ENTRELINHAS

n o v e

Chloe

- Chloe! — Zoe grita meu nome de repente me assustando.

- Caramba, Zoe, que susto. Não se faz isso. — Digo com a mão no peito. Se eu não estivesse sentada na minha cama, com certeza teria dado um pulo.

Eu e Zoe viemos para casa depois das aulas, como fazemos toda sexta-feira. Ou eu vou para a casa dela ou ela vem pra minha e estudamos um pouco e conversamos sobre assuntos aleatórios, até ter hora suficiente pra cada uma ir para a sua casa.

- Baby, espero que você tenha um roupa maravilhosa separada no seu armário porque você vai precisar.

- Como assim?

- Uma das meninas do grupo das líderes de torcida me convidou para uma festa que vai ter na casa de um dos meninos do time, e você vai comigo. — Diz ela empolgada.

- Nada disso. Você sabe que não curto muito festas, e como você mesma disse, ela convidou você, não eu.

- Chloe, meu amorzinho, você não percebeu até agora, durante 8 anos de amizade que onde eu vou você vai, e vice versa?

- Zoe... — Faço manha — Eu não tô afim. Você pode ir com as meninas que te chamaram, eu deixo.

Ela solta uma gargalhada.

- Você deixa? É assim que funciona agora? — Diz ela debochada com os braços cruzados e comprimindo os lábios tentando não sorrir.

- Sim. Eu deixo.

- Bom, pois eu não ligo, você vai comigo.

- Zoe...

- Está decidido. Você precisa socializar mais, Chloe. Você só me tem de amiga e a última festa que você foi, que eu me lembre foi a do cachorro da dona Adelaide quando a gente tinha 10 anos.

Eu rio.

Penso um pouco e realmente, a última festa que eu fui não era bem uma festa, e também sei que Zoe quando põe algo na cabeça, é difícil de tirar.

- Tudo bem, tudo bem. Se é tão importan...

- ISSO! Sabia que você ia aceitar. — Me interrompe com um abraço de urso.

- Ok, já aceitei, agora pode me soltar.

- Tomara que você encontre um cara muito gato pra tirar esse mau humor de você.

Reviro os olhos.

Eu nunca tinha passado de uns bons amassos  com garotos, mas nunca passei disso. Zoe é a única que sabe que eu ainda sou virgem, além dos meus pais. Ela diz que eu preciso disso para dar uma animada na minha vida mais parada que cobra quando engole um boi.

- E sobre a roupa, — continua ela — eu escolho. Bem capaz de você ir de calça jeans e blusão. Você tem um corpo lindo, Chloe, mas se esconde com roupas... — Ela busca a melhor expressão — que não te valorizam.

- Mas é porque eu não olho muito pra beleza, e sim conforto, e você sabe disso.

- Sei, e também acho que você não deveria usar as mesmas roupas que usa pra comprar pão, para ir em festas.

- Ok, Zoe. Você tem razão.

- Eu sempre tenho. — Diz convencida.

- Bom, só não escolhe algo muito curto nem muito chamativo.

- Você está brincando comigo né? Aqui no seu armário não tem nada apropriado para a ocasião. Vou te emprestar um vestido meu que vai ficar lindo em você.

Acabo concordado e logo nós voltamos para assuntos aleatórios até chegar a hora de Zoe ir para a sua casa e eu ir para a cama. Mas não antes de pensar naquele garoto-bagunçador-de-pensamentos.

O vi poucas vezes durante a semana, mas sempre que nos esbarrávamos nos corredores ou em alguma aula, ele olhava pra mim por tempo demais. Ou era eu que não reparava no tempo quando olhava pra ele?

Balanço a cabeça para espantar esses pensamentos e fecho os olhos para finalmente dormir, depois de uma semana cheia.