Segunda Parte

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Acho que demorei cerca de vinte minutos para reagir. Foi quando a neblina diminuiu e pude enxergar alguma coisa. O lugar onde estava era coberto de plantas de vários tipos e quando olhei mais para longe tenho certeza de que vi um barranco ainda mais fundo, tive sorte de não cair nele, se não, os outros jamais me encontrariam. A escuridão era tão aterrorizante.

- Não tenho medo do escuro. - Eu disse para me encorajar.

Por sorte meus óculos não quebraram.

- Não há nada aqui! - Menti. Eu estava em uma floresta, é claro que teria alguma coisa ali! Insetos, cobras!

- Não Isa! Pare de pensar nisso! Pensa positivo!

Então eu arranquei uma vara longa de uma árvore seca para usar como uma espécie de alto defesa. "O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço?" repeti para mim dando passos curtos. Eu mancava.

Então, decidi subir na ladeira, de volta à trilha, me segurando nas plantas até lá em cima.

Quando finalmente alcancei o mesmo nível, segui pela trilha onde tinham passado. A única luz que eu tinha para me guiar era a da lua, então eu andava olhando freneticamente para todos os lados e para o chão, com medo de pisar em alguma cobra. Eu mentiria se dissesse que não estava apavorada.

Então mais uns vinte minutos se passaram e escutei um barulho de passos. Plantas sendo pisadas, alguém estava vindo. Seria o menino fantasma? Ou coisa pior... Então me virei e vi uma silhueta humanoide entre dois arbustos não muito longe.

- Ai meu Deus o que é isso? É um espírito?!

Ele vinha na minha direção. Eu me desesperei, e corri o mais rápido que meu pé torcido me permitia.

- Não, não, não! - O medo estava tirando meu bom senso.

Corria, afastando folhas do caminho, arrancando galhos secos que me impediam de passar, pulando raízes grosseiras de árvores.

Eu ofegava, seja lá o que fosse estava perto! Meu coração quase saía pela boca. Então meu pé latejou e eu caí. Mas não ia desistir, continuei me arrastando pelo chão. Eu nem olhei para trás. Mal senti que ele estava a poucos centímetros de me alcançar. "Não olhe nos olhos dele!" eu pensei comigo mesma. Então ele me pegou.

Eu gritei e sacudi a vara seca.

- ME SOLTE! SAIA DE PERTO DE MIM!!

- CALMA SOU EU! ABRA OS OLHOS! - Uma voz familiar respondeu.

Quando abri meus olhos me deparei com a luz de uma lanterna e um garoto moreno segurando meus braços para que eu me acalmasse.

- LEANDRO?! - Eu esbugalhei meus olhos e o abracei forte por uns segundos. - Que bom que está bem! - Então eu me toquei que ele não merecia minha compaixão. Soltei ele e o encarei furiosa. -Onde você estava?!! - Eu bati nele algumas vezes com a minha vara como uma velhinha de bengala.

- Ai! Isso dói! Eu fui mijar e quando voltei, vocês não estavam mais aqui! E onde estão os outros? - Dava para notar que ele também estava aliviado de me ver.

- Uma neblina nos cegou e eu me perdi deles.

- Devem achar que fomos devorados pela fera! - Ele riu forçadamente tentando quebrar a tensão que a floresta sombria causava em nós. Dava pra ver que também estava com medo.

- E porque você demorou tanto tempo pra voltar? Não escutou a gente te procurando?

- Não ouvi nada. Eu demorei porque no caminho eu encontrei o córrego! - Ele sorriu dessa vez com uma empolgação real.

A Lenda do AcampamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora