Procura-se Uma Alma

O Problema

Sabe quando você percebe que não deveria ter acordado? Que deveria ter sido melhor ter ficado na cama, que nem uma preguiça gorda e velha? Era exatamente isso o que eu deveria ter feito. Não devia nem ter aberto os olhos.

Acordei, pois senti algo estranho encostando em mim. Instintivamente, peguei minha adaga ao lado da cama e me virei.

Por mais incrível que pareça, eu ainda não havia aberto os olhos, mas quando os abri...lá estava ele: meu monstro, em carne e osso deitado do meu lado.

E pelado.

Ótimo.

Num impulso, eu o empurrei para fora da cama, mas ele não teve reação. Nem se preocupou de levantar. Parecia um boneco.

Me ponho de pé, analisando o "monstro" que eu havia criado. Ele se parecia com um humano comum, exceto pelos olhos. Eles eram brancos e brilhavam como duas lanternas. De início, isso me preocupou, pois isso na maioria das vezes significa que ele não tem uma alma. Mas se ele está vivo e conseguiu subir na minha cama, ele provavelmente tinha uma. Bem pequena e débil, mas tinha.

Decidi ignorar ele no momento. Fui para o banheiro e decidi que iria cuidar dele após tomar um bom banho. Entrei debaixo da água gelada e demorei para perceber que eu havia deixado a porta aberta —como de costume,já que moro sozinha nessa droga de pântano cheio de mosquitos e slimes —e que tinha sido seguida.

Meu monstro estava de frente para o espelho, o fitando. Por um momento, me perguntei se ele podia ver bem.

Após terminar o banho, enrolei uma das toalhas em meu corpo e sequei meu cabelo com a outra. O afastei um pouco e peguei uma escova no armário da pia. Ao escovar meu cabelo, percebi que ele estava prestando atenção no que estava fazendo, mas não liguei.

Deixo a escova em cima da pia após terminar e vou para o meu quarto, onde visto outra de minhas túnicas —dessa vez, roxa escura. Decidi catar algo para ele usar também, então peguei a maior calça e a maior blusa que eu tinha para ele.

Voltando ao banheiro, me deparei com uma cena que quase me fez ter um ataque de riso. Meu monstro estava escovando o cabelo castanho escuro em frente ao espelho. Tirei a escova de suas mãos e baguncei novamente seu cabelo —estava penteado pra trás de uma forma muito esquisita— e o puxei novamente para meu...quarto,sala,enfim.

Eu vesti a blusa nele para ver se ele se virava com a calça. Ele conseguiu, depois de coloca-la ao contrário umas duas vezes. As roupas ficavam folgadas nele, mas não importa.

—Steve,que tal? —Chamei a atenção dele, para que se acostumasse com seu nome. Era óbvio que eu não iria me contentar em chama-lo de "Herobrine", um nome que a MOBs escolheu. A não ser que Ezequiel esteja presente, seu nome será Steve.

Estava com fome, pois não jantei ontem a noite. Tirei aquele corvo de antes de uma pequena geladeira e comecei a limpa-lo. Não cozinho muito bem, mas dane-se. Eu estou com fome, só quero comer alguma coisa.

Percebi que Steve se aproximara e observava com interesse o que eu estava fazendo. Ótimo. Eu criei um mob stalker.

—Está com fome? —Perguntei, retoricamente. Era óbvio que ele estava com fome! Você criou ele e ele não comeu nada desde então. Steve respondeu à minha pergunta balançando a cabeça positivamente.

—Certo,espere ali. —Mandei, apontando para a cama. Fiquei satisfeita ao vê-lo sentar-se na cama, pois isso significa que ele vai obedecer ao que eu disser. O problema é que ele comece a obedecer aos outros, então eu preciso pensar nisso.

Abro um livro de receitas para checar o que vou fazer dessa vez. Pode parecer meio estúpido precisar de um desses pra fazer um simples corvo, mas se eu não o fizer é capaz de até mesmo explodir a cozinha —sim, isso já aconteceu uma vez.