Capítulo 2

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Olhei pra trás, pra ver se era realmente para mim, que a moça me olhava fixamente.

— Eu? - Perguntei baixinho, saindo para ela como uma leitura labial.

Balançou sua cabeça, afirmando que sim, e pediu pra eu se aproximar dela, para pegar a rosa... Fui tremendo toda, e ao chegar para pegar a rosa, deu um sorriso sedutor com aqueles lábios avermelhados de um tom vivo, eu parecia uma criança vendo a luz do dia pela primeira vez.

— Obrigada... Cigana. - Eu burra, agradeci por ter ganhado uma rosa, estou louca, ou, essa mulher que me deixou sem jeito? E a cigana era muito cheirosa, mais do que a rosa.

Nisso jogou sua saia rodada num vulto, eu estando ali ainda próxima, e rodava inúmeras vezes, sorridente, confiante com a beleza de sua dança, de seu sorriso, se ela é atriz... Está atuando muito bem, pois, parece de verdade uma cigana.

— Senhor, essa atriz... É cigana mesmo? - Outra pergunta estúpida minha, sempre faço, mas nem ligo.

— Sim, ela é... E nasceu na Itália, Siena, porém, seus pais eram ciganos... Da Espanha, a mãe dela foi uma das melhores dançarinas de Flamenco e seu pai era um excelente dançarino também.

— Por que saíram da Espanha?

— São ciganos, criança... Nômades, gostam sempre de se aventurar por outras terras, e essa beleza italiana aí, herdou esse espírito cigano dos pais, que morreram infelizmente.

Enquanto conversávamos, Dasha não tirava os olhos da nossa mesa, ao mesmo tempo que olhava os demais, deixava seus olhos mais firmes na minha mesa, que mistério, o que ela quer de mim?

— Parece que Dasha... Gostou de você. - Deu um sorrisinho de lado.

— Como sabe? - Perguntei, olhando-a encantada com sua energia vibrante.

— Ela só costuma dar a rosa para as pessoas que depois quer conhecer. - Quando ele disse isso, minha pele se arrepiou, até bebi a tequila de uma vez.

— Eita! Me conhecer? Mas... - Acabei desistindo de dizer quaisquer palavras e sorri ansiosa, para conhecê-la.

— Deixe-me pagar a outra bebida para você... Gostei da sua simpatia, como devo te chamar? - Percebia que ele realmente quis ser gentil, e não por ter segundas intenções.

— Greta... Senhor, pode me chamar de Greta. - Não conseguia tirar os olhos do palco.

— Essa mulher tira atenção de qualquer pessoa... Por causa dela, estou separado... E hoje sou um aventureiro também, mesmo tendo a idade que tenho. Mas calma, não temos nada, é como uma filha ela. - Riu zombando, achando que eu estava realmente com certo interesse na sua jóia rara italiana.

Fiquei aliviada e também admirada, e era de se imaginar que essa mulher tinha poder imenso de sedução nas pessoas, mas, na questão de saber como agradá-las.

Estava pensando, estando um pouco afastada da mesa e quando penso que não poderia melhorar, a apresentação dela acaba, com ela suada... Agradecendo o público reverenciando-os, e eles quase beijando seus pés, por sua divina apresentação, seu olhar penetrante foi de encontro ao meu, e fico paralisada ali, tendo uma leve fisgada lá no dedinho do pé que foi até a coluna.

Depois dessa encarada perigosa dela, me retirei fui parar no balcão, pedir mais bebida.

— Gostou Paulo? - Abraçou o senhor, feliz, que dava pra sentir sua energia da onde eu me encontrava, atraindo um monte ao seu redor, para parabenizá-la.

— Estava divina como sempre, minha princesa! - Pegou-a no colo e rodopiou feliz, e beijando-a no rosto.

Eu a vi sussurrar no ouvido dele, e depois vi seu olhar procurar alguém ao redor, resolvi ir embora dali, deixei o dinheiro da dose de tequila no balcão mesmo, e a rosa também deixei ali.

Para minha sorte, começou a chover, mas, não temi a chuva, não sou feita de açúcar... E encarei-a assim mesmo, deixando-a fazer parte de mim, consumindo minhas roupas com suas gotas grossas, ia tranquilamente caminhando, quando resolvo olhar pra trás, e vejo uma sombra na porta do barzinho, aparentemente de uma mulher... Apertei mais os olhos, e forcei a visão, era a Dasha, será que estava mesmo a me procurar? Por que eu? Fiquei parada onde eu estava, que não era muito distante do barzinho elegante que frequentei apenas pra uma tequila e ver uma bela moça cigana de verdade dançar divinamente. Estava já toda molhada da chuva, e percebi que ela me notou e quando notou veio caminhando lentamente até mim na chuva, parecendo também não se importar muito.

— Oi... - Chegou um pouco já consumida pela chuva, para me dizer apenas um "oi".

— Olá... Você dança muito bem. - Começo a gaguejar com seu olhar quase me devorando.

— Não vim aqui para ouvir seus elogios... Vim para te dar isso que esqueceu lá. - Era a rosa que deixei no balcão, só podia estar de sacanagem comigo. — Estarei no teatro do centro amanhã a noite, venha me ver novamente.

Se aproximou e me deu um beijo no rosto, queria muito que seus lábios escorregasse mais para baixo e pousasse na minha boca. E que voz suave, com um sotaque delicioso exalava, me tremi toda.

Amor ciganoOnde histórias criam vida. Descubra agora