14 capitulo.

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Os seus olhos eram cinzento escuro, um cinzento ainda mais forte do que o habitual. “Prometeste”, “sua puta”, “andaste enrolada com este”, “sua puta”, “prometeste”. “ H-Harry..” Estiquei a minha mão para agarrar a sua, ela deu um passo atrás, como se estivesse com medo. Esforcei-me mais para a agarrar, mas cada vez mais ela fugia, tornando-se uma sombra.

As luzes eram intensas, os meus olhos fecharam-se com aquelas palavras que não queriam deixar a minha cabeça. Ela parecia feliz, abraçada a ele. Ele levantou a mão, afastando-a e bateu-lhe, uma e mais uma vez. Quis correr e gritar, mas não consegui. Estava parado como uma estatua mesmo á sua frente.

Um quarto escuro surgiu, era apenas eu no meio do nada, a sombra voltou a aparecer, a mesmo que tinha-se afastado de mim. Katherine. Tinha medo. Eu gritei, gritei até não te mais voz. “prometeste..”. A sua voz rompia-me os ouvidos.

Fechei os meus olhos com força, ainda a gritar. O cenário tinha mudado. Estava dentro de um carro, tentei abrir as portas, mas estavam trancadas. Uma chama apareceu no capô do mesmo. Apertei o volante com mais força, os nos dos meus dedos já se encontravam brancos. Eu não queria saber. O fogo espalhou-se pelo carro, nas minhas roupas, queimando-as, queimando a minha dor, queimando-me.

Agora mais sombras rodavam o carro, não era apenas ela. Eram.. quinze. E estavam todas ali para me derrotarem. Eu estava a ficar doido.

Senti os meus ombros a serem abanados. Abri os meus olhos, vendo Gail e Jason de pijama á minha frente com uma expressão de preocupação no rosto. Sentia-me no meio do nada.

A minha respiração estava pesada, olhei para Gail, e notei nas pequenas gotas no canto dos seus olhos, e logo deixei-me abater. Passei as mãos pelo meu rosto molhado, olhei novamente para as minhas mãos. Estavam molhadas. Molhadas das minhas lágrimas. Eu estava a chorar.

- um chá ? – ouvi Gail sussurrar, no meio da escuridão que o meu quarto.

Não conseguia falar, tinha a garganta seca, com um nó formado na mesma. Apenas abanei a cabeça, escondendo-a entre as minhas mãos, deixando que toda a minha dor se transmitisse através das minhas lágrimas. Puxei os meus joelhos ao meu peito. Estava a ficar doido, só podia, não me lembro de ter tido uma reação destas a uma separação. Vocês nem estavam juntos. O meu subconsciente argumenta, deixando-me ainda mais devastado.

A mão de Gail tocou sobre o meu ombro, o que me fez levantar um dos meus braços, não queria que ela visse o meu estado. Sempre foi conhecido como uma pessoa forte, mas tinha sido o meu limite. Em tão poucas semanas consegui criar laços tão fortes com uma pessoa que nunca pensei conhecer.

- podes ir, obrigado. – nem reconheci a minha voz, estava fraca, fraca como o dono da mesma.

Bebi um gole daquele chá, era o meu preferido. Limao e mel.

- Chame se precisar. – ainda a consegui ouvir, mas sabia que ela já não estava ao meu lado, devido á ausência de calor.

Afirmei que sim com a cabeça continuando a bebericar o meu chá. Mas que raio foi aquele pesadelo? Nunca tinha sonhado com tal antes. As lágrimas não paravam, era dificl controlar-me, e eu odiava aperder o controlo.

Será que aquele pesadelo foi um aviso..? Katherine, ela entrava, ela era uma das sombras, ela estava morta. Não, ela não vai morrer, eu sei que não.

Levantei-me, e agarrei no meu iPhone em cima da mesa. Três chamadas perdidas, e duas mensagens.

Harry onde andas?”

“ Eu não acredito que te foste embora do meu casamento!”

Gemma.

Merda, eu abandonei o casamento da minha irmã. Num movimento rápido atirei o meu telemóvel contra a parede mais próxima, vendo o mesmo a partir-se em bocados á minha frente.

Caminhei em passos rápidos até á sala. Olhei á minha volta, focando o meu olhar finalmente no piano de cauda preto. Sentei-me no banco do mesmo, lembrando-me que a ultima vez que aqui tivera sentado, estava com ela. Ela.

A melodia que era produzida pelo piano era triste, triste como o meu estado espírito. O meu olhar focava-se de vez em quando na janela á minha frente, eram apenas três da manhã, as luzes da rua perfuravam a luz da sala, iluminando assim o piano. Não era o piano que precisava de uma luz, era eu. Eu precisava.

As luzes tornaram-se mais intensas. Uma luz vermelha era reflectida pelo espelho da sala, tive coragem de olhar para ele. Algo preto estava nele. O meu coração batia mais rápido, os meus dedos pisavam as teclas mais rápidas, a minha mente estava a mil, tudo começava a rodar, a roda, e a rodar. Olhei para os meus dedos, as teclas começavam a “atacá-los”. Removi-os das teclas bancas e pretas, fazendo assim com que o piano produzi-se um som de desafino.

Passei os meus dedos pela minha testa, já com uma pequena camada de suor criada na mesma. Eu estava a endoidecer sem ela.

O piano começou a ser puxado, gritei alto sentindo os meus pés a irem pelo mesmo caminho. A sala transformou-se num enorme buraco preto,, as coisas eram engolidas pelo mesmo, o piano era o seguinte. Sai do banco do piano numa correria, encostando-me á parede de vidro da sala. Olhei para um lado e para o outro, ninguém estava cá. Eu estava sozinho, como sempre estive. Corri até á cozinha, as uma mão agarrou-me a perna puxando-me, eu gritei bem alto, dando pontapés em tudo o que se encontrava á minha frente. A minha mão agarrou em algo, sem dar por nada já sentia uma picada de ardor na minha barriga, deixei o objecto pontiagudo cair no chão, deixando-me ir misturado com os meus demónios. Acabando por me voltar a juntar á coisa que mais temia, a escuridão.

Abri os meus olhos. A sala onde estava era branca  e inundada por um som repitivio “bip, bip, bip”. Olhei para o lado, reparando no monte de fios ligados á minha pele através de uma maquina.  Puxei-os, não me conseguia mover. Os meus olhos estavam dormentes de tanto chorar, após anos de pesadelos e visões porque teve de voltar tudo ao que era? Estava tudo bem até ela aparecer.

Desde a minha separação com a outra os pesadelos pararam, e agora.. eu e Katherine. Graças a isso eles voltaram.

Uma enfermeira apareceu no quarto, pintado de branco. Olhei para ela, e ela sorriu-me amavelmente dando-me um copo de agua e vários comprimidos. Perguntou-me como estava, como me sentia, se sabia onde estava.  Felizmente desligou-me os fios, e desejou-me as melhoras. Em cima de uma cadeira encontravam-se roupas lavadas, e uma rosa vermelha.

Agarrei na rosa, e levei-a até ao nariz cheirando-a. Eu conhecia aquele cheiro, aquele perfume. Katherine, ela tinha cá estado.

Limpei os meus olhos, que já recebiam ameaças de lágrimas. Levantei-me daquela cama, e vesti a minha t-shirt, e as calças de fato de treino que se encontravam dentro do saco.  Tomei os analgésimos, e sentei-me no parapeito da janela. Puxei os meus joelhos, encostando as minhas costas na parede, olhando a movimentação do outro lado da rua.

A porta voltou-se a abrir, mostrando Jonh, o meu psiquiatra com o seu sorriso habitual. Puxou uma cadeira ao meu encontro juntamente com o seu típico bloco de notas.

- Harry, o que raio se passa na tua cabeça? – ele começou, continuando com o seu olhar no meu rosto.

- não sei. – disse simplesmente, encolhendo os meus ombros. – porque estou aqui? – voltei a olhar para ele.

- Harry tu entraste numa fase complicada da tua vida.. – ele começou, fazendo-me franzir as sobrancelhas numa expressão confusa. Ele suspirou, mas logo continuo. – tu estás com uma depressão. Tens noção de que tentaste matar ?

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