3 - Le Réflexe Devient Matière

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Alexei - São Petersburgo (Russia)

Acordo com as portas do armário batendo. Vladimir revira o quarto atrás de uma calça. Cubro a cabeça com o travesseiro e suspiro. 

- Você não consegue deixar nada organizado? - Pergunto. 

- Organizar as coisas demando um certo tempo que eu não tenho  - ele diz calmamente. - Será que não tem uma calça limpa nessa casa?

- Você sabia que tem que lavar para elas ficarem limpas? - Pergunto sarcasticamente.  - Elas não aparecem magicamente no seu armário. 

- Por falar em armário, quando você vai sair do seu? - Ele pergunta sorrindo. 

- Não tem graça - digo. - Você sabe que isso não é tão fácil quanto parece.  

- Não me venha com o papo das leis descriminatórias de novo - diz sério. - Você tem medo do seu pai, esse é o único bloqueio.

- Ah, vai pro inferno - digo zangado. - Eu não tenho medo dele, é só que...

- Que você tem medo. 

- Você não tinha que ir trabalhar? - Pergunto. 

- Tem razão. Nos vemos mais tarde? 

- Não sei, meu pai vai dar um jantar pra alguns executivos. Provavelmente vai querer que eu vá.

- Tudo bem, nos vemos amanhã então. Deixa a chave no vasinho de planta. 

Ele sai do quarto e volta minutos depois vestindo um calça jeans e uma camiseta preta, pega o casaco no armário e chega perto da cama. 

- Eu te amo -diz, e me beija. 

- Eu também amo você. 

Ele sai do quarto, minutos depois ouço a porta do apartamento batendo. Meu celular vibra, e vejo o ícone do WhatsApp indicando que recebi uma mensagem. 

Pai: Onde você se enfiou? Temos uma reunião em uma hora. 

Eu: Já estou chegando. 

Tudo que eu precisava para melhorar meu dia era ficar a manhã inteira trancado com executivos e com meu pai em uma sala. Odeio este emprego, este País e esta cidade.  Saio da cama e caminho até o banheiro. Graças ao aquecedor potente de Vladimir eu pude dormir só de cueca. Encaro minha figura no espelho, meu corpo é magro, mas tenho alguns músculos. Meus cabelos pretos ficam em contraste com minha pele extremamente branca. Eu me considero uma pessoa bonita, embora tenha pouca confiança sobre isso. 

Jogo água no rosto e escovo os dentes, tiro o que me restou de roupa da noite passada e entro no banho. A água quente cai sobre minha pele e sinto um pequeno arrepio. É um arrepio gostoso, uma sensação boa. Quase tão boa quanto a que senti na noite anterior. Eu havia ido para o apartamento de Vladimir no final da tarde, começamos a assistir a um filme e depois de um tempo ele começou a me fazer carícias.  Eu arrepiava a cada toque gentil daquelas mãos firmes.  

Vladimir e eu estávamos nessa a um bom tempo, mas ainda era complicado. Nós não podemos assumir nosso relacionamento, por isso mantemos as escondidas. Meu pai é o maior escroto em relação a isso, e apesar de não morar com ele, preciso aguentar o máximo para conseguir grana suficiente pra arredar o pé deste inferno. Vladimir já enfrenta problemas um pouco diferentes. Ele pode ser demitido. O patrão dele é outro escroto do caralho. Ele precisa do emprego, para poder pagar o apartamento  e as contas. Viemos de realidades muito diferentes. 

Meu pai era um dos maiores empresários de toda a Russia, e gostava de mostrar que tinha dinheiro. Tudo em casa fora projetado para exibir ao máximo todo o dinheiro que tínhamos. Meu pai vivia como um czar nos tempos modernos, vivia em uma mansão gigantesca e tinha pelo menos mais 8 espalhadas pela Europa, sendo duas na Alemanha, duas na Russia, umana Espanha e uma na Inglaterra. Meu pai construiu seu "império" fora da Russia, meu avô era grande simpatizante da Monarquia, assim como meu bisavô. Toda a família saiu da Russia após a Revolução, e só voltamos em 1992, no ano seguinte eu nasci. Já a família de Vladimir passou por toda a opressão do totalitarismo da União Soviética. 

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