Prólogo

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Janeiro, 2005
Elise

Acordo em um sobressalto, esfrego os olhos ainda sonolenta enquanto tento desanuviar as sombras ao meu redor.

Uma fresta foi aberta na porta e a luz que vem do corredor ilumina o corpo franzino que adentra em meu quarto; É Thomas, meu vizinho e melhor amigo.

Mas o que ele faz aqui em plena madrugada?

Será que estou sonhando?

Sento-me na cama, minha mente ainda um tanto confusa e ao mesmo tempo ele cai de joelhos no chão ao meu lado e afunda o rosto no meu edredom.

O que está acontecendo?

— O que foi? — Pergunto simplesmente.

Ele não diz nada, mas chora baixinho. Já o vi fazer isso centenas de vezes.

— Thomo?

Vovó Zi acende a luz do meu quarto, enxuga as lágrimas do rosto enquanto se aproxima de nós. Traz consigo uma xicara de chá que deixa sobre minha cômoda.

— Vai ficar tudo bem, Thomas — diz forçando um sorriso.

— Como pode saber? — Ele grita com raiva — A verdade é que ela não vai mais voltar pra casa!

Tia Susan adoeceu no natal, um mês antes; parecia ser uma gripe comum, mas os médicos não deram alta e não permitiram que ela voltasse para a casa. Agora sabemos que é algo bem mais sério que imaginávamos a princípio.

Vovó Zi faz um carinho nos cabelos escuros de Thomas.

— Tenha fé, querido.
Fiquei ao lado dele a noite toda, sem dizer uma só palavra, apenas para que soubesse que jamais o deixaria, que sempre seria seu refúgio em meio as tempestades.

O dia seguinte amanheceu nublado e cinzento, como um presságio; logo tio Raul veio nos dar a notícia de que tia Susi havia partido.

Para ela que já estava sofrendo, foi um alívio, finalmente foi morar com os anjos e desfrutar de toda paz do céu; mas aqui o tormento estava apenas começando.

***

Março, 2012
Thomas

Desde que me lembro, Zi parece não ter mudado nem um pouquinho. Baixinha e bem magra, com os cabelos brancos cortados sempre na altura das orelhas.

Outra coisa que nunca muda é o fato de que quando a Zi fica irritada e chama a atenção a única opção é olhar para baixo e concordar com tudo que ela disser.

O problema é que dessa vez eu não empurrei a Lis ou corri pela casa até quebrar alguma coisa, dessa vez eu não matei aula nem fugi para jogar bola.

O que eu fiz foi bem pior.

— Olhe para mim, Thomas!

Sinto meu rosto queimar de vergonha, estes são os momentos em que me sinto pior, sei que mereço a repreensão, mas ao mesmo tempo não estou exatamente arrependido.

Liz está de pé do outro lado da sala me encarando, seus olhos estão frios e sua atitude acusatória. Está com raiva de mim.

— Quero que você repense suas atitudes antes que seja tarde; o que fez foi errado, mas pode usar desse erro para refletir e decidir seu caminho.

Assinto em silêncio.

O que mais eu posso dizer?

Ela sobe as escadas e nos deixa sozinhos e eu me preparo para o segundo round.

S.O.S Como Roubar Uma NoivaOnde histórias criam vida. Descubra agora