Alexei - São Petersburgo (Russia):
O prédio onde ficava a corporação do meu pai era muito imponente, para demonstrar riqueza e - mesmo que de uma forma simbólica - poder. Entro pela grande porta de vidro que se abre por sensor e caminho até as catracas e ligo meu celular que contém meu cartão de acesso virtual. Tecnologia é bom até certo ponto, pois nas mãos do Hacker certo todo o sistema dessa corporação seria manipulado para conseguir todas as informações disponíveis e permitir o acesso de qualquer pessoa.
O grande problema do meu pai e dos baba ovos que o cercam é se acharem deuses e não prestarem atenção em detalhes tão simples que podem derrubá-los. É claro que não alertei meu pai dos riscos que ele corre, pois se o sistema ficar muito protegido eu teria problemas para acessá-lo se precisasse um dia. Sempre tenha um plano B.
A porta do elevador se abre no andar das salas de conferências. Entro na sala de conferência 03 e encontro meu pai sentado com dois senhores que pareciam ser da Máfia Russa. Mordo a língua para não rir com esse pensamento, pois me causaria muitos problemas. Sento em frente a eles sem interromper a fala do meu pai.
- É claro que as informações que vocês querem são um pouco acima do que costumamos trabalhar, mas acredito que em pouco tempo as tenhamos em mão - ele diz.
Será que esse velhotes estão querendo investir em ações ou estão buscando serviços adicionais?
- Vocês pagam metade agora e o resto quando conseguirmos as informações.
É claro, por isso ele me chamou aqui. Ele querem alguma informação que necessita de Hackers de sistemas para conseguir. Puta merda. Eles combinam o valor com meu pai e se retiram da sala. Ele se vira e me encara.
- Não consegue levar nada a sério, Alexei? - Ele diz deixando a raiva e o nojo transparecer.
O Grande Sergei, magnata dos imóveis, ações e - por baixo dos panos - hacking de informações altamente privadas não confiava muito nas pessoas. Claro, esse ultimo título conseguiu graças a meu tio, que me ensinou quase tudo que sei sobre isso. Quando ele morreu eu assumi essa parte até ter idade pra ir para a faculdade aprender o suficiente para me tornar um bom administrador de ações, fiz mestrado em economia com apenas 24 anos. Ele me colocou para assumir cargos importantes na empresa mas nunca gostou do fato de me ter por perto, eu não gostava muito também.
Nossa relação sempre foi problemática, mas nossos problemas sérios começaram quando eu tinha 13 anos. Eu tinha um grande amigo na escola, se chamava Ivan, ele era incrivelmente especial para mim. Nós conversávamos muito em várias aulas, os professores estavam de saco cheio e estavam reclamando. Pra piorar um dia ele me abraçou no pátio e uns babacas encheram o saco. Eu os enfrentei e, como se esperava, tomei a maior surra. Ivan então acabou com a raça deles, mas fomos parar na diretoria por briga e nossos pais foram chamados. Na frente de todos os adultos, quando perguntaram o por que de começarem uma briga, um dos meninos soltou:
- Porque eu não suportei ver esses dois viadinhos se abraçando na frente de todo mundo, eles acham que somos obrigados a ver esse tipo de coisa?
A expressão do meu pai se contorceu inteira, mas ele se controlou para manter a calma e as aparências. Olhou para todos e disse:
- Ora, os dois são apenas amigos. Crianças costumam se abraçar. - Mas pelo tom da sua voz eu sabia que ele não acreditava no que dizia, por mais que quisesse.
Após termos prometido "não brigar" novamente, cada um deixou a sala acompanhado pelos seus responsáveis. Caminhei ao lado do meu pai até o carro, com o silêncio se estendendo friamente entre nós. Quando entramos no carro ele finalmente falou.
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Sense8 - New Age
Science FictionOito jovens tem suas vidas modificadas drasticamentes após descobrirem que podem se conectar telepaticamente. Vivenciando experiências, emoções e sentimentos, eles aprendem a conviver com as diferenças e a entender diferentes realidades.