Capítulo V - O ilusionista

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- Eu mandei você parar de usar isso! Você só faz merda, garoto! - Sr. Hans gritava de dentro do apartamento em que estava com Thomas, empurrando o garoto com uma força considerada suficiente para atira-lo contra o sofá.

- Me desculpe pai. - O menino manteve seu olhar baixo enquanto o homem em sua frente o encarava com uma expressão nervosa, dando um suspiro alto. 

- Você é uma aberração garoto. - Essas foram as últimas palavras do pai antes de virar as costas para o filho e caminhar pelo corredor do apartamento, entrando em seu quarto e fechando a porta com a tranca logo em seguida, deixando claro não querer ser incomodado pelo mais novo.

Thomas se manteve em silêncio enquanto olhava para a prova que havia o entregado para seu pai: sua mão que, agora, estava com um pequeno curativo por cima da queimadura que havia recebido ao entrar em um prédio em chamas. E o motivo de ficar tão chateado? Era o fato de ter prometido para seu pai, em 2016, que a partir daquele dia nunca usaria as ilusões, as mesmas que ele vêm usando com Zoey todo este tempo. E o motivo de ficar pior? Era o medo de Zoey descobrir que Thomas é um ilusionista e que vem usando suas habilidades com ela, como uma cobaia. O que ela diria se soubesse que, na verdade, ele entrou no prédio, mas a imagem que lhe foi projetada foi outra? Como um simples garoto que foi comprar uma garrafa de água?

O garoto levantou-se do sofá e tirou o curativo para tomar seu banho. A marca da queimadura era pequena e nada grave, somente mais uns dias e aquela mancha não estará mais lá. Aquele curativo idiota havia o entregado.

Enquanto Thomas se banhava começava a pensar em como reconquistaria a confiança do seu pai, Sr Hans. Um homem ilusionista mágico por natureza que jurou nunca mais usar suas habilidades por ter sido vítima de uma delas: a ilusão do amor. Foi traído há alguns anos pela mãe de Thomas, Rose. Por mais que o garoto quisesse, não podia simplesmente chegar para o pai e falar 'você foi iludido, sim, mas pela mamãe, não pela sua própria ilusão.' mas isso lhe custaria um olho roxo e um dente a menos. Após tirar estes pesamentos da cabeça, lembrou-se de Zoey, o que ela estaria fazendo naquele momento, quase meia noite?

Zoey estava já em seu quarto, sentada em sua cama enquanto conversava novamente com Elisa por vídeo. Ela estava no carro com Jack, ele estava dirigindo.

- Então, como estão as coisas aí na Califórnia? - Zoey mal havia terminado a pergunta e Elisa respondia super empolgada.

- Sinto saudade de você, claro. Sinto saudades também do Brasil, mas nem tanta. É só ir comer em um restaurante brasileiro por aqui e a saudade passa rapidinho. - Respondeu rindo, então começou a levar a conversa para outro ramo. - A propósito, foi lá que eu conheci Jack. Mas na verdade eu já tinha a sensação de conhece-lo antes, só que ele nega a todo momento.

- Entendo. Jack gosta de comida brasileira? - Zoey respondia tranquilamente, mas algo chamou sua atenção, mesmo sem saber o quê.

- Ele é brasileiro também, acho que por isso nos damos tão bem, não é meu amor? - Elisa falou dando um beijo no rosto de Jack, então, começou a se despedir por estar chegando na garagem da casa do namorado. - A diferença é que ele morou no Texas. E eu, aí em Illionois. Agora eu vou desligar, mas amanhã eu converso com você de novo, combinado?

- Claro. - Zoey se despediu também de Elisa, e então desligou a chamada. Não havia nenhuma outra mensagem em seu celular, então somente ativou o despertador e o colocou ao lado para dormir. 

A manhã seguinte foi a mesma de todos os cinco dias da semana, acordar com passarinhos e se olhar no espelho para ver o quão amassada estava após acordar. Porém, havia uma mensagem em seu celular. Não era de Thomas e sim de Elisa, e foi enviada há pouco mais de quinze minutos, então a garota respondeu a mensagem com uma simples frase 'que milagre você acordada este horário' e para sua surpresa, Elisa visualizou no mesmo instante, ligando para Zoey como resposta.

- Eu não consegui dormir. - Elisa falou apoiada em uma mesa. Pelos objetos em volta parecia estar na cozinha da casa de Jack.

- Motivo? - Zoey respondeu e bocejou, não ligava de Elisa vê-la naquele estado.

- Não sei, parece que Jack mente pra mim. Na verdade não é bem uma mentira.. - Ela começou a se embolar na explicação, então foi interrompida.

- Como assim? Ele está aí com você?

- Não, ele está dormindo. Mas eu me sinto um pouco estranha algumas vezes quando estou com ele. Há uns dias nós fomos na cobertura do prédio da tia dele nadar e, por um momento, imaginei ele se jogando de lá de cima.. Mas na verdade ele estava do meu lado. Não me ache louca, só que foi tão real..

- Eu te entendo. - Zoey respondeu rapidamente, e antes que Elisa pudesse falar alguma coisa, ela continuou. - Ontem fiz amizade com um garoto e tive essas mesmas sensações. Mas também sinto que já conheço ele.

- Também tenho essa sensação com Jack.. - Assim que terminou de falar, ambas ficaram se olhando por uns segundos através da tela do celular. - Você precisa de um banho.

Zoey riu com o comentário brincalhão de Elisa, mas agora, ambas estavam desconfiadas com os garotos que estão acompanhando-as. 

Se despediram e então, desligaram, combinando de manter uma atenta a outra. Agora Zoey deixou o celular sobre a mesa e foi até o quarto de sua mãe, onde ela dormia profundamente. A garota somente a cobriu e saiu do quarto, fechando a porta, pois sabia o quanto ela estava cansada. O resto da manhã foi rotineiro por um banho, um café da manhã melhor do que somente uma pera, hoje foram torradas e geleia. Como não estava atrasada, conseguiu ir pedalando tranquila para a escola, torcendo para encontrar Thomas no caminho.

Não aconteceu, mas a garota passou pedalando na frente do prédio do dia anterior e ainda havia faixadas amarelas, placas, cones, bombeiros e policiais, nada novo para um prédio que pegou fogo. Logo a garota voltou a focar no caminho até a escola, estacionando e a bicicleta no mesmo lugar de sempre.

- Oi. - Zoey escutou atrás dela, a voz era familiar, de Thomas.

- Bom dia. - Ela respondeu, terminando de prender a bicicleta e virando de frente para o garoto, sorrindo. - Vim prestando atenção na rua para ver se te encontrava no caminho.

- Fiquei com medo de me atrasar como ontem e acabei chegando mais cedo. Nunca se sabe quando outro professor vai te fazer se apresentar na frente de toda a sala. - Esse comentário arrancou um sorriso dela, então, Zoey começou a se lembrar da conversa que teve com Elisa.

- Thomas, aquele garoto que você falou que conheceu no Texas, o brasileiro.

- O que tem? - Thomas curvou-se para amarrar o cadarço, então, ergueu-se outra vez.

- Qual era o nome dele? - Zoey perguntou, com receio da resposta.

- Jack.

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