demais para uma cidade pequena. Estava viajando na portaria quando a vejo passando, era Allie. Ela estava tão diferente daquela garota inocente e sentimental que conheci. Ela usava salto e um terninho preto e óculos escuros, diria que está irreconhecível mas nunca esqueceria os pequenos detalhes de seu rosto. O jeito que ela gesticula ou as pausas que faz ao falar, o jeito que ela puxa os próprios dedos quando se sente desconfortável, nunca me esquecerei.

Ela provavelmente não notou minha presença pois sai e vai diretamente para um carro preto que estava estacionado um pouco atrás. Sinto vontade de correr até lá, de falar "oi", mas estou travada apenas observando. Quando desisto e decido ir embora ela olha para trás e me observa por um longo momento, ficamos paradas uma olhando para a outra sem que ninguém se movesse. Me lembro de Júlia, de tudo, de toda a história e me viro para ir embora, começo a caminhar sem olhar para trás, simplesmente é o melhor a se fazer.

Ela passa do meu lado de carro e para ao meu lado, Alisson é tão imprevisível, ela sorri e acena para que eu pudesse ir até lá. Na minha mente sei que o certo a fazer é me virar e ir embora, mas antes que pudesse explicar isso pro resto do corpo já estava próximo a janela do seu carro.

– Oi Ever! Quer uma carona?

– Olá senhorita, não precisa estou indo para casa e é pertinho. - disse evitando um contato visual, aqueles olhos realmente me deixam desconcertada.

– Se me lembro bem, você mora na rua da minha casa. Não será um problema te levar até lá, vamos! entra aí, deixa de ser do contra.

– Alisson... Isso não vai terminar bem...

– É só uma carona!

– Ok. – Sei que eu deveria dizer não e me manter o mais longe possível, não só por causa da minha relação mas também pela dela. Mas que se dane, quero entender o motivo de tudo isso.

Dou a volta no carro e entro pela porta da frente, sentando ao seu lado. O clima ficou pesado e o silêncio se instalou, após alguns minutos nesse silêncio eu resolvo perguntar.

– Por que você nunca me procurou? Por que foi embora?

– Nossa relação não tinha futuro. Foi o melhor!

Eu imaginei que a resposta poderia ser dura mas não sabia que causaria tanto efeito.

– Alisson...

– Sim?

– Por que me chamou pra entrar nesse carro?

– Acho que podemos ter uma relação saudável e esquecer tudo que já passou, só quero que tudo fique bem e aquele clima estranho vá embora.

Não vejo nenhuma expressão em seu rosto, aquilo era realmente sincero? Ela realmente pensa assim?
Ainda tenho muitas perguntas e ela está na minha frente, essa é a oportunidade que preciso para esclarecer tudo em minha mente.

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⏰ Última atualização: Aug 20, 2019 ⏰

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