Chuva de Sexta-Feira.

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Eu fiquei revivendo mentalmente aquele momento pensando as diferentes formas que eu poderia ter feito: "E se eu tivesse chego por frente?", " E se eu só tivesse feito uma piada?", "E se..." e isso se repetia várias e várias vezes até que eu adormeci na cama. Durante a noite minha janela se abriu com força e isso fez um estrondo que me acordou assustado, olhei diretamente para a janela e percebi que a chuva acabava de molhar minha mala do colegio; fechei a janela e a tranquei, não me questionei sobre isso, voltei a dormir.

O Som do despertador toca e eu me dou conta que teremos tudo de novo, me dirijo ao banheiro e escovo os dentes, me olho no espelho e lembro do olhar daquela garota mais uma vez, não sei descrever, mas aquele olhar me incomodava de alguma forma... Era sexta-feira e a chuva dava uma trégua, me encontrei com o Simon e contei o que havia acontecido, ele riu disse:

- Vai ver que ela ficou triste com a morte do Don.

- Ah, claro. Com certeza. - Respondi de forma sarcástica.

- Cara... Acho que agora é oficial, minha mãe e o meu padrasto vão se separar.

- Sério? E como você tá com essa situação?

- Sei lá...

O pai de Simon era um Sheriff da região, morreu em serviço em uma troca de tiro quando ele tinha uns cinco anos. A mãe se casou com um motoqueiro e o Simon nunca gostou dele.

- Bom tua mãe vai precisar de você agora. Sabe disso né? - Falei pra ele sem se posicionar sobre o caso.

- É... Sei...

- "Um homem que não se dedica a sua família jamais será um homem de verdade" o próprio Don Corleone falou isso.

- Cara, você é mais familia pra mim do que minha própria mãe. - Simon disse olhando para mim.

- Pode contar comigo, posso te dizer o mesmo. - Respondi a ele com um leve sorriso no rosto.

Se cumprimentamos novamente e se separamos no colégio. Aparentemente nesse momento eu já tinha me habituado com a rotina e as horas pareciam demorar menos pra passar,  mas nessa sexta- feira se tornou um inferno a partir da terceira aula.

Eu me acordei com o sinal do intervalo tocando, como se fosse em uma sirene de ataque aéreo do eixo em uma cidade, mas rapidamente me recordei estar na sala; caminhei para o refeitório e tinha uma massa estranha de coloração duvidosa e por motivos de fome eu me servi e fui me sentar com Simon. Me lembro claramente de ficar sobrando na mesa... Simon falava com algumas meninas em quanto eu olhava pra todas as pessoas tendo suas vidas normais pra variar.

Coisas estranhas acontecem no ensino médio, algumas pessoas fazem só pra chamar atenção, mas no meio daquele tumulto de falas atravessadas alguém começa a tossir com muita força... Vejo um cara de calça jeans e jaqueta do time cair de joelhos no corredor... O silêncio cria um vácuo que parece fazer a tosse ficar ainda mais alta... Todos olham, era o babaca do Steve, mesmo de longe eu conseguia notar um grande volume de sangue sair de sua boca a cada tossida, ele olhou de um lado pro outro e caiu de cara em seu próprio sangue MORTO... Eu tentei me aproximar mas foram tantas pessoas que se juntaram ao redor dele que mal pude ver... Alguns professores chegam e dão ordens pra dispersar nos direcionando para as salas... No caminho não se ouvia outros múrmuros se não do que acabara de acontecer.

No caminho de volta para a casa eu fiquei pensativo sobre o que aconteceu lá, mesmo ele sendo um valentão, um  babaca, um primata, um acéfalo, um... Acho que vocês entenderam o que eu quis dizer... Enfim o cara era uma má pessoa e ele teve o que mereceu!(O quê? Achou que eu ia vitimizar de "Ah ele não mereceu", algum de vocês já foi enfiado em uma lixeira?) mas foi meio brutal aquela cena...  Eu cheguei em casa e me joguei na cama, tinha um trabalho de química pra fazer mas eu não tinha cabeça para isso. Com tudo que acontecia eu não queria pensar em mais nada e fui dormir.  Começo a imaginar que eu não merecia mais uma noite de sono tranquila... Acordo com algumas batidinhas na janela, observo por alguns segundos, percebo que se tratam de pequenas pedrinhas sendo arremessadas e me dirijo até ela.

- Angie! - Fala Simon no meio do meu quintal ÁS DUAS DA MADRUGADA.

- Simo-...? O que você quer?

- Desce aqui, eu preciso de você pra uma coisa!

- São duas d-... Tá, só colocar uma roupa.  - Desisti de questionar, só me vesti e sai.


* * *


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